Em manutenção!!!

sábado, 26 de outubro de 2013

Testemunhos do Vovô Zé - O Dia da Criança


Davi e Miguel


Por Zé Carlos

O dia em que escrevo é o Dia do Professor. Um dia, muito tempo atrás, fui um deles. Hoje o sou nas lembranças. Por que então não escrevo sobre os professores que hoje protestam tanto e muitas vezes com razão e umas tantas sem ela? Simples. Quando me travisto de Vovô Zé, só tenho dois leitores, meus netos, e ainda, no futuro.

O Davi, o mais velho, com seus quatro aninhos e pouco, já está quase juntando as letras, coisas que eu só fiz aos seis anos e pouco. Breve terei leitores para esta coluna. Mas, ainda ficarei esperando o Miguel. Espero viver para ouvir deles, de suas próprias vozes, de forma educada e carinhosa, para me agradar:

- Vovô Zé, gostei do que você escreveu sobre nós!

Entretanto, dia de professor aposentado é todo dia para mim. Hoje escrevo sobre o Dia da Criança, no qual fui ter com eles, em seu reduto, lá no interior. Nem preciso mais dizer que a farra foi geral, porque foi, e bastaria dizer só isto para eles concordarem comigo no futuro. E eu ainda tento escrever um pouco mais.

Eles têm que saber, no futuro, que vivemos uma época em que sabemos a hora que saímos mas não sabemos a hora em que iremos chegar. Desde o trânsito do Recife, o sacrifício para sair da cidade, como seus engarrafamentos monumentais, até o quase congestionamento da BR-432, que já poderia, tecnicamente, ser triplicada. E não só até à entrada para a Arena Pernambuco, mas até Caruaru, pelo menos. Ah, se houvesse um bom trem até lá! Quem sabe, quando os meus bisnetos me lerem, já exista um, além do trem do forró?

Todavia, lá chegamos, já contando com mais um engarrafamento para entrar em Caruaru, pelo caminho que faço sempre. Os avós geralmente usam o mesmo caminho pelo mal funcionamento dos neurônios. Não sei se é pela experiência ou pela idade mesmo e envelhecimento das sinapses neuronais que nos tornamos mais conservadores. E com o Vovô Zé, e com os caminhos, não é diferente.

E lá chegamos e privamos dos beijos e abraços para o qual vivemos hoje, eu e a Vovó Marli. E sempre ouvimos a pergunta, agora feita pelos dois:

- Trouxe presente?!

Mas, desta vez, diante da facilidade de comunicação, eles já sabiam o que estávamos levando para eles, como prometido muito tempo atrás, e a pergunta foi:

- Cadê minha raquete?!

Esta foi a promessa que fizemos a Davi, o mais propenso ao atletismo entre os netos, embora o Miguel já comece a dar os seus chutes na “cafusa” (bola da copa), e agora queira dar suas raquetadas, no tênis. E levamos duas raquetes para crianças com todas as devidas proporções. E ainda, já sabendo quem seria o parceiro principal, que seria eu, levei também raquetes maiores para o Dia da Criança ser também o Dia dos Avós. E não sei por que não é. Eu me diverti mais do que eles, como sempre acontece.

Fora as diversões propriamente ditas, o que me chamou atenção desta vez foi competição que já se forma entre eles em qualquer momento e por qualquer coisa. Com a raquete não foi diferente, e tivemos o cuidado de, ao comprar de diferentes tamanhos, explicar de antemão o porquê o fizemos. Tentamos explicar pela idade de cada um e porque as cores eram diferentes. E parece que tivemos sucesso na empreitada porque o Davi e o Miguel concordaram com as raquetes.

Mas, quando pensamos que tudo estava bem, o Miguel começa a chorar e a dizer:

- Eu quero aquela!

Então foi aquela explicação generalizada por pais e avós para explicar tudo outra vez. E não conseguíamos ter sucesso na empreitada. Miguel chorava e gritava:

- Eu quero aquela!

Não poderíamos fazer o que ele pedia porque as raquetes eram diferentes e de acordo com a idade. Até que descobrimos que o que ele queria não era trocar as raquetes, mas, trocar uma bola de tênis pela que estava com Davi, porque achava que elas eram diferentes. E não eram. Aí foi mais fácil convencer ao Davi a fazer a troca. Ou seja, a competição se dar até por coisas iguais e dadas em tempos diversos.

Para aqueles que acharam que Miguel, por ser o mais novo, seria o mais competitivo, houve outro episódio que prova o contrário, e também prova (talvez isto eles irão demorar mais para entender) que a competição está entranhada dentro da gente para o bem e para o mal. E neste caso o que há é o humor, de que eles rirão no futuro.

Algum tempo atrás o Miguel machucou o dedo e a unha ficou dolorida, roxa e depois caiu. Com o tempo nasceu uma nova. A mãe dele pegou sua mãozinha e disse:

- Eita, Miguel, tu ganhastes uma unha nova!

E Davi que estava por perto, falou choromingando:

- E eu não vou ganhar uma unha nova não, é?!


E assim caminha esta humanidade competitiva. E foi um bom Dia da Criança. Não posso dizer o mesmo do Dia do Professor, pois já estou com saudade deles outra vez, e pensando no próximo encontro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário