“O tempo de Temer
POR MÍRIAM LEITÃO
Um governo com 7% de aprovação,
denunciado pelo Ministério Público por corrupção, com a base parlamentar em
dispersão, tem pouca chance de concluir o mandato. O esforço do presidente
Michel Temer, a partir de agora, será para evitar que o Congresso autorize o
processo. Temer já não governa, apenas administra a possibilidade de permanecer
no cargo.
O procurador-geral da República
disse que Michel Temer se valeu da sua condição “de chefe do Poder Executivo e
liderança nacional” para obter a “vantagem indevida” de R$ 500 mil através de
Rodrigo Rocha Loures. Portanto, deixou claro na denúncia que acha que o
dinheiro da mala era de Temer.
De acordo com a denúncia: “Os
fatos devem ser analisados no contexto da organização criminosa aqui mencionada,
com especial atenção para o núcleo do PMDB da Câmara. As práticas espúrias
voltadas a atender interesses privados, a partir de vultosos recursos públicos,
não se restringem àqueles reportados na denúncia ora ofertada. Percebe-se que a
organização criminosa não apenas esteve em operação, em passado recente, como
também hoje se mantém em plena atividade”. Deixando em itálico a informação de
que está “em plena atividade”.
O pior cenário aconteceu porque
agora o presidente Temer terá que se mobilizar para evitar essa denúncia na
Câmara. E depois haverá mais duas denúncias. Mesmo que o Congresso não entre em
recesso, a Justiça entrará. Tudo ficará mais demorado e desgastante para o
governo.
Há quem garanta, em Brasília, no
governo ou fora dele, que o presidente Michel Temer venceu suas principais
batalhas. Não é verdade. Há muitas pela frente, e Temer repete Dilma que, ao
fim, já não governava, apenas tentava se manter no cargo.
Em agosto de 2015, com apenas
oito meses do segundo mandato, a ex-presidente Dilma tinha 71% de ruim e
péssimo. Temer está com 69% de ruim e péssimo, mas sua situação é ainda pior
porque ele enfrentará denúncias do Ministério Público, sem falar nos pedidos de
impeachment.
A avaliação de um político da
cúpula do legislativo é que Temer venceu o risco de uma cassação da chapa pelo
TSE e do desembarque do PSDB. E que tem duas vantagens em relação a Dilma na
luta para permanecer: o deputado Rodrigo Maia não estaria trabalhando para
derrubá-lo — ao contrário do que ele fez com Dilma — e há um sentimento antiPGR
no Congresso, que pode ser usado para mobilizar os votos contra a abertura de
processo.
Acho que o mais provável é o fim
antecipado do governo. A dinâmica do apoio político tem relação com a
popularidade do presidente. Um governante assim tão impopular e rejeitado
produz o afastamento de aliados. Ter 172 votos nominais a favor dele é tarefa
mais difícil do que parece.
Outro motivo é que o governo
definha. Ele não tem os recursos políticos para manter a mínima coesão da base.
A erosão fiscal torna ainda mais difícil a execução de qualquer tipo de pacote
de bondade. Um dos seus pontos fortes é a equipe econômica, que só terá
credibilidade se mantiver a austeridade e o compromisso com a meta fiscal. Como
a meta está muito dependente de receitas extraordinárias — que exigem decisões
administrativas e legislativas — há um grande risco de não cumprimento da meta.
Isso colocaria o governo Temer na mesma situação do governo Dilma.
A denúncia é forte e coloca o
Brasil numa situação jamais vivida que é ter um presidente processado no
decorrer do mandato por crime cometido durante o exercício do poder. “Não há
dúvida, portanto, que o delito perpetrado pelos imputados Michel Temer e
Rodrigo Loures, em comunhão de ação e unidade de desígnios, causou abalo moral
à coletividade, interesse este que não pode ficar sem reparação”, diz a
denúncia de Janot.
Enfraquecido politicamente, com
uma base volátil, sem recursos políticos de costurar a coalizão, com o risco de
não cumprimento da meta fiscal, o presidente chegou ao dia em que foi
denunciado pela Procuradoria-Geral da República. Dificilmente Temer conseguirá
superar tantas frentes de dificuldade para se manter no poder por mais 18
meses. Cada dia do seu governo será uma agonia. O mais incerto é o tempo de
duração do seu mandato. Se a denúncia for aceita pela Câmara, ele será afastado
do cargo e não voltará.”
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AGD Comenta:
Obviamente, o texto anterior foi
escrito antes do discurso do Temer, ontem, no qual tenta desqualificar a
denúncia do Rodrigo Janot, como todos fazem com os acusadores.
No entanto, como o presidente
ontem enfatizou no discurso, juridicamente, não há problemas que ele não “tire de letra”, o problema é político. Ou repetindo o assessor do Bill Clinton tão
citado: “É a economia, estúpido”.
Com as peripécias do Temer, nas
caladas da noite, recebendo convidados de má fama, a economia pode continuar
não reagindo e se formar um círculo vicioso perigoso para o país e para sua
tenra democracia.
Nossas instituições ainda reagem
às intempéries, mas, há um limite para que isto aconteça, e há risco de
voltarmos à quase barbárie das nações em que elas simplesmente não funcionam e
será o cada um por si e Deus, se ainda também não perdeu a paciência conosco,
por todos.
Chegamos a uma encruzilhada tal,
que talvez se possa concluir que, para os políticos, vale a máxima: “São todos culpados, até provarem que são
inocentes”. E eles que tratem de provar
sua inocência, como o Lula vem, em vão, até o momento, procurando fazê-lo.
Não se trata de desqualificar a
classe política, porém, a que aí se encontra, viciada como está, deveria
renunciar em bloco, junto com o Temer. Isto seria uma solução, se não
estivéssemos, para o bem e para o mal, engessados numa Constituição que surgiu
num momento onde se pensava que as soluções para o mundo seria entregar tudo ao
“trabalho” e deixar o “capital” como
a classe que explora, de lado, como se dele não fizesse parte o mesmo material
humano que temos.
Infelizmente, isto só vem à tona
nas crises, como a que estamos passando. E nos arriscamos a ir, junto com todos
os políticos, para o brejo. Mas, fiquemos por aqui, antes de descambarmos no
pessimismo total, o que não é bom.
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