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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A pinguela caiu. E agora?




Nota de Fernando Henrique Cardoso:

“A conjuntura política do Brasil tem sofrido abalos fortes e minha percepção também. Se eu me pusesse na posição de presidente e olhasse em volta reconheceria que estamos vivendo uma quase anomia. Falta o que os políticólogos chamam de ‘legitimidade’, ou seja, reconhecendo que a autoridade é legítima consentir em obedecer.

A ordem vigente é legal e constitucional (dai o ter mencionado como "golpe" uma antecipação eleitoral) mas não havendo aceitação generalizada de sua validade, ou há um gesto de grandeza por parte de quem legalmente detém o poder pedindo antecipação de eleições gerais, ou o poder se erode de tal forma que as ruas pedirão a ruptura da regra vigente exigindo antecipação do voto.

É diante desta perspectiva que os partidos, pensando no Brasil, nas suas chances econômicas e nos 14 milhões de desempregados, devem decidir o que fazer.

A chance e a cautela a que me refiro derivam de minha percepção da gravidade da situação. Ou se pensa nos passos seguintes em termos nacionais e não partidários nem personalistas ou iremos às cegas para o desconhecido.

A responsabilidade maior é a do Presidente que decidirá se ainda tem forças para resistir e atuar em prol do país.

Se tudo continuar como está com a desconstrução continua da autoridade, pior ainda se houver tentativas de embaraçar as investigações em curso, não vejo mais como o Psdb possa continuar no governo.

Preferiria atravessar a pinguela, mas se ela continuar quebrando será melhor atravessar o rio a nado e devolver a legitimação da ordem à soberania popular.

É este o sentimento que motiva minhas tentativas de entender o que acontece e de agir apropriadamente, embora nem sempre no calor dos embates diários e de declarações dadas às pressas tenha sido claro nem sem hesitações.”

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AGD Comenta:

Depois da reunião do PSDB que desistiu de abandonar o barco do governo Temer, onde a água já sobe às mãos dos remadores, o Fernando Henrique Cardoso, ou FHC para os íntimos da política, resolveu não ficar só olhando o afundamento da nau, e mandou para imprensa a nota acima.

Ora, a nota merece reflexões, não só porque o FHC já esteve no comando do barco, como presidente, mas porque nunca deixou de ser uma figura influente pela sua bagagem intelectual e política.

Não se pode dizer que ele sempre se pautou pelo que hoje prega, ao defender na nota que, em certas situações, ele não deveria se importar com partidos e opiniões pessoais. Para se manter no poder, ele, e os políticos em geral, deixam sempre de lado estes pruridos românticos e o Brasil...

Ele reconhece que a ordem vigente é legal e constitucional, mas, propõe um golpe, mesmo que diga ser com a anuência do povo. O povo, ora o povo! Depois que o Joesley disse que se encontrou com Temer nas caladas da noite, eu não vi nenhum povo na rua. O que vejo é nas redes sociais um grande alarido, contra e a favor do Temer. Mas, a confiança na internet para aferir o que o povo pensa é a mesma coisa de acreditar que o barulho da torcida mostra a qualidade de futebol mostrada pelos times em campo.

Então, ele, num gesto “golpista”, se aproxima do Lula para pedir antecipações de eleições, como se fosse fácil fazer isto. Segundo ele, deveria haver um gesto bondoso do Presidente Temer, cuja anomia, até agora,foi o de permanecer no poder a qualquer custo, com o a ajuda do PSDB.

Estamos no meio do ano, e ele propõe uma reforma constitucional, mas, antes uma reforma eleitoral, que como se sabe seria possível dentro das normas legais, antes de um ano de aprovadas. Como seria feito isto ele não explica na nota.

Ou seja, hoje vai ser um rebuliço danado de gente tirando proveito desta nota à esquerda e à direita, e no final das contas, tudo terminará como antes, todos esperando pelo gesto bondoso do Temer, que a meu ver não virá, a não ser que haja um fato novo que leve outra vez o povo a tirar o glúteo das cadeiras e ir para as ruas, forçando os poderes que ainda funcionam a tomarem uma posição a favor do Brasil como um todo. Do Temer isto é difícil.


E, penso eu, a nossa Constituição, que não é nenhuma Brastemp, com alguma boa vontade pode ser usada muito bem para passar esta tormenta, com Temer ou sem Temer. Basta ter boa vontade, a que o Temer não estar tendo, para que se atravesse o rio a nado, sem apelar para algum fragata que esteja à espreita, pois realmente a pinguela caiu.

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