Enterro da Professora (Foto do O Argonauta) |
Por Zé Carlos
Os afazeres de um aposentado são muitos e até mesmo maiores
do que no tempo em que tinha um emprego formal e era guindado a sair de casa
todo o dia para, como se diz, ganhar o pão com o suor do rosto. Eu nunca suei
muito, pois mesmo que as salas de aulas fossem quentes nunca fui um professor
teatral, propenso ao suor. Fiquei pensando, porque depois de todas estas
obrigações ainda arranjamos tantas coisas para fazer. Descobri que era um pouco
de medo de não encontrar nada para fazer. Então eu exagero e muitas vezes não
posso cumprir o prometido a mim mesmo que era de escrever mais sobre minha
última viagem a Bom Conselho.
Na crônica anterior confessei que não sabia mais onde tinha
nascido. Agora vou dizer que custou a descobrir onde meus pais foram
enterrados.
Sempre que vou a Bom Conselho, antes mesmo de entrar na
cidade, depois de passar pelo arco da entrada, dobro a esquerda e vou visitar
meus pais no Cemitério de Santa Marta. É um hábito que permanece. Porém, desta
vez, para pegar as frutas mais tenras e saudáveis da feira, não fui direto à cidade de pés juntos. Só fui lá ao cair
da tarde. Já escurecia e já não víamos mais o sol entre uma sepultura e outra.
Perguntando a um senhor, na porta, se o cemitério ainda
estava aberto, ele me respondeu em sua linguagem, o que entendi como: “Caro que está. O estabelecimento é 24 horas!”
Não pensei em supermercados porque seria uma blasfêmia no momento. Entrei e me
dirigi ao túmulo de minha mãe que se encontra lá do mesmo jeito, e pelo
silêncio, ela dorme seu sono eterno sem reclamações e fiquei satisfeito.
Então fui ao túmulo do meu pai que é em outro lugar, pelas
diferenças de classe social entre eles que permaneceu na morte material, mas,
que não vigorou nem na vida material e espero que não funcione na vida
espiritual. Ainda espero um dia encontrar os dois juntos como sempre foram em
vida.
E ao procurar o túmulo do meu pai, entrei e saí em ruas
suntuosas, com jazigos grandes e bem ornamentados, mostrando o nosso progresso
arquitetônico e estilístico em termos de sepulturas, e não consegui encontrá-lo
pelo caminho que sempre fazia. Pela beleza e imponência dos túmulos eu pensei
logo, como vejo acontecer nas cidades, que o túmulo do meu pai havia sido
demolido para dar passagem ao progresso.
Já estava quase com esta ideia aceita quando surge entre os
túmulos o meu amigo Zé Basílio. Depois dos cumprimentos de praxe e ficar certo
de que não era uma alma do outro mundo, porque ele parecia ter o mesmo corpo de
60 anos atrás, eu reclamei de não ter encontrado o túmulo do meu pai, que foi
seu amigo e colega de trabalho durante anos. Ele então disse: “Se ele ainda estiver aqui eu o encontro”.
E comecei uma jornada, atrás do Zé Basílio, entre túmulos de
conhecidos e de desconhecidos, que traziam a minha mente uma história
definitiva da cidade. Afinal de contas, só lá podemos entrar para a História.
Depois de vários minutos houve o encontro do túmulo e mais
um encontro meu com o meu pai, enquanto Zé Basílio me olhava com um olhar de
quem diz: “Eu não disse que encontrava?”
E eu fiz, mentalmente, minha conversa com o meu pai, que hoje me vê
perfeitamente. É uma das vantagens de estar morto. Os defeitos físicos se
acabam e nos tornamos apenas seres humanos, em estado puro.
Ainda lhe perguntei se ele estava triste por o seu túmulo
ser simples em relação aos novos que agora existem. Na sua simplicidade ele me
respondeu: “Meu filho, aqui a lei é
outra!”. Quando pensei em perguntar a respeito da tal lei, ouvi minha mãe
chamar: “Carlos, o café tá na mesa!” “Já vou Flora!”. E saí com o peito cheio
de saudade, conversando com o Zé Basilio.
Oferecendo-lhe uma carona, prontamente aceita, o deixei
antes de dobrar para o Hotel Raízes, onde me hospedo, num ponto de onde vi uma
foto em um dos nossos blogs, que trazia uma multidão de pessoas para o enterro
de uma professora que foi assassinada por assaltantes.
Aproveito esta pequena crônica para lamentar o acontecido.
Uso esta foto, do Blog O Argonauta para ilustrar esta crônica (sem autorização
e esperando não ir cair para nas barras dos tribunais por isto). O que espero,
é que em minha próxima visita ao Santa Marta perguntar aos meus pais se
encontraram com a professora Alexandra Machado. O céu não é muito grande. E sei
que eles estão lá.
Desde já sinta-se autorizado para usar qualquer foto do nosso blog.
ResponderExcluirAbraço,
Emmanuel Leonel
Redator do Blogo O Argonauta.
pOLICIAIS TOTAAAAAAAALLLMENTE DESPREPARADOS AGORA QUEREM ARRUMAR DESCULPA ESFARRAPADA ME POLPE
ResponderExcluirnem a avenida interditaram era o povo passando e a bala comendo meu Deus nem sequer negociaram é muita falta de preparo
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