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quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O PACTO




Por José Antônio Taveira Belo / Zetinho


Em Garanhuns conversando com uma senhora, já de idade, dona Chiquinha, contou-nos uma estória de arrepiar os cabelos. Muito faladeira, com muito gesto e sorridente, começou – Meu filho, o demônio tem poder. Ninguém pode invocar o seu nome que ele se alegra. Fica sobreaviso afim de que o chame e ele está pronto para atender. Somente Deus é que tem poder para ele e mais ninguém, nem mesmo os santos, que ao longo da sua vida aqui na terra foram tentados, mas superaram com muito sacrifício, se livrar do seu poder e entregar-se a Deus. “Nos Idos anos de 50 aqui em Garanhuns, na estreita Rua do Corrente, morava o seu Tertuliano, homem jovem e bonito. Era alto com cabelos escorridos, olhos castanhos claros e um sorriso de enlouquecer as moças da época. Perdeu o emprego. Ficou a deriva. Pois era casado e com duas filhas menores, Dalila de 08 anos e Julia de 07 anos. Vivia desesperado. Dinheiro nunca tinha. Vivia à custa de algumas pessoas e isto o desesperava. O trocado que tinha começou a gastar com bebidas. Todos os dias jogavam no bicho se ganhasse a sua vida melhoraria. Acreditava na sorte, mas ela estava distante dele. Assim o tempo ia passando e as dificuldades aumentando. Certo dia sentado, a noite, na única cadeira que restava em sua casa, fez um pacto com o demônio, se caso ganhasse no jogo de bicho ofereceria a ele as suas duas filhas. No outro dia se lembrou da promessa e levou aquela promessa em brincadeira. Mas certo dia o dinheiro que tinha no bolso para comprar o pão jogou todo no bicho, no milhar 2537. Sentou-se na Avenida Santo Antônio, e ficou a espera do resultado. Lá prá cinco e meia da tarde, foi conferir e tinha ganhado. Pulou de alegria. Recebeu o premio na presença de muitas pessoas e seguiu direto para casa. Reformou a casa, mobiliou, pagou as suas dividas e começou a viver bem, mas se esqueceu do pacto que fez com o demônio. Viviam alegre as meninas foram matriculadas no Colégio Santa Sofia e assim o tempo ia passando e os pesadelos da fase ruim da vida tinha passado. Certa noite, dormindo tranquilo ouviu gritos dilacerantes das meninas vizinhos ao seu quarto. Levantou-se às pressas com a mulher e encontraram em estado de choque, olhos esbugalhados, tremendo e aterrorizadas. E ai, me filho, começou a odisseia para esta família. Ouça o restante da estória. A partir deste instante, as meninas começaram a ter sobressaltos vendo figuras horríveis lhe atormentando. Nesta noite quando as meninas se acalmaram, disseram – papai e mamãe tem um bicho feio debaixo da cama, veja, apontando com o dedinho a luz do candeeiro. Os pais olharam para o lugar onde ela apontava, e nada via. Minhas filhas não tem nada não, vão dormir. Tem papai, tem papai! Acalmaram-se, mas não dormiram mais. No dia seguinte na hora de tomar café para ir para escola, foi outro sufoco – Mamãe o bicho feio cuspiu no meu leite, gritou as duas. O bicho feio lá esta sentado fazendo carreta para nós. Mamãe ele vem atrás de nós, quando estamos brincando. E assim a cada dia a coisa piorava. Levaram as crianças para o médico no Hospital Dom Mouro. Os médicos examinaram apenas dizia que podia ser “fastio” e passou um fortificante Biotônico Fontoura e Emulsão de Scott. Cada dia as meninas pioravam da saúde. Os pais já tinham gasto uma fortuna para curar a saúde das filhas, que até pouco tempo tinham uma saúde de ferro. A Dona Almerinda, foi se aconselhar com o padre da Paróquia de São Sebastião. Contou toda a historia, Tim-Tim por Tim-Tim desde noite que as meninas se assustaram com o bicho feio embaixo da cama até aquele momento que as meninas estavam desfiando a olhos vistos. O Padre não titubeou e foi até a residência na Rua do Corrente. Lá chegando às meninas ficaram com medo dele. Estava de batina preta, o breviário não mão e o terço na outra. Ao chegar perto das meninas elas se afastaram e se encolhendo junto à parede, no quarto de uma só cama. Neste momento, o padre pediu que as pessoas ali estivessem se ausentasse, pois, tinha muita gente ao redor da casa. O padre rezava e as meninas tremiam, olhavam com olhos esbugalhados, com sorriso frenético e o padre continuava a rezar e elas se sentavam, se ajoelhavam, assanhava os cabelos, cuspiam no chão. O padre se retirou prometendo voltar no outro dia. Os pais estavam cansados daquele tormento. Tinham solucionado o problema de dividas, mas, veio à doença das meninas, que não tinha cura e isto estava lhe atormentando. Sentado na poltrona da casa, noite, lhe veio um pensamento ruim e lembrou-se do Pacto que fez com o demônio para melhorar de vida. Apavorou-se. Levantou-se foi até o quarto acordou a mulher e contou tudo. A mulher sentada na beira da cama ouviu em silencio e disse – Tertuliano como você fez uma desgraça desta? Você sabe como o demônio é astuto? Ele veio cobrar a promessa que você fez com ele. Ele veio buscar as nossas filhas, pois promessa é promessa, principalmente com o demônio, que ele só quer o mal. E agora? O que devemos fazer? Precisamos contar esta estória ao Padre. As meninas não dormiam. Nas refeições cuspia no prato o bicho feio fazia-lhe não se alimentar. Viviam aterrorizadas no quarto. Não brincavam mais e as coisas iam piorando. Logo cedinho, os dois se dirigiram a igreja. A missa estava terminando e eles esperaram a benção final. Foram à sacristia e o padre os reconheceu. Depois de tirar os paramentos o padre convidou para tomar o café da manhã em sua casa. Ali chegando, sentando-se, passou a contar toda estória do marido, no pacto que fez com o demônio para enriquecer e ao mesmo tempo consagrando as suas filhas a ele e, ele ali estava cobrando fazendo que as meninas adoecessem e morresse para cumprir o pacto. O padre ouviu todo relato em silencio. Somente o papagaio era a testemunha do que ele ouvia. Às duas horas da tarde, o Padre Simão, entrava na casa, de batina, estola, breviário, terço, água benta e o crucifixo. Ao encontrar as crianças elas se encolheram e padre começou a rezar e elas começaram a se mexer, tremiam, soltava gritos, escondiam o rostinho em pano sujo de terra, levantavam-se iam de encontro ao padre que lhes mostrava o crucifixo e elas paravam. Assim foi a tarde inteira entrando pela noite adentro. As rezas continuavam. A agua benta espalhada pelo quarto e os pingos quando batiam nas meninas eram como se fosse brasas, gritavam e limpava com a boca espumante. De madrugada o padre Simão já não aguentava, estava exausto, mas devia continua, pois tinha que vencer aquela ação diabólica. Por volta das cinco horas da manhã as meninas começaram a se aquietar deitaram-se na cama e dormiram. O padre saiu do quarto deformado com o cansaço da noite em debate com o demônio que se apossava daquelas crianças. Sentou-se na sala, tirando a estola, e colocando o breviário na mesinha junto com terço. E começou aconselhar o casal, principalmente, com o Tertuliano admoestando sobre a falta de fé em Deus e colocando em risco a vida das filhas. As meninas passaram o dia dormindo serenamente. Acordaram já com outro aspecto e com o passar dos dias se recuperam. “Tertuliano vendeu tudo e deu o dinheiro aos pobres que precisavam e recomeçou a vida trabalhando agradecendo a Deus pelo milagre que lhe aconteceu de não ter perdido as suas filhas.” Viu como o demônio é poderoso? Ninguém pode brincar com o mal que o mal acontece. Seu Tertuliano está morando na mesma casa... (Os nomes citados neste breve artigo são fictícios)

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