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sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Oposição dorme no ponto. Seremos a "Nova Venezuela"?




Por Zezinho de Caetés

Passadas as eleições vêm as análises dos comentaristas políticos. Eu, hoje sou o mais reles deles. Sei que deveria estar dando aulas de português ou mesmo de literatura portuguesa, coisas muito mais necessárias neste Brasil inculto e belo. Porém, pelo grau de degradação em que se encontram nossas escolas, restou-me apenas observar o que se passa na política, e, quando possível, dar os meus “pitacos” aqui neste blog. E para isto sempre me valho das opiniões dos outros analistas, concordando com ou discordando deles.

Abaixo transcrevo um texto do Murilo Aragão que foi publicado no Blog do Noblat no último dia 08/01/2015, com o título “Oposição em berço esplêndido”, onde ele procura mostrar que, nunca na história deste país a oposição esteve tão perto de voltar ao governo, impedindo que o PT afunde de vez nossa pátria deseducadora, pelo menos em princípios morais.

Por que a oposição não ganhou as eleições passadas ainda é uma incógnita, inclusive porque ainda está sendo julgado um pleito do PSDB na justiça sobre uma possível manipulação das urnas eletrônicas. Eu confesso que cheguei a pensar isto e que a hipótese não é estapafúrdia mas, em termos políticos não leva a nada, para as próximas eleições. Os que estão interessados em corrigir certas distorções político/eleitorais no Brasil sempre podem dizer que o “pau que bate em Chico também bate em Francisco”.

Penso que, o pior mesmo de nossa oposição é a acomodação que falha sempre ao enfrentar uma situação que governa por mais de 12 anos, e que pode chegar aos 16, se a oposição continuar assim. Eu li que estamos no início do ano com os novos ministros começando a trabalhar e nossa oposição já esvaziou todos os meios de comunicações e redes sociais por conta das férias de final de ano. Oposição não pode tirar férias coletivas. Como diz um amigo meu, tem que continuar aporrinhando sempre.

Veja a diferença entre a situação e oposição num caso quase idêntico. O doleiro Youssef, sim aquele que disse que Lula e Dilma sabiam de tudo sobre o Petrolão, disse que tanto o Eduardo Cunha (PMDB), pretendente a ser o terceiro na linha de sucessão ao trono, quanto o Antonio Anastasia (PSDB), hoje indo para o Senado e principal responsável pela derrota do Aécio em Minas, foram beneficiários de propinas na maior falcatrua do mundo, como disse o New York Times, que vêm arrasando a nossa maior empresa. Dito isto, vejam o que apareceu mais na mídia. Claro que foi o caso do Anastasia para mostrar que agora temos um vivo do PSDB, quando antes só tínhamos um morto, o Sérgio Guerra. Mesmo que o Eduardo Cunha esteja no calcanhar do PT na Câmara Federal. Enquanto nossa governante e nossa situação, cercados de escândalo por todos os lados, ao ponto se fôssemos contar em número de implicados ela ganharia por talvez 300 x 2 (eu até espero que ainda apareçam gols dos dois lados), nada de braçada numa praia baiana, mas, não deixando de cometer suas ranhetices com os ministros nomeados.

E a nossa oposição, o que está fazendo? Esperando mais escândalos ao invés de estar cuidando para que estes sejam investigados e seus autores punidos. Tudo que vi até agora foi uma declaração morna do Aécio, e mesmo assim porque é mineiro também. Por isso, a frase “não basta” é a mais dita no texto abaixo. E o caminho, cada vez que o PT fica mais perto das metas do Forum de São Paulo, se estreita em direção da regulação da mídia (eufemismo para acabar com nossa liberdade de expressão), e cada dia há uma base parlamentar maior para chegar lá. Talvez, até com a mudança do nosso nome para “Nova Venezuela”. Penso que o Forum de São Paulo tem sido, na América Latina, o nosso atentado ao Charlie Hebdo, sem fuzil, pelo menos, por enquanto. 

E quando eu falo oposição aqui, apesar de pensar no PSDB pois é o único partido que pode na prática fazê-la, eu estou pensando no engajamento para um reforma política que possa levar o país, em termos eleitorais, a ter esperança que numa eleição situação e oposição lutem por princípios e não pela contagem de beneficiários de bolsas de qualquer espécie. Ou seja, se continuar elegendo sempre quem der bolsas ao maior número, apenas chegaremos a ser todos seus beneficiários. E que tenhamos a opção de nos livrar, pelo voto, de uma vez das ameaças do princípio fundamental de uma democracia: a liberdade de expressão. Esta reforma tem que garantir que possamos esquecer qualquer partido que defenda esta tal "regulação da mídia" que invadiu uma boa parte da América Latina.

