Por Zé Carlos
Como esperado, a semana foi “quente” como se diz na gíria popular. E a temperatura foi ditada
por um julgamento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, depois de idas e
vindas e por mais de 2 anos, julgaria se a chapa que concorreu às eleições de
2014, que incluía nossa musa a Dilma, e o nosso, agora muso, o Temer.
Eu até me pergunto se devo abordar outros fatos da semana,
que apesar de importantes, não produzem nem um “tiquinho” do humor que o fato citado acima produz. No entanto, por
dever de ofício (ouvi tanto isto esta semana que não poderia deixar de usar a
expressão mesmo como “causa de pedir”,
que até hoje não sei o que é), devo falar de alguns fatos, para que meus parcos
leitores estejam sempre informados. Depois eu volto ao assunto principal.
Eu sei que tudo se relaciona às nossas crises econômica,
política e moral, como soe ocorrer no mundo pós-Joesley, e não se pode fugir
disto. Por exemplo, como já sabíamos, depois que o Michel Temer recebeu o “homem da carne”, altas horas da noite,
a Procuradoria Geral da República, não lhe dá tréguas. Abriu um inquérito para
investigar o presidente e enviou-o 82 perguntas, tal qual um exame do Art. 99,
para ver se ele dizia a verdade, de uma vez. E, pasmem, a prova foi tão difícil
que o aluno Temer desistiu do curso, alegando que os professores, digo,
procuradores, o estavam perseguindo. Até esta segunda chuvosa, não se sabe se
foi feita outra prova ou não e tudo será decidido nesta semana que entra.
Algumas das perguntas merecem um comentário aqui da coluna
pelo seu grau de hilariância, como veremos. Por exemplo,
Qual a relação de
Vossa Excelência com Rodrigo da Rocha Loures?
Ora, pelo que o Temer já disse, que o Rocha Loures era um
cara muito honesto, só poderia responder que, o usava para pegar dinheiro com
Joesley, e aquela história da mala com R$ 500.000,00, era para doação à
ex-futura Fundação Temer que visa ajudar velhinhos desamparados e que não
conseguem nem levar sua própria mala. E além, disso, não responder mais nenhuma
pergunta envolvendo o Rocha Loures, pois isto já bastava, apesar da insistência
dos procuradores. E seguimos:
Vossa Excelência
confirma ter estado com Joesley Batista, Presidente do Grupo J&F Investimentos
S/A, em 7 de março de 2017 no Palácio do Jaburu, em Brasília, conforme referido
por ele em depoimento de fls. 42/51 dos autos do Inquérito no 4483?
Isto é pergunta que se faça? Todos já estão cansados de
saber que o Joesley foi recebido pelo Temer e este já declarou isto de alto e
bom som, por dias a fio. Que pergunta boba! E continuando:
Vossa Excelência tem
por hábito receber empresários em horários noturnos e sem prévio registro em
agenda oficial? Se sim, cite ao menos três empresários com quem manteve
encontros em circunstâncias análogas ao de Joesley Batista, após ter assumido a
Presidência da República.
Meus caros leitores, aí também já é demais. Pelo que alguns
disseram do Temer, como parlamentar ele costuma conversar com todos e em todos
os horários. Se ele fosse citar somente três, seria uma discriminação cruel,
por isso ele preferiu guardar a lista com mais de 3 mil páginas como ele, e não
responder à pergunta. Sigamos:
Existe algum fato
objetivo que envolva a pessoa de Vossa Excelência e seja passível de ser
revelado por Lúcio Bolonha Funaro ou Eduardo Cunha, em eventual acordo de
colaboração?
Vossa Excelência sabe
de algum fato objetivo que envolva o ex-ministro Geddel Vieira Lima e que possa
ser mencionado em acordo de colaboração premiada que eventualmente venha a ser
firmado?
Vossa Excelência
conhece Lúcio Bolonha Funaro? Que tipo de relação mantém ou manteve com ele? Já
realizou algum negócio jurídico com Lúcio Bolonha Funaro ou com empresas
controladas por ele? Quais?
