Por Carlos Sena (*)
O movimento que revolucionou
nossa música faz cincoenta anos. Chamava-se Jovem Guarda. Acontecia todos os
domingos na TV Record de São Paulo e era comandado por Roberto Carlos e seus
convidados. O sucesso foi tanto que com o passar do tempo também passou. Com
isso e talvez por isso, muitos ficaram saudosos diante do limbo que a TV ficou
sem o Jovem Guarda. Então se passou a chamar de Velha Guarda àqueles que,
saudosistas, sempre se reportavam aos então bons tempos. Talvez a geração neném
se pergunte: o que afinal a Jovem Guarda guardava? Atrevo-me a responder: muita
qualidade artístico-musical. Os cantores tinham voz, garganta, afinação, gogó,
talento e criatividade. Tudo isso era guardado nos personagens inesquecíveis de
Roberto, Erasmo, Wanderleia, Rosemary, Katia Cilene, Os VIPs, trio Esperança,
Lafayete, Evinha, Renato e Seus Blue Caps, Wanderlei Cardoso, Jerry Adriani,
Leno e Lilian, Sérgio Murilo, José Roberto, Antônio Marcos, Reginaldo Rossi (o
pão), Vanusa, ED Wilson, Ronie Von, Silvinha e Eduardo Araújo, Márcio Greyck,
Martinha e tantos outros. Guardavam, pois, talento, romantismo, canções com
qualidade de música e letra. Guardavam apologia ao amor, ao bom mocismo, ao bem
cantar, enfim, ao bem viver.
Hoje, 50 anos depois, a Jovem
Guarda guarda saudades. Os artistas daquela época são considerados a Velha
Guarda de hoje. Fato é que esses artistas que ainda estão vivos, continuam
guardando talento; vivendo da música que um dia fizeram e que ainda fazem, mas
sem o beneplácito da atual Jovem Guarda que a gente não sabe bem o que guarda.
Certamente guardam a eguinha pocotó, a boquinha da garrafa, o beijinho do
ombro, os MCI da vida, a calcinha preta, a garota safada, toda atoladinha, etc.
A atual Jovem Guarda acha: talvez haxixe! Talvez um pó sem ser de arroz. Talvez
um craque, sem ser da bola. Ou uma bola da boa e da má conha. Uma bronha,
sacou? Tá ligado? Pois é véi, geração neném estuda pouco mas frequenta facu.
Mais cu do que fa. Mais fá do que sol, mas sem si e sem lá e com muito dó.
E tudo passa a ser uma questão de
50 anos de Jovem Guarda, mas que parece estar bem guardada no coração dos
sessentões de hoje, mas, também, dos atuais jovens que guardam dentro de si
talento, embora raro. A geração neném que me perdoe, mas a geração tem-tem
tinha de tudo, inclusive talento e caráter e não precisava de pó pra ser livre
e fazer boas canções, ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 04/01/2015
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