Por Eliane Cantanhêde,
A grave crise política descambou para suspeita de
espionagem, contrainformação e desqualificação de todos contra todos, a ponto
de a Procuradoria-Geral da República (PGR) ter descoberto, nada mais, nada
menos, que um dos seus telefones funcionais estava grampeado. Grampo na PGR?
Era só o que nos faltava.
Não se sabe quem fez, ou faria, essa agressão à PGR e ao
procurador-geral Rodrigo Janot. Logo, há especulações, que igualmente não
poupam ninguém e nenhum Poder. Se houve grampo, foi a PF, que vive às turras
com o MP? Ou a Abin, órgão de inteligência do governo, suspeito de fazer
devassa na vida do relator da Lava Jato, Edson Fachin? Ou algum deputado,
senador ou empresário alvo de investigações?
A história ilustra como está Brasília, onde ministros do STF
já pedem varreduras de seus telefones, temendo estarem grampeados, seja por
aventureiros, seja por órgãos de Estado. Também ministros do Executivo e
parlamentares de diferentes partidos já pensam em checar, ou já checaram, seus
gabinetes e telefones, preventivamente, enquanto conversas por telefone, em
gabinetes e até em locais públicos estão cada vez mais contidas, desconfiadas,
quase codificadas. Se nem o presidente da República escapa...
A partir daí, multiplicam-se histórias e versões, sem que se
esclareçam quais são verdadeiras, quais são falsas e quem está espalhando o
quê. Uma verdadeira é que o ministro Gilmar Mendes quase saiu aos tapas, na
chamada “sala de togas” do STF, com o vice-procurador eleitoral Nicolao Dino,
que pedira impedimento do ministro Admar Gonzaga no julgamento de Dilma-Temer
no TSE e poderia gerar um tenebroso empate.
Mas, em geral, as histórias ficam pairando, nem absolutamente
confirmadas nem descartadas. A devassa de Fachin é uma delas. O presidente da
República desmentiu, o chefe do GSI também, mas, pelo sim, pelo não, a
presidente do STF, Cármen Lúcia, condenou duramente no sábado e, ontem,
ressalvou que não cabia investigação “por ora”.
É assim que, em vez de uma saudável luta de ideias, métodos,
programas e visões de País, o que se vê é o mundo do poder embolado num
confronto insano, onde germinam a injúria, a calúnia e a difamação. A troca de
acusações entre PGR, PF, Abin, ministros do Supremo e a Presidência da
República, sem contar a barafunda do Congresso, mais confunde do que esclarece,
mais desqualifica do que se qualifica.
É como se houvesse metralhadoras giratórias nos Poderes, a
ponto de Temer ter gravado pronunciamento ontem para as redes sociais, negando
que o governo tenha tentado, ou venha a tentar, qualquer ataque contra o
Judiciário e o Legislativo. A sensação é que ele estava não só defendendo a
harmonia entre os Poderes, mas se autodefendendo da acusação de estar
transformando o gabinete presidencial em bunker contra a Lava Jato.
A Lava Jato é um orgulho nacional e continua firme, forte e
nos calcanhares de quem tem de estar. O nível de acertos é inegável. Se há
erros, ou excessos, podem e devem ser corrigidos pelos seus próprios agentes.
Articulações de cúpulas que são alvo é que geram guerras, atritos e jogo sujo.
Assim como se defende neste espaço que nem todo político é
ladrão e nem toda doação de campanha foi propina, agora é não à demonização generalizada.
Há divergências entre Poderes e órgãos de Estado, mas não se pode, a qualquer
pretexto, atingir a honra de procuradores, delegados, ministros do TSE, do STJ
e do Supremo, autoridades do Executivo e todo e qualquer parlamentar. Divergir
é salutar. Meter a mãe no meio é focar nos alvos errados e desqualificar o que
(ainda) há de mais qualificado no País.
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