“Golpe de caneta nocauteia
Joesley e deixa Lula grogue
Por Augusto Nunes
Ao resumir numa carta manuscrita
o encontro com Lula na casa de Joesley Batista, ocorrido em 26 de março de 2016, e revelar que o trio
se reuniu para confabular sobre o impeachment de Dilma Rousseff, o prisioneiro
Eduardo Cunha desferiu um golpe de caneta que deixou grogue um esquartejador da
verdade e levou novamente às cordas a alma viva mais cínica do Brasil. No fim
de semana, na entrevista a Diego Escosteguy, Joesley repetira que só viu Lula a
um metro de distância duas vezes ─ em 2006 e 2013, quando se limitaram a trocar
ideias exemplarmente republicanas. Nesta segunda-feira, foi obrigado pelo
ex-presidente da Câmara a confessar que esteve com o chefão “em outras
ocasiões” ─ certamente para tratar de negócios nada republicanos.
É o começo do fim da farsa
encenada pelo açougueiro predileto de Lula e do BNDES. É o que faltava para o
sepultamento da meia delação premiadíssima. Ou Janot rasga a fantasia e admite
que não pretende investigar a organização criminosa que patrocinou a entrada de
Joesley no clube dos bilionários ou reduz a farrapos as fantasias do dono da
JBS com a convocação para uma nova série de depoimentos. É hora de forçá-lo a
abrir o bico sobre o bando que, nas palavras do próprio depoente,
institucionalizou a corrupção no país. Se insistir em vender Lula e seus
comparsas como exemplos de honradez, estará implorando pela pronta interdição
do direito de ir e vir.
No texto escrito de próprio punho
na cadeia em Curitiba, Cunha tornou a exibir a vocação para arquivista. “Ele
fala que só encontrou o ex-presidente Lula por duas vezes, em 2006 e 2013”,
lembra o signatário. “Mentira. Ele apenas se esqueceu que promoveu (sic) um
encontro que durou horas, no dia 26 de março de 2016, Sábado de Aleluia, na sua
residência na rua França, 553, em São Paulo, entre eu, ele e Lula, a pedido do
Lula, a fim de discutir o processo de impeachment, ocorrido em 17 de abril,
onde pude constatar a relação entre eles e os constantes encontros que eles
mantinham”.
A profusão de minúcias deixa
claro qual dos dois está mentindo. Para facilitar o trabalho de jornalistas e
policiais incumbidos de checar as informações contidas na carta, o ex-deputado
oferece meia dúzia de testemunhas. Que tal ouvir os seguranças da Câmara que o
escoltaram na incursão por São Paulo? Que tal uma visita à locadora do veículo
usado por Cunha para deslocar-se pela capital paulista? O Brasil decente torce
para que seja longa e reveladora a briga de foice entre integrantes de duas
organizações criminosas ─ ORCRINS, prefere Joesley ─ que roubaram em perfeita
harmonia até o divórcio consumado pelo despejo de Dilma Rousseff.
Tomara que todos os bandidos
contem tudo o que sabem uns dos outros. E que o bate-boca continue nas cadeias
onde estarão alojados os corruptos, hoje desavindos, que a partir de 2003
produziram juntos a maior sequência de assaltos aos cofres do Brasil registrada
desde o Descobrimento.
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AGD Comenta
Depois de permanecer em suspense
com o STF julgando se delação premiada
é colaboração ou é crime, numa decisão que ficou para hoje, eu encontrei o
texto acima que fala do Eduardo Cunha.
Hoje, no Brasil, são tantos os
bandidos, que alguns ou algumas já nem aparecem mais nas notícias por falta de
espaço. Mas, o Cunha é um bandido tão importante que não falta lugar para ele.
E quando está escasseando ele inventa, como a tal carta falada acima.
Estamos numa triste situação onde
ter partido político é também escolher o seu “bandido de estimação”. Para qualquer um que se olhe com simpatia lá
estará um bandido. É Lula no PT, Temer no PMDB, Aécio no PSDB, sem falar nos de
baixa estatura e nanicos que de bandidos pululam, pelo menos é o que dizem os
procuradores.
A competição política virou um
campeonato de números de inquéritos e denúncias, e cada partido espera mais
delações para ganhar o campeonato. Mas, tem gente que não gosta disto e
recorreu ao STF para ver se para o campeonato, que se chamou de “sangria”
para por um dos envolvidos, o Romero Jucá, que habitou em todos eles.
E, ontem começou o julgamento que
pode levar a pique a operação Lava Jato, que foi a maior incentivadora do
campeonato das delações para o bem do Brasil. Todavia, só resta lastimar como
tanto falam os ministros. Parece até que quem não falar por mais de duas horas
não ganha cachê.
E prometem uma solução para logo
mais. Esperemos e rezemos para que tomem a decisão correta e que os “bandidos de estimação” sejam bem tratados nas cadeias onde devem habitar. Tal qual o Cunha,
que encontrou um bom lugar para escrever cartas, enquanto se prepara para fazer
a delação premiada.
Eu, vendo todas estas discussões,
ontem descobri que o chefe da organização criminosa não pode fazer delação, e
fiquei pensando no motivo. Ora, se Lula pudesse fazer delação premiada, e seu
prêmio fosse dado por número de delatados, não bastaria, como o Joesley, ficar
só solto, ele teria que ir para o céu.
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