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quarta-feira, 21 de junho de 2017

O Brasil e as nuvens




“O primeiro susto

Cida Damasco - Estadão

Foi só um revés, tenta justificar o governo. No plenário, tudo será diferente. A surpreendente rejeição do relatório da reforma trabalhista, na Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS), por 10 votos a 9, nesta terça-feira, acendeu um sinal de advertência para Temer, em relação às condições de levar adiante a agenda econômica no Congresso. Exatamente o argumento principal utilizado para mostrar que, mesmo no meio do terremoto político que todo dia produz mais uma fissura nas suas bases de sustentação, “o governo continua governando”.

Verdade que essa rejeição não quer dizer que o caminho da reforma trabalhista foi interrompido. O relatório segue para a Comissão de Constituição e Justiça e daí vai para o plenário do Senado. Também não quer dizer que o cenário mais provável tenha sido modificado, ou seja, a vitória da proposta do governo no final desse trajeto.

A questão, porém, é que em política as coisas não se passam unicamente no terreno do racional. Muito ao contrário. E o impacto da votação desta terça-feira é uma prova disso. Foi só um voto de diferença na comissão, mas quantas leituras e quantas interpretações! Quantas análises depois da sessão da Comissão, encerrada com Hino Nacional, gritos de “fora Temer” e todo o “cerimonial” da oposição cantando vitória.

Em primeiro lugar, pode indicar que nem a reforma trabalhista, aquela que já estava contabilizada na lista de vitórias do governo, está tão garantida assim. Que dirá então a reforma da Previdência, que ainda não ultrapassou as etapas já vencidas pela trabalhista, e está sujeita a um número muito maior de contestações, inclusive dentro das fileiras dos aliados de Temer.

Como o governo se encarregou de vender a tese de que chegou e está aí para fazer as reformas, pode-se imaginar o que significa a ameaça de que essa pauta não seja cumprida. Prova disso foi a reação dos mercados, com bolsa em baixa e dólar em alta, depois de um longo período de calmaria – em que nem malas de dinheiro circulando de lá para cá, bate-boca entre representantes dos poderes e outras cenas “inusitadas” de uma crise política que só faz piorar conseguiam impactar com força as mesas de operações das instituições financeiras. Aparentemente, mesmo “querendo acreditar” que a economia estava blindada, os agentes do mercado renderam-se nesta quarta-feira às evidências de que nada está garantido.

Outro fator a ser considerado é que, mesmo num universo bem reduzido, a votação na CAS pode ser vista como um indicador do risco de omissões e traições de integrantes da base aliada. Principalmente quando os temas esbarram nos interesses diretos de seus eleitores.

Como o próprio Temer fez questão de afirmar, é só uma etapa. Virão outras. Mas é também o primeiro grande susto. Virão outros?

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AGD Comenta:

Ontem comentei aqui como seria tudo mais fácil se o Temer renunciasse. Mas, colocava muitas interrogações no que poderia ser uma afirmativa. Já hoje, as nuvens mudaram de posição, e a análise deve ser outra.

Vamos ver os cenários, depois de ontem, que, traído por um senador tucano, houve a rejeição da do relatório da Reforma Trabalhista, na Comissão de Assuntos Sociais (CAS), e Temer não conseguiu avisar aos russos.

E depois também da festa que vi daqueles mesmos que sempre foram contra o impeachment de Dilma, e que agora, com os mesmos argumentos são contra as reformas que o Temer propõe.

Eu confesso que, num misto de preconceito e irracionalidade, sempre penso que, quando o Lindberg Farias é a favor de algo na política, o certo é ficar logo contra. Isto se aplica também a Gleisi Hoffmann e a Vanessa Graidiotin. Seria só preconceito mesmo?

Bem, volto aos cenários, colocando os dois maiores: Com Temer ou sem Temer. No primeiro, ao mesmo tempo que continuaremos com a crise por mais um ano e meio, poderíamos garantir as reformas. Será este um cenário realista? Não depois da derrota de ontem na CAS. Então é um cenário só “meio” viável.

No segundo, sem o Temer, seguiríamos a Constituição e faríamos um eleição indireta para eleger o “presidente tampão” até 2018, e tudo seguiria numa boa. A  crise política continuaria, porque esta é uma condição natural do país, quando o PT não está no poder. Mas, e as reformas, seriam feitas? Outro cenário também, só parcialmente viável para que o Brasil não continue sangrando.

E assim seguimos nossa vida política cujas previsões devem ser feitos com antecedência só de minutos, pois, no próximo pode haver outra denúncia de um figurão da política, e as nuvens mudarão outra vez.

No entanto, o que importa para os pobres mortais que continuam desempregados e catando grilos para sobreviver é a situação econômica, que gera um novo cenário, que independeria se o Temer ficasse ou não.

Neste cenário, os partidos fariam um grande acordo para que as reformas necessárias fossem aprovadas, porque elas são necessárias para que o Brasil consiga se desenvolver. O executivo,  seja quem estivesse lá, não as atrapalharia tentando se aproveitar delas para continuar no poder, e os juízes continuariam julgando o que bem merece e deixando os podres de lado, ou na cadeia.


Bem, este cenário foi apenas um sonho nesta noite chuvosa de inverno. Inverno? Este é um cenário que o Nordeste não via há muito tempo.

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