Por José Antônio Taveira Belo /
Zetinho
Em Garanhuns conversando com uma
senhora, já de idade, dona Chiquinha, contou-nos uma estória de arrepiar os
cabelos. Muito faladeira, com muito gesto e sorridente, começou – Meu filho, o
demônio tem poder. Ninguém pode invocar o seu nome que ele se alegra. Fica
sobreaviso afim de que o chame e ele está pronto para atender. Somente Deus é
que tem poder para ele e mais ninguém, nem mesmo os santos, que ao longo da sua
vida aqui na terra foram tentados, mas superaram com muito sacrifício, se
livrar do seu poder e entregar-se a Deus. “Nos Idos anos de 50 aqui em Garanhuns, na
estreita Rua do Corrente, morava o seu Tertuliano, homem jovem e bonito. Era
alto com cabelos escorridos, olhos castanhos claros e um sorriso de enlouquecer
as moças da época. Perdeu o emprego. Ficou a deriva. Pois era casado e com duas
filhas menores, Dalila de 08 anos e Julia de 07 anos. Vivia desesperado.
Dinheiro nunca tinha. Vivia à custa de algumas pessoas e isto o desesperava. O
trocado que tinha começou a gastar com bebidas. Todos os dias jogavam no bicho
se ganhasse a sua vida melhoraria. Acreditava na sorte, mas ela estava distante
dele. Assim o tempo ia passando e as dificuldades aumentando. Certo dia
sentado, a noite, na única cadeira que restava em sua casa, fez um pacto com o
demônio, se caso ganhasse no jogo de bicho ofereceria a ele as suas duas
filhas. No outro dia se lembrou da promessa e levou aquela promessa em brincadeira.
Mas certo dia o dinheiro que tinha no bolso para comprar o pão jogou todo no
bicho, no milhar 2537. Sentou-se na Avenida Santo Antônio, e ficou a espera do
resultado. Lá prá cinco e meia da tarde, foi conferir e tinha ganhado. Pulou de
alegria. Recebeu o premio na presença de muitas pessoas e seguiu direto para
casa. Reformou a casa, mobiliou, pagou as suas dividas e começou a viver bem,
mas se esqueceu do pacto que fez com o demônio. Viviam alegre as meninas foram
matriculadas no Colégio Santa Sofia e assim o tempo ia passando e os pesadelos
da fase ruim da vida tinha passado. Certa noite, dormindo tranquilo ouviu
gritos dilacerantes das meninas vizinhos ao seu quarto. Levantou-se às pressas
com a mulher e encontraram em estado de choque, olhos esbugalhados, tremendo e
aterrorizadas. E ai, me filho, começou a odisseia para esta família.
Ouça o restante da estória. A partir deste instante, as meninas
começaram a ter sobressaltos vendo figuras horríveis lhe atormentando. Nesta
noite quando as meninas se acalmaram, disseram – papai e mamãe tem um bicho
feio debaixo da cama, veja, apontando com o dedinho a luz do candeeiro. Os pais
olharam para o lugar onde ela apontava, e nada via. Minhas filhas não tem nada
não, vão dormir. Tem papai, tem papai! Acalmaram-se, mas não dormiram mais. No
dia seguinte na hora de tomar café para ir para escola, foi outro sufoco –
Mamãe o bicho feio cuspiu no meu leite, gritou as duas. O bicho feio lá esta
sentado fazendo carreta para nós. Mamãe ele vem atrás de nós, quando estamos
brincando. E assim a cada dia a coisa piorava. Levaram as crianças para o
médico no Hospital Dom Mouro. Os médicos examinaram apenas dizia que podia ser
“fastio” e passou um fortificante Biotônico Fontoura e Emulsão de Scott. Cada
dia as meninas pioravam da saúde. Os pais já tinham gasto uma fortuna para
curar a saúde das filhas, que até pouco tempo tinham uma saúde de ferro. A Dona
Almerinda, foi se aconselhar com o padre da Paróquia de São Sebastião. Contou
toda a historia, Tim-Tim por Tim-Tim desde noite que as meninas se assustaram
com o bicho feio embaixo da cama até aquele momento que as meninas estavam
desfiando a olhos vistos. O Padre não titubeou e foi até a residência na Rua do
Corrente. Lá chegando às meninas ficaram com medo dele. Estava de batina preta,
o breviário não mão e o terço na outra. Ao chegar perto das meninas elas se
afastaram e se encolhendo junto à parede, no quarto de uma só cama. Neste
momento, o padre pediu que as pessoas ali estivessem se ausentasse, pois, tinha
muita gente ao redor da casa. O padre rezava e as meninas tremiam, olhavam com
olhos esbugalhados, com sorriso frenético e o padre continuava a rezar e elas
se sentavam, se ajoelhavam, assanhava os cabelos, cuspiam no chão. O padre se retirou
prometendo voltar no outro dia. Os pais estavam cansados daquele tormento.