Lúcio Bolonha Funaro
já atuou na arrecadação de fundos a campanhas eleitorais promovidas por Vossa
Excelência ou ao PMDB quando Vossa Excelência estava à frente da sigla? Se sim,
especificar a(s) campanha (s)
Estas questões são, no mínimo, redundantes e mostra, em
parte, que os professores, digo, procuradores, queriam apenas testar a
capacidade de Temer em descobrir pegadinhas. Será que o Temer conhecia o
Funaro? Pois o Eduardo Cunha desde aquela menção do Joesley que ele daria um
pensão para ele que ele já o havia esquecido.
No fundo no fundo os procuradores forçaram muito a barra neste
exame, e é até justificável, que o Temer tenha fugido da sala de aula com a
prova, pois vejam esta outra questão:
Em seguida, Joesley
Batista, em outros termos, mencionou que investigações envolvendo Eduardo Cunha
e Geddel Vieira Lima haviam tangenciado o Grupo J & F Investimentos SIA,
afirmando, com conotação de prevenção que estava de bem com Eduardo, ao que
Vossa Excelência interveio com a colocação ‘tem que manter isso, viu?’, tendo o
empresário complementado dizendo ‘todo mês’.
Alguém em sã consciência, pode responder a uma questão
destas? Meus leitores sabem que não, pois, como sabem que a grande piada do
nosso grande colaborador, o Lula é “eu
não sabia de nada”, já registrada em cartório para não ser usada por outros
humoristas, a grande piada do Temer é “tem
que manter isso, viu?’. Seria brincar com o fino do humor temeriano, o que seria um sacrilégio.
E por aí vão as perguntas, e paramos por aqui, porque o
Temer teria muitas outras preocupações além de “ter que manter isto”, como veremos.
E passemos ao assunto da semana, que foi o julgamento da
chapa Dilma/Temer pelo TSE. De fato, só a história deste processo já daria para
as risadas iniciais de nossos leitores.
Ele começou ainda em 2014, quando o Aécio se sentiu
ludibriado nos resultados da eleição, não porque teve menos votos, e sim,
porque, disse o PSDB, tinha sido “garfado”
pelo PT com um garfo sujo de propinas de um monte de empresas, como a Odebrecht,
que é hoje conhecida como a maior disseminadora da “cultura da propina” em todo o mundo. Dizem que atuou até nos
Estados Unidos, depois de propinar na América Latina, Ásia e África. Ou seja,
no ramo da propina, o Brasil é o maior inovador do mundo, com tecnologias
imbatíveis.
Dando sequência, imaginem, este processo, que se julgado a
tempo, poderia já ter cassado nossa musa, a Dilma, e dado a vitória a Aécio, passou
tanto tempo para ser julgado que, agora, que foi julgado, mesmo se o “requerente”, o PSDB, fosse vencedor,
teria que arranjar outro candidato para assumir, porque o Aécio, logo, logo,
poderá ser preso. E, pasmem, o processo só não foi arquivado por causa do
grande causídico, Gilmar Mendes, que “modéstia
às favas”, quis que o processo continuasse. Entenderam? Não? Não se
esforcem tanto para fazê-lo, porque é mesmo difícil de entender,
principalmente, quando no referido julgamento realizado esta semana, e do qual lhes falo, ele disse, que pediu a
continuação do processo somente de brincadeirinha.
O melhor para descrever o show de humor que foi este
julgamento, é encarando-o como uma peça de teatro, tal qual o Alto da
Compadecida, e onde, só não havia o João Grillo e Chicó, porque houve uma
mudança de nomes para não serem cobrados por Ariano pelos direitos autorais.
Mas, as cenas são tão hilárias que nada devem ao batizado do gato em Latim.
A peça se passa num ambiente suntuoso, de fundo escarlate,
onde há um balcão com brasões de ouro, e onde, atrás deles sentam-se os 7
personagens da peça. São eles, não necessariamente, na ordem de entrada em
cena: Admar Gonzaga, Gilmar Mendes, Tarcisio Neto, Napoleão Maia, Herman
Benjamim, Rosa Weber e Luiz Fucks. São eles os protagonistas do show.
