Por Zezinho de Caetés
Passadas as eleições vêm as análises dos comentaristas
políticos. Eu, hoje sou o mais reles deles. Sei que deveria estar dando aulas
de português ou mesmo de literatura portuguesa, coisas muito mais necessárias
neste Brasil inculto e belo. Porém, pelo grau de degradação em que se encontram
nossas escolas, restou-me apenas observar o que se passa na política, e, quando
possível, dar os meus “pitacos” aqui
neste blog. E para isto sempre me valho das opiniões dos outros analistas,
concordando com ou discordando deles.
Abaixo transcrevo um texto do Murilo Aragão que foi
publicado no Blog do Noblat no último dia 08/01/2015, com o título “Oposição em berço esplêndido”, onde ele
procura mostrar que, nunca na história deste país a oposição esteve tão perto
de voltar ao governo, impedindo que o PT afunde de vez nossa pátria
deseducadora, pelo menos em princípios morais.
Por que a oposição não ganhou as eleições passadas ainda é
uma incógnita, inclusive porque ainda está sendo julgado um pleito do PSDB na
justiça sobre uma possível manipulação das urnas eletrônicas. Eu confesso que
cheguei a pensar isto e que a hipótese não é estapafúrdia mas, em termos
políticos não leva a nada, para as próximas eleições. Os que estão interessados
em corrigir certas distorções político/eleitorais no Brasil sempre podem dizer
que o “pau que bate em Chico também bate
em Francisco”.
Penso que, o pior mesmo de nossa oposição é a acomodação que
falha sempre ao enfrentar uma situação que governa por mais de 12 anos, e que
pode chegar aos 16, se a oposição continuar assim. Eu li que estamos no início
do ano com os novos ministros começando a trabalhar e nossa oposição já
esvaziou todos os meios de comunicações e redes sociais por conta das férias de
final de ano. Oposição não pode tirar férias coletivas. Como diz um amigo meu,
tem que continuar aporrinhando sempre.
Veja a diferença entre a situação e oposição num caso quase
idêntico. O doleiro Youssef, sim aquele que disse que Lula e Dilma sabiam de
tudo sobre o Petrolão, disse que tanto o Eduardo Cunha (PMDB), pretendente a
ser o terceiro na linha de sucessão ao trono, quanto o Antonio Anastasia (PSDB),
hoje indo para o Senado e principal responsável pela derrota do Aécio em Minas,
foram beneficiários de propinas na maior falcatrua do mundo, como disse o New
York Times, que vêm arrasando a nossa maior empresa. Dito isto, vejam o que
apareceu mais na mídia. Claro que foi o caso do Anastasia para mostrar que
agora temos um vivo do PSDB, quando antes só tínhamos um morto, o Sérgio
Guerra. Mesmo que o Eduardo Cunha esteja no calcanhar do PT na Câmara Federal. Enquanto nossa governante e nossa situação, cercados de escândalo por todos os
lados, ao ponto se fôssemos contar em número de implicados ela ganharia por
talvez 300 x 2 (eu até espero que ainda apareçam gols dos dois lados), nada de
braçada numa praia baiana, mas, não deixando de cometer suas ranhetices com os
ministros nomeados.
E a nossa oposição, o que está fazendo? Esperando mais
escândalos ao invés de estar cuidando para que estes sejam investigados e seus
autores punidos. Tudo que vi até agora foi uma declaração morna do Aécio, e mesmo assim porque é mineiro também. Por isso, a frase “não
basta” é a mais dita no texto abaixo. E o caminho, cada vez que o PT fica
mais perto das metas do Forum de São Paulo, se estreita em direção da regulação
da mídia (eufemismo para acabar com nossa liberdade de expressão), e cada dia
há uma base parlamentar maior para chegar lá. Talvez, até com a mudança do
nosso nome para “Nova Venezuela”. Penso que o Forum de São Paulo tem sido, na América Latina, o nosso atentado ao Charlie Hebdo, sem fuzil, pelo menos, por enquanto.
E quando eu falo oposição aqui, apesar de pensar no PSDB
pois é o único partido que pode na prática fazê-la, eu estou pensando no
engajamento para um reforma política que possa levar o país, em termos
eleitorais, a ter esperança que numa eleição situação e oposição lutem por
princípios e não pela contagem de beneficiários de bolsas de qualquer espécie.
Ou seja, se continuar elegendo sempre quem der bolsas ao maior número, apenas chegaremos
a ser todos seus beneficiários. E que tenhamos a opção de nos livrar, pelo voto, de uma vez das ameaças do princípio fundamental de uma democracia: a liberdade de expressão. Esta reforma tem que garantir que possamos esquecer qualquer partido que defenda esta tal "regulação da mídia" que invadiu uma boa parte da América Latina.