Mas, fiquem com o texto mais técnico do Murilo, que, trocado em miúdos parece dizer a mesma coisa, com a inibição natural dos experts.

“Fazer oposição é uma arte. Significa desmontar a situação e oferecer-se como alternativa viável. Real ou imaginária. Um governo pode não ir tão mal, mas se não tiver uma boa narrativa pode ser derrotado, sobretudo se a oposição for eficiente. Mesmo que se possam utilizar critérios científicos e metodologicamente testados, ganhar uma eleição continua sendo mais arte do que ciência. O consultor político João Santana, em especial, é um homem de grande sensibilidade para interpretar as tendências e os números. Durante a campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff, sua estratégia de comunicação foi soberba frente aos demais, meros coadjuvantes.

Há algum tempo, escrevi que a derrota de 2002 do PSDB foi o mesmo que Stalingrado para os nazistas. Os tucanos, provavelmente, nunca se recuperariam, ou demorariam muitos anos para se recuperar. Logo se completarão 16 anos longe do poder, considerando o segundo mandato da presidente Dilma. E ainda não aprenderam a ser oposição. Agora, no início do seu segundo mandato, parecem mais agressivos. Nada mais do que isso. Porém, não é o bastante.

Ser oposição significa explorar as deficiências da situação. No caso brasileiro, abundantes. Mas não pode se limitar a esperar que as deficiências do governo apareçam na imprensa. A oposição tem que trabalhar e criar agendas a partir de suas descobertas e interpretações, em vez de esperar a geração espontânea de escândalos, como nos últimos 12 anos.

Nossa oposição é frágil, apesar do peso e da experiência de seus nomes. Só que é uma oposição “part time”. Não opera 24 por 7, como deveria. Tampouco lança mão da moderna tecnologia de comunicação, nem ocupa os espaços de debate de forma sistemática. Pior, sequer tem uma narrativa que seja adequada às expectativas dos grandes segmentos do eleitorado. Fosse o contrário, ganharia as eleições.

A campanha de Aécio Neves (PSDB) foi pródiga na comunicação com o eleitorado mais abastado e de maior leitura. Nunca foi convincente ao mostrar preocupação social. Exibiu doses econômicas, mas não convenceu como agente de transformação social e, principalmente, de manutenção dos ganhos sociais. Foi presa fácil, apesar dos números apertados da vitória de Dilma.

É certo dizer que a campanha das oposições em 2014 beirou o ridículo, assim como em 2010 e 2006. Sem a imensa má vontade da sociedade com o PT e o próprio peso de Dilma como candidata, a derrota teria sido maior, e no primeiro turno. Aliás, a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) aqueceu uma campanha que teria sido muito mais morna.

Aécio Neves cresceu nos últimos 15 dias do primeiro turno por conta da demolição de uma candidata despreparada para chegar ao segundo turno: Marina Silva. Porém, o tucano não construiu a proposta adequada para neutralizar o poder da máquina do governo. Não construiu um discurso que fizesse frente ao fato inconteste de que o governo tinha, para a maioria da população, um programa mais convincente. Além do mais, foi um vexame ser derrotado – da forma que foi – em Minas Gerais, terra natal do candidato, e em Pernambuco.

Todos nós, analistas políticos, reconhecemos que a oposição saiu com mais musculatura das eleições. Com mais disposição e empenho. Porém, falta muito mais para se transformar em uma oposição que dependa mais de si mesma do que dos erros (abundantes) do governo para ganhar as eleições.

Imaginem, por exemplo, que Dilma escape sem sequelas do escândalo da Petrobras, o que é possível, e que o ministro Joaquim Levy faça a economia funcionar melhor, o que também é possível! É evidente que, nessas circunstâncias, ela será um forte cabo eleitoral em 2018. Assim, não se deve tomar como inevitável a incapacidade do governo de fazer seu sucessor. Mesmo que para disputar não tenha nomes fortes – além de Lula, este sim, caso candidato, com forte apelo eleitoral. Candidatos podem ganhar eleições. Boas narrativas também. É o caso de Dilma: do nada para a Presidência.


Se não se organizar de forma profissional e urgente, o PSDB pode ficar para trás e perder a primazia entre as forças de oposição. Sua sorte é que a maior oposição ao governo ocorre dentro das forças governistas. Assim, o PSDB não sofre concorrência feroz de outros partidos. O Rede de Marina ainda precisa se aparelhar. O PSB ainda não tem uma cara definida. No momento, sobra o PSDB, que ainda não desceu do “salto alto”.”

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