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quarta-feira, 11 de junho de 2014

Testemunhos do Vovô Zé - Copa do Mundo, Álbum de Figurinhas e Troca-Troca


Davi e Miguel no Troca-Troca
(A família que troca figurinha unida, permanece unida)


Por Zé Carlos

Faz algum tempo que não me travisto de Vovô Zé. Já estava com saudades dele. E não foi por falta de histórias do Davi e do Miguel. Talvez o excesso delas é que me tenha mantido feito um asno entre dois arbustos, para tomar uma decisão de qual comer primeiro. Para não morrer de fome, escolhi, para este texto, o tema que mais marcou este último mês, para todos os brasileiros, e para minha família em particular: A Copa do Mundo.

Pelo gosto do Davi pelo futebol (que agora Miguel também já segue), sempre estamos envolvidos com o velho esporte que era inglês e foi reinventado pelos brasileiros. E neste ano de Copa, e ainda por cima aqui no Brasil, não poderia ser diferente. Não dá para parar de pensar em meus tempos de menino, lá em Bom Conselho, lá pelo ano de 1958, quando descobri que o futebol existia, e os gringos descobriram que o Brasil existia. Apenas faço ressonância às palavras do Nelson Rodrigues de que foi em 1958 que o Brasil foi descoberto pelos europeus. “Eles bailaram lá na Europa e a Copa veio prá cá...”, dizia uma canção da época, enquanto eu queria ser ponta-direita no time, camisa 7, e ser chamado de Garrincha.

Não é possível nem comparar aquela minha primeira Copa com a primeira do Davi e do Miguel. Primeiro porque vivíamos o Brasil do “Rádio” e hoje vivemos o Brasil da “Internet”, e quase já passamos pelo Brasil da “Televisão”. Segundo porque o futebol parece que murchou em termos de espetáculo para dar lugar a um espetáculo não ligado ao esporte que os brasileiros praticavam naquela época. Digo praticavam, porque já não considero os jogadores brasileiros muito brasileiros. Seria Neymar brasileiro ou Espanhol? Meus netos, tenho certeza, têm  dúvidas.

Mas, deixemos este papo de adulto e voltemos à infância dos meus netos e também a de Vovô Zé. Descobri que quando nos tornamos avô, a cada ano, os anos passam ao contrário, como se fosse num galope bem rápido. Cada ano vale 10, e correm para traz. Hoje tenho uns 15 anos, ou menos. E seria impossível dizer o contrário, inclusive também para a Vovó Marli, quando vemos nossas fotos nos troca-trocas de um álbum de figurinhas da Copa. Quando eu me dirijo a um garoto de 5 anos e pergunto:

- Você tem figurinhas para trocar?

Eu sinto-me com a mesma idade dele e a Vovó Marli muito mais jovem. Já somos conhecidos nas praças de troca-troca, tanto de Caruaru com nas de Recife. Eu e a Vovó Marli, de lista de duplicatas na mão, ficamos com a mesma idade de Davi e Miguel.

Em Caruaru, não vamos sozinhos. Vamos todos juntos: Avós, filhos, e netos, todos na mesma emoção: completar o álbum da Copa. No início, o pai de Davi pegava aqueles montes de figurinhas que eram duplicatas de outro, quem sabe, avô (não há muito distinção porque é tudo da mesma idade) e tinha um trabalho danada para conferir junto com uma lista quais a que o álbum do Davi já possuía e as que não. Isto até descobrir que o Davi sabe de cor o que ele tem e não tem no álbum. Eu mesmo duvidei que isto pudesse ser verdade porque ele já tem mais de 500 figurinhas nele. Aliás, inicialmente ninguém acreditava. Fui, como um idiota São Tomé, ver para crer. E vi, o Davi cercado de pessoas pegar um maço de 100 ou 200 figurinhas, seu pai ir passando e ele dizendo:

- Tenho, tenho, tenho, tenho, tenho, tenho, não tenho....

Neste ponto, ainda cético da capacidade da memória do meu neto, pedia para parar e ia conferir no álbum: Batata, o álbum não tinha. E assim foram repetidas vezes ao ponto de hoje não precisarmos mais das listas. A alegria do Vovô Zé fica incontida, ao ponto de querer chamar o Davi “O menino que sabia demais”, lembrando de um filme que assisti lá no Cine Rex quando tinha quase a mesma idade que tenho hoje, 12 anos.

E o Miguel, ainda com menos de 3 anos, já participa da brincadeira, embora não tenha ainda a expertise do irmão. Não sei quem ensinou a ele o que ele demonstrou ao olhar o álbum e ouvir o Davi dizer:

- Este é Buffon, goleiro da Itália!

Ao que Miguel retrucou:

- Davi, não é o Buffon, é o Peidon!

Há alguém que fique sério com este comentário? E a diversão continua quando ele se sentindo também o centro das atenções pergunta para Vovó Marli:

- Eu sou uma “figuraça”, não é Vovó?

É, meus netos são umas “figuraças”. E ainda não começou nem a Copa do mundo, na qual eles virão aqui para Recife, para daqui, assistirem aos jogos da Arena Pernambuco. Dizem até que vão levar o Vovô Zé a um jogo, coisa que eu não iria sozinho de jeito nenhum com medo da “mobilidade” urbana, este monstro que assusta a todos, e particularmente a pessoas como eu que não são boas no trânsito, e cujos neurônios já não comportam tantos grandes eventos. Mas..., “eu não vou, vão me levando, e deste jeito, com os netos tenho que ir”. E, só para concluir, por hoje, e acreditando na inteligência e vivacidade do Davi, na última vez que conversamos sério, foi para fazer uma tarefa da escola, onde havia um local para colocar a data. Quase que ia dizendo a ele porque achava difícil, na idade dele (e também na minha) ele saber a data correta. Mas, quando lá olhei estava lá a data: 31. Fui olhar no calendário e estava certíssima. Então perguntei:

- Davi, como é que tu sabes que é 31?

- Porque ontem foi 30, Vovô Zé!


Desta vez ele não me chamou de burro, mas, poderia ter feito. Afinal, temos a mesma idade.

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