Mas, fiquem com o texto mais técnico do Murilo, que, trocado
em miúdos parece dizer a mesma coisa, com a inibição natural dos experts.
“Fazer oposição é uma arte. Significa desmontar a situação e
oferecer-se como alternativa viável. Real ou imaginária. Um governo pode não ir
tão mal, mas se não tiver uma boa narrativa pode ser derrotado, sobretudo se a
oposição for eficiente. Mesmo que se possam utilizar critérios científicos e
metodologicamente testados, ganhar uma eleição continua sendo mais arte do que
ciência. O consultor político João Santana, em especial, é um homem de grande
sensibilidade para interpretar as tendências e os números. Durante a campanha
de reeleição da presidente Dilma Rousseff, sua estratégia de comunicação foi
soberba frente aos demais, meros coadjuvantes.
Há algum tempo, escrevi que a derrota de 2002 do PSDB foi o mesmo que
Stalingrado para os nazistas. Os tucanos, provavelmente, nunca se recuperariam,
ou demorariam muitos anos para se recuperar. Logo se completarão 16 anos longe
do poder, considerando o segundo mandato da presidente Dilma. E ainda não
aprenderam a ser oposição. Agora, no início do seu segundo mandato, parecem
mais agressivos. Nada mais do que isso. Porém, não é o bastante.
Ser oposição significa explorar as deficiências da situação. No caso
brasileiro, abundantes. Mas não pode se limitar a esperar que as deficiências
do governo apareçam na imprensa. A oposição tem que trabalhar e criar agendas a
partir de suas descobertas e interpretações, em vez de esperar a geração
espontânea de escândalos, como nos últimos 12 anos.
Nossa oposição é frágil, apesar do peso e da experiência de seus nomes.
Só que é uma oposição “part time”. Não opera 24 por 7, como deveria. Tampouco
lança mão da moderna tecnologia de comunicação, nem ocupa os espaços de debate
de forma sistemática. Pior, sequer tem uma narrativa que seja adequada às
expectativas dos grandes segmentos do eleitorado. Fosse o contrário, ganharia
as eleições.
A campanha de Aécio Neves (PSDB) foi pródiga na comunicação com o
eleitorado mais abastado e de maior leitura. Nunca foi convincente ao mostrar
preocupação social. Exibiu doses econômicas, mas não convenceu como agente de
transformação social e, principalmente, de manutenção dos ganhos sociais. Foi
presa fácil, apesar dos números apertados da vitória de Dilma.
É certo dizer que a campanha das oposições em 2014 beirou o ridículo,
assim como em 2010 e 2006. Sem a imensa má vontade da sociedade com o PT e o
próprio peso de Dilma como candidata, a derrota teria sido maior, e no primeiro
turno. Aliás, a morte do candidato Eduardo Campos (PSB) aqueceu uma campanha
que teria sido muito mais morna.
Aécio Neves cresceu nos últimos 15 dias do primeiro turno por conta da
demolição de uma candidata despreparada para chegar ao segundo turno: Marina
Silva. Porém, o tucano não construiu a proposta adequada para neutralizar o
poder da máquina do governo. Não construiu um discurso que fizesse frente ao
fato inconteste de que o governo tinha, para a maioria da população, um
programa mais convincente. Além do mais, foi um vexame ser derrotado – da forma
que foi – em Minas Gerais, terra natal do candidato, e em Pernambuco.
Todos nós, analistas políticos, reconhecemos que a oposição saiu com
mais musculatura das eleições. Com mais disposição e empenho. Porém, falta
muito mais para se transformar em uma oposição que dependa mais de si mesma do
que dos erros (abundantes) do governo para ganhar as eleições.
Imaginem, por exemplo, que Dilma escape sem sequelas do escândalo da
Petrobras, o que é possível, e que o ministro Joaquim Levy faça a economia
funcionar melhor, o que também é possível! É evidente que, nessas
circunstâncias, ela será um forte cabo eleitoral em 2018. Assim, não se deve
tomar como inevitável a incapacidade do governo de fazer seu sucessor. Mesmo
que para disputar não tenha nomes fortes – além de Lula, este sim, caso
candidato, com forte apelo eleitoral. Candidatos podem ganhar eleições. Boas
narrativas também. É o caso de Dilma: do nada para a Presidência.
Se não se organizar de forma profissional e urgente, o PSDB pode ficar
para trás e perder a primazia entre as forças de oposição. Sua sorte é que a
maior oposição ao governo ocorre dentro das forças governistas. Assim, o PSDB
não sofre concorrência feroz de outros partidos. O Rede de Marina ainda precisa
se aparelhar. O PSB ainda não tem uma cara definida. No momento, sobra o PSDB,
que ainda não desceu do “salto alto”.”
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