Por Carlos Sena (*)
O assunto MAIS MÉDICOS tá
rendendo mais do que mandioca mole. Isso é bom, mas é ruim ao mesmo tempo. Ruim
porque nos mostra quanto somos falsos moralistas até em questão de saúde.
Explico: há falta de médicos no país; há mais de 700 cidades sem médicos para
fazer um “chá” e, mesmo assim, há quem condene o governo por querer trazer
médicos de fora. Bom porque essa celeuma toda veio dar uma ducha de água fria
na panela fervente do mercantilismo da medicina no Brasil. Ruim porque os que
são contra tudo, logo se locupletam da ideia para tirar proveito eleitoreiro.
Bom porque todos que tinham dúvidas do caráter mercantilista da nossa medicina,
agora pensam duas vezes. Ruim porque a imprensa marrom que vive do caos tudo
investiga, sem muito sucesso, no sentido
de colocar podridão onde não existe. Bom porque diante das atitudes hostis de
alguns médicos brasileiros com seus colegas estrangeiros tem levado a população
a ficar a favor dos estrangeiros, especialmente dos cubanos. Ruim porque a
gente percebe quão poucas pessoas, de fato, tem um discurso coerente com suas
práticas e que, para defenderem posições politiqueiras, tudo fazem para
prejudicar um programa que leva médicos para aqueles que não os tem um por
perto. Bom porque a gente percebe que não são todos os médicos que estão contra
o Mais Médicos, pois diante das posições classistas radicais, se indignaram e
apoiaram o programa. Ruim porque demonstra quão nossa classe médica é
desprovida de solidariedade e amor ao próximo. Bom porque o bom debate se
instalou na sociedade brasileira e despertou a população para o caos que tem
sido o “mercado médico” que levou boa parte deles ao “quem pagar mais leva”.
Ruim porque a chafurdação em cima da mentira muitas vezes atrapalha o tramite
normal que leva a inserção dos médicos no interior do Brasil. Bom porque depois
do MAIS MÉDICOS os quase deuses terão que repensar suas práticas, inclusive
deixando de achar que só podem ser médicos os de “olhos claros”, apessoados,
ricos, morando em bairro nobre, etc. Deixando, inclusive, a ilusão de que
INTELIGENCIA só se tem quem cursar medicina. Certamente que uma coisa não está
atrelada a outra. Certamente que há muita gente boa, nobre até, inteligentes,
sendo médicos. Mas, há também gente negra inteligente, gente pobre inteligente,
gente simples inteligente, gente gente
inteligente. Há médicos que se parecem com empregadas domésticas e há
domésticas que conseguiram formar filhos médicos. Assim, entre o “Bom” e o
“Ruim” deste paralelo, há o melhor: o povo simples, pobre, por que não dizer,
que estão nos nossos cafundós dos Judas sofrendo, entregando tudo a Jesus, como
forma de sustentar suas esperanças. E que não se politize a questão e nem se
partidarize. Porque o Mais Médicos é um programa cidadão, não é um palanque
para politiquice barata.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 02/09/2013
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