“Anarriê
Monica de Bolle
Alguns casais eram anacrônicos,
outros de passo bem marcado. Dilma Rousseff e Michel Temer, Rosa Weber e Luiz
Fux. Mestre Gilmar Mendes puxou o Arraial do TSE, mas ofuscado foi pela grande
atuação do protagonista, o sanfoneiro Herman Benjamin. Foi ele quem deu o
grito: “Olha a cobra!”. Ao que quatro dos sete juízes responderam: “É
mentira!”. Anavantu.
Anavantu? Seguir em frente não
será nada fácil. Verdade que seguir em frente caso a chapa tivesse sido cassada
também seria difícil. O caminho da roça no Brasil estava bifurcado por dois
tipos de instabilidade antes do Arraial do TSE: para um lado, a incerteza do
pós-Temer e seus desdobramentos jurídicos, políticos, institucionais e
econômicos; para o outro, a incerteza do com-Temer e seus desdobramentos
jurídicos, políticos, institucionais e econômicos. Há no Brasil coro crescente
que insiste na tese “ruim com Temer, pior sem Temer”. Essa tese ignora que em
qualquer caminho haveria o grito: “Olha a chuva!”. E a verdade indigesta da
resposta: “Não é mentira!”.
Sob chuva intensa, reagem os
mercados à perspectiva de que tenhamos outra dura temporada de turbulências
pela frente. A denúncia de Janot, as delações de Palocci, Funaro, Rocha Loures,
o embate de Temer com Fachin. Tudo isso contribui para desestabilizar as
expectativas e descarrilar o pouco da economia brasileira que começava a dar
alguns sinais tênues de recuperação. As projeções de crescimento já não excluem
a possibilidade de mais um ano de recessão no País, ainda que a queda esperada
da inflação à frente possa vir a produzir algum ganho salarial real. É cedo
para afirmar, como disse Temer no dia da divulgação do IPCA de maio, que o
poder de compra aumentou. Afinal, com o desemprego ainda em alta, difícil é a
disseminação generalizada do alívio inflacionário, ainda que salários estejam
sendo corrigidos pela inflação passada. A perspectiva de maior volatilidade
cambial tampouco ajuda o Banco Central, mesmo com a queda inflacionária – é
possível que a autoridade monetária, em algum momento, tenha de reduzir o ritmo
dos cortes de juros, como parece ter sinalizado na ata da última reunião. Por
fim, dificilmente se cumprirá a meta fiscal deste ano ante a piora generalizada
do quadro brasileiro.
O risco é que Temer siga, de modo
mais insidioso, a mesma trilha de Dilma Rousseff quando dos últimos suspiros de
seu mandato. Já se fala em pacote de bondades, já se aventa a possibilidade de
mais crédito público, já se discute como usar as manivelas do setor público para
impedir que a economia entre novamente em espiral negativa. Já é fato que Temer
terá, inevitavelmente, de gastar mais capital político para frear a sanha dos
governadores e políticos que o veem mortalmente ferido, apesar do Arraial do
TSE. Tudo isso conspira para que as eleições de 2018 deem guarida a clamores
populistas e aventureiros sonhadores. Se assim for, o Brasil caminhará,
novamente, na contramão do mundo.
Muito foi dito sobre a sedução do
populismo e do nacionalismo nas economias maduras, mas a realidade tem mostrado
que a solidez institucional acaba por vencer esses ímpetos com mais celeridade
do que se supunha. Na Grã-Bretanha, o tiro de Theresa May saiu pela culatra ao
perder a maioria no parlamento e, com ela, a possibilidade de que consiga emplacar
seu “hard Brexit”, a ruptura mais brusca com a União Europeia. Nos EUA, Donald
Trump não consegue avançar com sua agenda legislativa enroscado que está com as
investigações sobre o envolvimento dos russos nas eleições americanas,
alegações de que membros de seu governo estejam implicados na esparrela, além
das brigas que trava dia sim outro também com aliados, com a imprensa, com o
ex-diretor do FBI. Ainda que possa ser prematuro tomar a França como exemplo, o
fato é que o fenômeno Macron sugere fortemente que a eliminação do populismo se
dá não pela direita ou esquerda, e sim pelo centro radical. É esse centro
radical que alguns políticos no Brasil ainda têm a chance de buscar até 2018,
punhado de políticos que não tenham ligações escusas e que pertençam a siglas
que jamais vão a lugar algum, haja vista a paralisia que as engessa na
antiguidade.
O Brasil precisa rapidamente
descobrir o seu Macron para não acabar no retrocesso, anarriê. Portanto,
anavan, com Temer ou sem Temer.”
--------------
AGD Comenta:
A Mônica de Bolle é uma
economista, que trabalha fora do país. Mas, quem nasce neste Brasil nunca
esquece da “quadrilha”, não, não é a quadrilha de políticos que
estão sendo presos por roubarem o erário, e sim, aquela festa, de origem
portuguesa, que abrilhanta os festejos juninos.
E foi o título do seu texto acima
que me chamou a atenção para aqui reproduzi-lo: Anarriê. Quem já não ouviu este
grito neste mês de junho? No entanto, o que mais se trata no Brasil de hoje é
da “quadrilha”, referente a fatos
policiais.
Este é um triste mês de junho,
realmente, para os nossos amados santos juninos, Santo Antônio, São João, e São
Pedro. Destes, dizem o único que mentiu foi São Pedro, mas se recuperou, sendo
um baluarte na disseminação do cristianismo no mundo, mesmo depois de entregar
Jesus.
A pergunta que se faz hoje, é se
o Brasil deve acreditar que o Temer se redima ou mandá-lo logo aos leões. Eu
tenho dúvidas estatísticas quanto a isto.
Penso 60% por cento das vezes que
o Temer deveria ir com a “cobra” da quadrilha. E os outros 40% que ele
deve ficar porque o Brasil precisa das reformas que ele prometeu e que até
começou a fazer.
O grande problema, e daí minhas
percentagens, é que, enquanto ficamos com o Temer, há um grande malefício, no
aspecto moral, para que o Brasil continue com nossa justiça, perdoando crimes
em nome do Brasil. Isto só na guerra, e olhe lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário