O Estado de S.Paulo - 13 Junho 2017
Depois de atormentar as famílias
durante anos, a inflação continua no rumo certo, deixando mais dinheiro no
bolso dos consumidores e abrindo espaço para novos cortes de juros e mais
estímulos à produção e à criação de empregos. A alta de preços acumulada em 12
meses, de 3,6%, foi a menor em dez anos, isto é, desde a taxa de 3,18% fechada
em maio de 2007. Preços contidos e crédito mais acessível são condições
importantes para a sustentação do crescimento econômico, depois de dois anos de
retração. A incerteza agravada nas últimas semanas, com o aumento da tensão
política, é neste momento o principal entrave a um afrouxamento mais veloz da
política monetária, como confirmou na sexta-feira passada o presidente do Banco
Central (BC), Ilan Goldfajn. Ele se referiu explicitamente à “incerteza
associada à evolução do processo de reformas e de ajustes”, sem apontar de
forma direta a causa da insegurança, isto é, o aumento recente das pressões
enfrentadas em Brasília pelo governo.
A tensão na Praça dos Três
Poderes tem contrastado com a redução sensível das pressões inflacionárias. O
repique mensal observado em maio, quando os preços pagos pelas famílias subiram
0,31%, mais que o dobro da taxa do mês anterior, de 0,14%, resultou basicamente
de um fator especial. Em abril um desconto havia compensado a cobrança indevida
do Encargo de Energia de Reserva. Sem esse desconto, as contas de eletricidade
subiram 8,98% em maio.
Isso bastaria para explicar uma
alta de 0,29 ponto porcentual no índice do mês, fechado com variação de 0,31%.
Esse efeito é obviamente passageiro e sem potencial para afetar a tendência do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a principal medida
oficial da inflação.
A tendência de baixa tanto da
inflação como dos juros básicos permanece, como observou o presidente do BC
numa palestra em São Paulo. Mas o próximo corte da taxa básica, a Selic, poderá
ser inferior ao decidido na última reunião do Comitê de Política Monetária
(Copom) do BC, quando houve redução de um ponto porcentual. O comitê voltará a
reunir-se em julho. Então haverá uma reavaliação de todos os dados importantes
para a condução da política de crédito, incluídos o quadro político e,
portanto, as condições de aprovação e de implementação de ajustes e reformas.
A incerteza prolongada, lembrou o
presidente do BC, pode afetar a política monetária de duas formas opostas. Se
prejudicar a atividade econômica, entravando os negócios, um efeito possível
será a desinflação. Mas, se houver insegurança quanto à formação de preços,
poderá ocorrer mais instabilidade e isso reforçará o impulso inflacionário. De
toda forma, as projeções ficam mais difíceis, nessas condições, assim como a
estimativa da taxa de juros estrutural. Essa é a taxa compatível com um
crescimento econômico sem desajustes. Deve ser, portanto, um indicador de rumo
e de ritmo para a política monetária.
O presidente do BC repetiu, em
sua exposição, uma frase incluída na ata da última reunião do Copom. “Não há”,
disse ele, “relação direta e mecânica entre o aumento de incerteza e a política
monetária.” A insistência nesse ponto pode parecer estranha, na situação atual,
mas tanto na ata como na palestra de sexta-feira houve uma ressalva
esclarecedora.
Neste momento a insegurança pode,
sim, influenciar as decisões do comitê. Afinal, o afrouxamento da política
monetária, iniciado em outubro, tem sido condicionado pelos indicadores de
inflação e pelas perspectivas de reconstrução das contas públicas. A
desinflação tem sido generalizada e as expectativas de inflação, observou
Goldfajn, permanecem “ancoradas em torno da meta” de 4,5%.
Os indicadores de inflação têm
proporcionado algumas das melhores notícias. As contas externas também são
tranquilizadoras e no começo deste ano surgiram, enfim, sinais de reativação da
economia e de criação de empregos na indústria. Mas nenhuma dessas mudanças é
independente, nas condições brasileiras, do dia a dia do jogo político. Afinal,
nem sequer se pode contar com a autonomia legal do BC.
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AGD Comenta:
Para quem viveu os períodos de
hiperinflação no Brasil, a texto acima, só provoca alegria.
Óbvio que o país não pode viver
só de inflação baixa, mas, diante da crise política isto já é um feito e tanto.
Se há uma coisa em que o Temer
acertou até agora, foi na escolha da equipe econômica.
O que se espera daqui para frente
é que, pelo menos ela continue até final de 2018. Isto já seria um grande feito
do governo Temer, mesmo sem o Temer.
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(*) A Gazeta Digital (AGD),
devido ao impedimento do seu grande colaborador Zezinho de Caetés, por motivos
pessoais, e com chances de colaboração intermitente, criou uma chance de toda a
equipe se expressar sobre o que acontece no país. Espero que nossos leitores
aprovem a criação do AGD Comenta.
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