Por Carlos Sena (*)
Sempre se escreve muito acerca de
perder e ganhar. Mas, embora tanta tinta e papel utilizados, PERDER E GANHAR
continuam sendo a dinâmica da vida por ela mesma. O próprio ato de viver é um
ganho. Mas, na briga pela vida, milhões de espermatozoides perderam e apenas um
saiu ganhando na fecundação. Infelizmente há quem só queira ganhar na vida e
que, quando isso não acontece faz revertérios. Prefiro entender a vida pelos
seus ensinamentos – às vezes caros, noutras vezes nem tanto e por outras, baratíssimos
na forma, mas, caros no conteúdo. Explico: pagar caro pelo que é caro é o
preço. O ruim é pagar caro pelo que não presta, mas nos foi “vendido” como se
assim fosse. Os preços do que perdemos e do que ganhamos são variáveis. Se
perdermos um carro, há um preço diferenciado, pois carro é lata. Se perdermos
quem amamos então temos outro tipo de pagamento e de preço. Perder alguém que
amamos porque a relação terminou é um preço e uma perda; perder alguém que
amamos porque houve traição, outro, certamente mais dolorido; perder alguém que
amamos porque esse alguém partiu para a eternidade, então teremos um preço
exorbitante a ser pago e uma perda sem limite para sentirmos. Tudo isso mesmo
sabendo que nada na vida é eterno e que a única coisa eterna da vida é a sua
transitoriedade.
Perder pessoas, independente do
tipo de perda será sempre doloroso e caro. Perder coisas, menos mal. As coisas
por si sós se definem, nós nem sempre. A nossa definição na vida enquanto seres
que pensamos, agimos e sentimos é outra. Talvez a solidão seja o grande
elemento intervencionista que nos serve para dar o limite entre as PERDAS E
GANHOS dos nossos dois mundos – o mundo de dentro e o mundo de fora. Porque as
riquezas materiais da terra perderiam todo significado se no mundo não
existisse uma só pessoa. Portanto, quem dá significação ao mundo de fora somos
nós. Ao mundo de dentro são os outros (via nós) que se misturam conosco por
dentro, qual um suco de frutas que você não consegue saber, quando bebe, quem é
água e quem é fruta. O gosto da fruta domina – é como se fossemos nós, mas é a
água quem dá a significação.
Perder, sob certos ângulos de
visão, é ganhar – é quando o menos vale
mais ou quando não se perde, mas apenas se deixou de ganhar. Porque o
verdadeiro ganho de estar vivo é a felicidade. Não aquela dos romances, nem
aquela que o capitalismo apregoa via consumo, riqueza e bem estar e conforto.
Talvez o mais difícil da vida seja a gente avaliar, no momento exato da
“perda”, quando ela significa ganho. No geral, só o tempo nos ensinará acerca
desse saldo positivo. Enquanto isso, viver intensamente e deixando os outros viverem, talvez seja a melhor
alternativa.
---------------
(*) Publicado no Recanto de
Letras em 30/04/2014
Nenhum comentário:
Postar um comentário