Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho
A Dona Lobelina, a Belinha carinhosamente chamada pela
vizinhança, era uma mulher pobre morando na casinha no final da Rua da Areia.
Na pequena sala na parede o quadro de Coração de Jesus e o Coração de Maria. Ao
lado num pedestal a imagem do Padre Cicero e no outro o retrato de Santa
Terezinha do Menino Jesus e o dos anjos Gabriel e Miguel. Frequentava a igreja
Santa Terezinha, onde ouvia a pregação do Padre nas missas do Domingo. Era do Apostolado da Oração, se orgulhava de
usar a fita vermelha. Vivia de lavar roupas das pessoas mais chiques da cidade.
Todo o dia entregava as roupas limpinhas e engomadas. Seu marido Seu Júlio,
também conhecido como Seu Julinho, era carpinteiro num pequeno vão por trás de
casa, onde fazia cadeiras, camas, mesas, porta chapéu, tambores e dava
assistência a aqueles que o chamava, para qualquer conserto. Tinha dois filhos
menores. Miguel e Gabriel. Meninos sadios e fortes. Frequentava a Escola
Municipal, todos os dias à tarde. Tomavam banho logo cedo, almoçava e com uma
sacola com um pão de doce iam pela calçada. Miguel, o mais magrinho adoeceu. A
tosse braba fazia o menino ficar sem folego. A febre a tarde vinha com
frequência. Os pais aperreados levavam para o medico. Como não tinha dinheiro,
iam para o Hospital Dom Moura, onde todos os pacientes diziam em uma só voz
“Dom Morra”, pois o atendimento era péssimo e saião com o mesmo problema. Assim
acontecia, por varias consulta, com o Doutor. Miguel cada dia ficava mais fraco
mesmo com o remédio passado pelo doutor a tosse e a febre continuavam. Já não
sabiam o que fazer, pois o único lugar que poderiam ir era o Hospital Dom
Moura. Na boca da noite a vizinha Dona Sofia, chegou e encontrou o menino deitado
num sofá já usado se debatendo em febre e uma tosse continua. -Comadre leve
este menino para um medico particular! Muié como é que eu vou fazer se não
tenho dinheiro para este luxo. Olhe muié, se não cuidar teu filho vai morrer.
Este dizer estremeceu dona Belinha. Falou com o seu marido e disse que ia saber
o valor da consulta. Saiu em seguida. Voltou já com o valor que estava fora de
suas posses mais que daria um jeito para pagar com duas ou três lavagens de
roupa. Assim fez. O menino amanheceu todo quebrado devido à tosse durante a
noite. Olhos piongos. O frio era forte. A chuva e a garoa fininha fazia com que
eles pensassem como sair de casa. Não tinha ônibus e nem dinheiro para pagar a
corrida. Mas diz um ditado – quem não tem cão caça com gato - e saíram. Foram a
consultório, do medico na Avenida Santo Antônio. Subiram a escadaria de madeira
e no primeiro andar encontraram alguns pacientes, bem vestidos com casacos
contra o frio. Ela, com um chalé vermelho e uma blusa azul e um gorro branco na
cabeça divergia com os demais pacientes que olharam para ela com desdém. Não se
incomodou. Sentou-se com Miguel em uma cadeira de palinha, encostando a
sobrinha na parede. Esperaram mais ou menos uns quarenta minutos para ser
atendida. A moça chamou – Dona Lobelina, pode entrar no consultório dois. O
doutor lá estava em pé na porta sorrindo. Bom Dia dona Lobelina. O que a traz
aqui? Sente-se aqui, puxando uma cadeira antes de sentar-se a sua frente.
Sorridente foi colocando o óculo enquanto perguntava novamente o que se fazia
presente ali. Comentou sobre o frio. Ofereceu um cafezinho. E ao menino
encolhido junto à mãe mostrando-lhe um quadro na parede com uns gatinhos. Dona
Belinha, disse - é o meu filho que vem há dias com uma tosse danada. O doutor
olhou para o menino encorujado dentro de um capote velho e, disse – venha meu
filho para eu lhe auscultar. O menino levantou-se desconfiado, sentou-se na
cama coberta com um lençol branco enquanto o medico dizia gracinha pra ele.
Abra a boca! Faça hahahaha, com uma paleta segurando a língua, fazendo que o
Miguel tossisse. Deite, mandou. Apertou a barriga, auscultou os pulmões, olhou
os olhos e disse a mãe, este menino esta com inicio de pneumonia. Sentado já
passando a receita, disse olhando para ela, e o doutor do hospital não viu isto
não? Quem foi este doutor? É falta de responsabilidade no atendimento deste
doutor. Quem foi este doutor, perguntou mais uma vez. A mulher olhou para ele
séria e disse – foi o senhor...
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