Por Carlos Sena (*)
7 de setembro dos anos idos.
Angustia boa, tensão boa, esmero. Torcida do São Geraldo. Torcida do Colégio.
Ainda não havia o Estadual, mas isso era de somenos importância, pois havia o
Colégio das Freiras e o Ginásio São Geraldo e, assim, o que mais importaria no
dia sete se só eles, apenas eles, enchiam as ruas de glamour?
O mês de agosto por gosto se
poderia ver. Era o mês inteiro de ensaios, de rumores acerca do que um ou outro
colégio iria apresentar no dia sete. No São Geraldo, que era a minha “catedral”
tudo girava em torno daquele dia e do que ele significava para os alunos e
professores. Quase que a gente não
estudava, principalmente nós que tocávamos na banda marcial. Ensaios, ensaios,
ensaios mil a qualquer hora do dia ou da noite. Houve noites que a gente
ensaiou a partir de meia noite. Era para que o Colégio das Freiras não ouvisse
nossos novos acordes, dobrados, paradinhas feitas com o tarol e os pratos ou
mesmo com as cornetas meio desafinadas.
Aloisio! Como era dedicado aos
ensaios e às marchas dos alunos perfilados em pelotões. Geraldo Grade. Pense
num caba bom. E as balizas? Show a parte eram elas. Quando a gente chegava na
boca da rua de Aguas Belas (esquina com o Banco do Brasil) elas, as balizas
pareciam estrelas de cinema. Celina Ferro. Essa era o arraso! Ninguém ganhava
pra ela em suas piruetas. Pernuda, graciosa e seu sorriso solto se somavam ao
seu carisma. Ela fazia como poucas o movimento que a gente achava o máximo:
“abrir escalas” – algo como se lascar no chão abrindo as pernas e aguardar os
aplausos de todos. Nesse quesito ninguém tirava do colégio das freiras essa
primazia. Mas, ao São Geraldo, os louros da banda marcial eram só seus. A gente
gostava de dizer quantos instrumentos havia e ainda fazíamos propaganda: “este
ano nós vamos sair com “tantos instrumentos”“. Outro capítulo dessas lembranças
de sete de setembro era o trajeto. Uns diziam que o colégio ira sair pela Rua
Siqueira Campos. Outros diziam que o São Geraldo iria pela Avenida pegando a
Rua de Aguas Belas (não sei se ainda a chamam assim). Até a Rua de Mané Léu
entrava no rol dos desfiles e nas bolsas especulativas dos nossos sonhos de ser
estrela por um dia...
Independente de anseios, ou de
torcidas, fato é que os colégios todos se encontravam no centro da cidade. Bem
em frente da loja de Zé Maria (hoje Mercadinho de Tiana), mais parecendo a
praça da apoteose lá na Sapucaí. Pensem
num glamour! Lembro-me de um ano em que o Estadual, já na disputa por uma fatia
daquele “mercado” arrasou: fez uma pirâmide humana que no ápice um aluno levantava
uma réplica da taça Jules Rimet. A gente ficou boquiaberta diante daquela
inovação. Algo como o que Joãozinho Trinta fazia nas escolas de samba. Ainda
bem que tudo são escolas: umas de samba e outras de bandas... Mas, no fundo,
todos brilhavam, pois havia torcidas para todos e, no final, cada um saia por
uma rua diferente levando consigo seus admiradores... Mas, afinal, quem
“ganhava o desfile”? Cada um que
dissesse que o seu colégio saiu melhor. Assim, todos ganhavam e saiam felizes
para curtir o cansaço de um mês de ensaio para uma manhã de efetivo desfile...
Certo que há mais sentimento
nessas histórias que não couberam nessa crônica. No momento, às vésperas deste
sete de setembro em pleno terceiro milênio, reflito: cadê meu tarol-mor? Em que
esquinas eles soam? Cadê Professor Waldemar Gomes, em que céus sua morada se
sustenta? Cadê Celina, em que destino abre suas “escalas” rumo aos seus sonhos?
Cadê Geraldo Grade, em que corneta trombeteia o final dos desfiles de hoje?
Cadê as “escaletas” das meninas do colégio das freiras, em que tons se perderam
ou em que batons se transformaram? Cadê Aloisio Barbosa, em que dobrados se
imiscuiu ou em que tempo se dobrou na vida? Cadê Diógenes, cadê Ciba, cadê
Nadja e Vera, cadê Arlinda de Dona Nega, Nárrima Amaral, cadê Joanita e
Deusdete e Arlete e Sônia Padilha... Cadê o vento e a ventania? Sei que ele
levou de nós uns tantos lá para onde não havia... Ah, para não colocar rima
pobre, cadê o padre Frei Dimas, em que parte descansa? Em que pedras dá vida no
corte do seu cinzel? Ah, céus, ah céus.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 06/09/2013
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