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terça-feira, 10 de junho de 2014

PERDAS E GANHOS




Por Carlos Sena (*)

Sempre se escreve muito acerca de perder e ganhar. Mas, embora tanta tinta e papel utilizados, PERDER E GANHAR continuam sendo a dinâmica da vida por ela mesma. O próprio ato de viver é um ganho. Mas, na briga pela vida, milhões de espermatozoides perderam e apenas um saiu ganhando na fecundação. Infelizmente há quem só queira ganhar na vida e que, quando isso não acontece faz revertérios. Prefiro entender a vida pelos seus ensinamentos – às vezes caros, noutras vezes nem tanto e por outras, baratíssimos na forma, mas, caros no conteúdo. Explico: pagar caro pelo que é caro é o preço. O ruim é pagar caro pelo que não presta, mas nos foi “vendido” como se assim fosse. Os preços do que perdemos e do que ganhamos são variáveis. Se perdermos um carro, há um preço diferenciado, pois carro é lata. Se perdermos quem amamos então temos outro tipo de pagamento e de preço. Perder alguém que amamos porque a relação terminou é um preço e uma perda; perder alguém que amamos porque houve traição, outro, certamente mais dolorido; perder alguém que amamos porque esse alguém partiu para a eternidade, então teremos um preço exorbitante a ser pago e uma perda sem limite para sentirmos. Tudo isso mesmo sabendo que nada na vida é eterno e que a única coisa eterna da vida é a sua transitoriedade.

Perder pessoas, independente do tipo de perda será sempre doloroso e caro. Perder coisas, menos mal. As coisas por si sós se definem, nós nem sempre. A nossa definição na vida enquanto seres que pensamos, agimos e sentimos é outra. Talvez a solidão seja o grande elemento intervencionista que nos serve para dar o limite entre as PERDAS E GANHOS dos nossos dois mundos – o mundo de dentro e o mundo de fora. Porque as riquezas materiais da terra perderiam todo significado se no mundo não existisse uma só pessoa. Portanto, quem dá significação ao mundo de fora somos nós. Ao mundo de dentro são os outros (via nós) que se misturam conosco por dentro, qual um suco de frutas que você não consegue saber, quando bebe, quem é água e quem é fruta. O gosto da fruta domina – é como se fossemos nós, mas é a água quem dá a significação.

Perder, sob certos ângulos de visão, é ganhar – é  quando o menos vale mais ou quando não se perde, mas apenas se deixou de ganhar. Porque o verdadeiro ganho de estar vivo é a felicidade. Não aquela dos romances, nem aquela que o capitalismo apregoa via consumo, riqueza e bem estar e conforto. Talvez o mais difícil da vida seja a gente avaliar, no momento exato da “perda”, quando ela significa ganho. No geral, só o tempo nos ensinará acerca desse saldo positivo. Enquanto isso, viver intensamente e deixando os  outros viverem, talvez seja a melhor alternativa.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 30/04/2014

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