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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Jovem guarda?




Por Carlos Sena (*)

O movimento que revolucionou nossa música faz cincoenta anos. Chamava-se Jovem Guarda. Acontecia todos os domingos na TV Record de São Paulo e era comandado por Roberto Carlos e seus convidados. O sucesso foi tanto que com o passar do tempo também passou. Com isso e talvez por isso, muitos ficaram saudosos diante do limbo que a TV ficou sem o Jovem Guarda. Então se passou a chamar de Velha Guarda àqueles que, saudosistas, sempre se reportavam aos então bons tempos. Talvez a geração neném se pergunte: o que afinal a Jovem Guarda guardava? Atrevo-me a responder: muita qualidade artístico-musical. Os cantores tinham voz, garganta, afinação, gogó, talento e criatividade. Tudo isso era guardado nos personagens inesquecíveis de Roberto, Erasmo, Wanderleia, Rosemary, Katia Cilene, Os VIPs, trio Esperança, Lafayete, Evinha, Renato e Seus Blue Caps, Wanderlei Cardoso, Jerry Adriani, Leno e Lilian, Sérgio Murilo, José Roberto, Antônio Marcos, Reginaldo Rossi (o pão), Vanusa, ED Wilson, Ronie Von, Silvinha e Eduardo Araújo, Márcio Greyck, Martinha e tantos outros. Guardavam, pois, talento, romantismo, canções com qualidade de música e letra. Guardavam apologia ao amor, ao bom mocismo, ao bem cantar, enfim, ao bem viver.

Hoje, 50 anos depois, a Jovem Guarda guarda saudades. Os artistas daquela época são considerados a Velha Guarda de hoje. Fato é que esses artistas que ainda estão vivos, continuam guardando talento; vivendo da música que um dia fizeram e que ainda fazem, mas sem o beneplácito da atual Jovem Guarda que a gente não sabe bem o que guarda. Certamente guardam a eguinha pocotó, a boquinha da garrafa, o beijinho do ombro, os MCI da vida, a calcinha preta, a garota safada, toda atoladinha, etc. A atual Jovem Guarda acha: talvez haxixe! Talvez um pó sem ser de arroz. Talvez um craque, sem ser da bola. Ou uma bola da boa e da má conha. Uma bronha, sacou? Tá ligado? Pois é véi, geração neném estuda pouco mas frequenta facu. Mais cu do que fa. Mais fá do que sol, mas sem si e sem lá e com muito dó.

E tudo passa a ser uma questão de 50 anos de Jovem Guarda, mas que parece estar bem guardada no coração dos sessentões de hoje, mas, também, dos atuais jovens que guardam dentro de si talento, embora raro. A geração neném que me perdoe, mas a geração tem-tem tinha de tudo, inclusive talento e caráter e não precisava de pó pra ser livre e fazer boas canções, ou não?

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 04/01/2015

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