Tinham solucionado o problema de dividas, mas, veio à doença das meninas, que
não tinha cura e isto estava lhe atormentando. Sentado na poltrona da casa,
noite, lhe veio um pensamento ruim e lembrou-se do Pacto que fez com o demônio
para melhorar de vida. Apavorou-se. Levantou-se foi até o quarto acordou a
mulher e contou tudo. A mulher sentada na beira da cama ouviu em silencio e
disse – Tertuliano como você fez uma desgraça desta? Você sabe como o demônio é
astuto? Ele veio cobrar a promessa que você fez com ele. Ele veio buscar as
nossas filhas, pois promessa é promessa, principalmente com o demônio, que ele só
quer o mal. E agora? O que devemos fazer? Precisamos contar esta estória ao
Padre. As meninas não dormiam. Nas refeições cuspia no prato o bicho feio
fazia-lhe não se alimentar. Viviam aterrorizadas no quarto. Não brincavam mais
e as coisas iam piorando. Logo cedinho, os dois se dirigiram a igreja. A missa
estava terminando e eles esperaram a benção final. Foram à sacristia e o padre
os reconheceu. Depois de tirar os paramentos o padre convidou para tomar o café
da manhã em sua casa. Ali chegando, sentando-se, passou a contar toda estória
do marido, no pacto que fez com o demônio para enriquecer e ao mesmo tempo
consagrando as suas filhas a ele e, ele ali estava cobrando fazendo que as
meninas adoecessem e morresse para cumprir o pacto. O padre ouviu todo relato
em silencio. Somente o papagaio era a testemunha do que ele ouvia. Às duas
horas da tarde, o Padre Simão, entrava na casa, de batina, estola, breviário,
terço, água benta e o crucifixo. Ao encontrar as crianças elas se encolheram e
padre começou a rezar e elas começaram a se mexer, tremiam, soltava gritos,
escondiam o rostinho em pano sujo de terra, levantavam-se iam de encontro ao
padre que lhes mostrava o crucifixo e elas paravam. Assim foi a tarde inteira
entrando pela noite adentro. As rezas continuavam. A agua benta espalhada pelo
quarto e os pingos quando batiam nas meninas eram como se fosse brasas,
gritavam e limpava com a boca espumante. De madrugada o padre Simão já não
aguentava, estava exausto, mas devia continua, pois tinha que vencer aquela
ação diabólica. Por volta das cinco horas da manhã as meninas começaram a se
aquietar deitaram-se na cama e dormiram. O padre saiu do quarto deformado com o
cansaço da noite em debate com o demônio que se apossava daquelas crianças.
Sentou-se na sala, tirando a estola, e colocando o breviário na mesinha junto
com terço. E começou aconselhar o casal, principalmente, com o Tertuliano
admoestando sobre a falta de fé em Deus e colocando em risco a vida das filhas.
As meninas passaram o dia dormindo serenamente. Acordaram já com outro aspecto
e com o passar dos dias se recuperam. “Tertuliano vendeu tudo e deu o
dinheiro aos pobres que precisavam e recomeçou a vida trabalhando agradecendo a
Deus pelo milagre que lhe aconteceu de não ter perdido as suas filhas.” Viu
como o demônio é poderoso? Ninguém pode brincar com o mal que o mal acontece.
Seu Tertuliano está morando na mesma casa... (Os nomes citados neste breve artigo
são fictícios)
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