O roteiro é conhecido e gira em torno do processo falado
acima movido pelo PSDB para cassação da chapa Dilma e Temer, que demorou tanto
para ser julgado que gerou o show que foi apresentado durante 3 dias aos
brasileiros e brasileiras. É que pelo tempo do processo, já estando a Dilma
fora e Temer quase também, pelo conjunto da obra, só havia para discutir se, o
que aconteceu durante estes 2 anos, faria parte do processo ou não. Ou seja,
foram encontradas muitas outras provas durante o tempo e todo o roteiro da
prova se resume em aceitar ou não que as provas estão vivas ou mortas.
E passamos, durante 3 dias ouvindo as argumentações de um
lado e de outro. Como ninguém podia argumentar que as provas não estavam vivas,
o grande problema era que uns queriam que elas fossem enterradas vivas e outras
que se recusavam a enterrá-las. E nós, todos os brasileiros, rindo à beça,
assistimos a este espetáculo fúnebre.
Eu penso que os mais brilhantes, entre os protagonistas foram,
de um lado, o Herman Benjamin, que se recusava a enterrar as provas, e do outro
lado o Gilmar Mendes que queria enterrá-las. No meio disto tudo, os outros se
dividiram e no final, por 4 x 3, resolveram enterrar as provas.
Mas, isto não foi feito assim de chofre, e sim, através de
debates, cuja hilariedade não fica a dever ao Viva o Gordo, ou a Chico City, só
para lembrar os programas de TV sem falar nas palhaçadas do Carequinha e do
Arrelia. Basta dizer que o Napoleão, num surto de raiva porque não deixaram seu
filho entrar no Tribunal, disse que a coisa poderia não terminar bem. Lá em Bom
Conselho, quando se diz isto é porque vai morrer gente. Mas, como tudo era um
show de humor, um Napoleão de Hospício, a mais ou a menos não fez muita
diferença.
Para mim o ponto alto do show foi o Gilmar Mendes dizer que
as provas deveriam ser enterradas porque se elas continuassem em cima da terra
brasílis, poderia haver um transtorno social e político de tal ordem que
poderiam acabar com as instituições. Ninguém riria disto se, logo no início do
show o Herman Benjamim, não tivesse disse que sua defesa para que as provas não
fossem enterradas era baseada nas palavras do pândego Gilmar. E, quase urinei
de rir quando o Gilmar declarou: “O TSE
não é para resolver problema política. As provas devem ser enterradas porque
gerariam um problema político”. Se ele não disse textualmente assim, foi
quase.
No final de sua participação, o Herman Benjamim disse a
frase que será usada no futuro para os cartazes de propaganda da peça:
“Eu, como juiz, recuso
o papel de coveiro da prova viva. Posso até participar do velório, mas não
carrego o caixão”.
E o ponto alto é o término da peça, quando 4 dos
protagonistas saem do palco levando um caixão, com a prova dentro dele
gritando: “Socorro, eu sou a prova viva,
de que o Brasil é um país que vai prá frente, oh, oh, oh, oh!”.
E a plateia entre atônita e risonha, deixa o teatro com um
ar de “déjà vu”, e já esperando pela
continuação do show. Foi realmente uma semana alucinante do ponto de vista
humorístico pelo término da ópera bufa descrita.
Para ser justo, o que sempre tento ser, não poderia deixar
de falar do Temer, mais um pouco, que
agora é capa de revista semanal, por ter acionado o serviço secreto brasileiro
para investigar o Fachin, ministro do STF que, segundo alguns, quer pegar o
Temer de qualquer jeito junto com o Janot. E o engraçado de tudo é que, segundo
a revista o Fachin também teria andado pelos ares no avião do Joesley Batista.
Então a semana termina com uma comédia que terminará na próxima, gerada pela
vingança do Temer dizendo: “Se eu andei,
o Fachin andou também!”.
No final das contas, o grande humor deste país é porque
todos desejam andar no avião de alguém, e se for de graça, melhor ainda. Que
tal o Temer, tal qual o Lula fez, criar a “Bolsa
Avião”?
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