Por Zezinho de Caetés
No último sábado, um brasileiro morreu na Indonésia. É claro
que, sendo um brasileiro, nós que também somos, procuramos saber o que
aconteceu. Acidente Aéreo? Morte súbita? Latrocínio? Engasgo com pasta de dente
no hotel? Escalando os morros do país? Nosso olhos e ouvidos passam a esperar
mais notícias, com curiosidade de zebra para descobrir se é preta com as listas
brancas ou branca com as listas pretas, tentando usufruir do sistema de cotas.
Aí vem a bomba. Morreu fuzilado e sem chances de defesa
durante o fuzilamento. Nossos brios se exaltam e começamos logo a querer nos
alistar para a possível guerra contra a Indonésia, que permitiu tanta
barbaridade. E, tentando representar este nosso orgulho, nossa gerenta
presidenta, depois de ter implorado pela vida do nosso compatriota, em vão,
chamou nosso embaixador de volta e gerou um caso diplomático, digno dos
governos petistas.
Óbvio que o petista, enrustido ou não, apoia cada gesto e
cada ato de sua representante maior, embora eu não tenha visto nenhum na fila do
alistamento para a guerra. Eles sabem, como a Dilma sabe, que isto não passa de
uma tentativa de encobrir as mazelas que todos os dias aparecem na imprensa
vindas do Petrolão. Talvez seja até medo que aqui se crie a pena de morte
contra exploradores do povo e ladrões do dinheiro público.
No texto abaixo, publicado pelo site Opinião e Notícias, o
Percival Puggina coloca os pingos nos i’s diz apenas o óbvio: “Executaram um traficante brasileiro. Dilma
está indignada. Excelência, fale apenas por si. A nós, o que nos deixa
indignados é o tráfico!” E eu acrescentaria alguns motivos de indignação,
não com o governo da Indonésia, que apenas cumpriu a lei do seu país,
fornecendo material para o fuzilamento, e sim, pelo descaso que aqui temos com
este tipo de gente. O Marcola e o Fernandinho Beira-Mar continuam matando
nossos jovens de overdose e nada acontece. Mas, como poderia acontecer quando
um presidiário nomeia ministros? “É
mentira, Terta?” Ou quando se defende um governo onde se mata por motivos
políticos há mais de 60 anos, como em Cuba? Isto sim, me indigna muito mais.
Eu não sou a favor da pena de morte, mas, longe de mim ser a
favor do esculacho geral, onde traficantes, corruptos e outros meliantes são
tratados como “guerreiros do povo
brasileiro” (obrigado Zé Carlos, pela dica). Fiquem com o Puggina e
continuem meditando se o povo brasileiro merece isto. E o pior é que só daqui a
4 anos o Brasil terá uma nova chance. Estão pensando num possível impeachment?
Eu estou pensando é na linha de sucessão ao trono: Temer, Cunha, Renan e
Lewandowisky. O reino vai mal...
“A execução de alguém é, sempre, um ato de extrema violência, que
agride nossa sensibilidade. Na madrugada de
ontem, na Indonésia, um cidadão brasileiro sentiu o peso da lei local
que aplica a pena máxima para o crime de tráfico de drogas. Há dez anos, Marcos
Archer entrara no país com 13 quilos de cocaína escondidos nos tubos de uma asa
delta. Apanhado pelo raio-x do aeroporto, conseguiu fugir, mas foi capturado
dias depois. Simultaneamente, também foram executados um holandês, um malauiano,
um nigeriano, uma mulher vietnamita e uma cidadã do próprio país.
Nossa presidente, a mesma pessoa que sugeriu mediação internacional
(por que não foi por conta própria?) para resolver a sequência de crimes contra
a humanidade que estão sendo cometidos pelos fanáticos do ISIS, primeiro pediu
clemência, depois se disse “consternada e indignada” e, por fim, engrossou
ainda mais chamando nosso embaixador em Jacarta para consultas. O Itamaraty
afirmou que o fato estabelecia “uma sombra” nas nossas relações com a
Indonésia. Excelências, sombrio é o tráfico!
Não é paradoxal? Nem uma só palavra foi dirigida por nosso governo para
desculpar-se ante as autoridades de lá pelo fato de um cidadão brasileiro haver
tentado levar para dentro do país delas o pó da morte que passeia
arrogantemente pelas esquinas, ruas e estradas do Brasil. Foi o governo da
Indonésia, com suas leis duras contra o tráfico, que indignaram o governo
brasileiro.
Certamente, para cada traficante morto na Indonésia, um país onde esse
mal deve ter proporções pequenas, morrem no Brasil dezenas de milhares de seres
humanos, vítimas da droga e do ambiente criminoso que em torno dela se
estabelece. A pergunta que faço é: o que é melhor? Punir o tráfico com tal
severidade que o sentido de preservação da própria vida acabe com ele, ou
perder milhares de vidas por ano, executadas direta e indiretamente pelos
traficantes? A quem deveria convergir mais firmemente nossa sensibilidade,
racionalidade e indignação?
Note-se que nas execuções de ontem havia apenas uma pessoa da
Indonésia. As demais eram estrangeiras. Não disponho de estatísticas mais
amplas dessa pequena amostra, mas ela sugere que os indonésios não andam muito
dispostos a enfrentar a lei local nesse particular.
A leniência com a criminalidade, que se expressa tanto na nossa
legislação quanto nas proteções e garantias que oferecemos aos criminosos,
transformaram o Brasil numa terra sem lei, a partir do topo da pirâmide social.”
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