“Símbolos nacionais
Por DENIS LERRER ROSENFIELD
Grandes empresários deveriam ser
símbolos de sucesso, empreendedorismo e retidão. Homens feitos por si mesmos em
processos concorrenciais de que saíram vitoriosos. Apareceriam, então, como
exemplos a serem seguidos tanto por jovens em início de carreira quanto por
aqueles que seriam objeto de emulação.
Uma sociedade se organiza em
função de exemplos a seguir, numa encarnação de valores a serem repetidos. O
mundo empresarial deveria, nesse sentido, mostrar o caminho dos que pretendem o
sucesso na vida econômica, sem descuidar, evidentemente, de que esse sucesso
obedeça a regras do ponto de vista moral e jurídico. Não se trata de um
vale-tudo no absoluto desconhecimento do compromisso com valores éticos.
O Brasil, no longo reinado
lulopetista, com suas consequências agora aparecendo, deu mostras de condutas
que não deveriam ser imitadas. Seriam a expressão de um sucesso a ser obtido a
qualquer preço, como se o mundo das regras jurídicas e de mercado fosse
considerado simplesmente na perspectiva de sua perversão. Seu capitalismo seria
o do compadrio, tornando-se progressivamente o dos comparsas.
Quais eram os símbolos nacionais
que se vinham destacando? Quem era apresentado como caso de sucesso,
preenchendo capas de revista, propagandas, notícias, redes sociais, o mundo
televisivo? Marcelo Odebrecht, os irmãos Batista da JBS, Eike Batista e outros.
Todos têm em comum estreitas relações com o ex-presidente Lula – embora todos
procurem agora minimizar esse fato, o próprio Lula incluído. De repente,
tornaram-se desconhecidos, como se num passe de mágica tudo o que fizeram
juntos tivesse sido apagado.
É bem verdade que nesse
relacionamento de compadrio Lula foi somente o líder máximo, tendo sido
acompanhado por todo um submundo em que compareceram não apenas os petistas,
mas a maioria dos outros partidos, numa espécie de partilha dos bens nacionais.
Estabeleceu-se uma triangulação entre políticos, empresários e executivos de
empresas estatais e bancos públicos, baseada tanto no enriquecimento pessoal e
no sucesso das empresas quanto no financiamento de partidos políticos. Convém
ressaltar que isso não ficou limitado a um falseamento da concorrência,
restringindo severamente as condições de uma economia de mercado, mas terminou
evoluindo para um complexo esquema de corrupção que permeou todo o aparelho
estatal.
O saqueio da Petrobrás ilustra
muito bem a que ponto esse processo foi conduzido, espalhando-se para outras
empresas e bancos públicos. Os compadres evoluíram para comparsas. O mundo da
política tornou-se o da polícia; o mundo empresarial, o do crime.
A Lava Jato tem o grande mérito
de ter desvendado essa trama. Graças ao incansável trabalho de juízes,
desembargadores, promotores, procuradores e policiais federais esse submundo
veio à tona, expondo a corrupção que tomou conta do Estado, dos partidos e de
parte do mundo empresarial. A delação premiada, nesta perspectiva, foi um
instrumento da máxima importância.
Marcelo Odebrecht está preso, o
nome de sua empresa aparece agora como símbolo de corrupção e descaso com os
bens públicos. Os donos lutam por sua sobrevivência, imersos nos mais distintos
tipos de problemas. Foram comidos por sua própria voracidade.
Eike Batista, outrora símbolo do
rápido sucesso empresarial, cortejado por muitos e dono de muito boa capacidade
de comunicação, pena em processos criminais. Seu império se desmanchou como um
castelo de cartas, mostrando não ter uma base real. Sua imagem é um exemplo do
que não pode ser repetido.
Os irmãos Batista, com destaque
para Joesley, são um caso à parte. Não por não serem compadres e comparsas, mas
por exporem à Nação que o crime compensa. Foram comparsas em grau máximo, mas
pretendem se vender como vítimas e, pior ainda, como partícipes de um processo
de revelação da corrupção. De bandidos pretendem parecer mocinhos.
Acontece que a sociedade
brasileira, que manteve a sanidade e o bom senso no que diz respeito aos seus
valores, embora tenha sido ludibriada eleitoralmente, insurge-se contra o
espetáculo político-policial da corrupção. Os irmãos Batista continuam sendo
vistos como bandidos que devem ser exemplarmente punidos.
Eles, porém, conseguiram um
acordo de delação que os isenta da punição. Um dos irmãos, Joesley, num ato de
completo descaramento, sem nenhum tipo de vergonha, logo embarcou com a família
para Nova York, em avião particular, para usufruir o luxo de sua vida de
criminoso bem recompensado. Seu iate foi para os Estados Unidos, para melhor
desfrutarem suas regalias. E o mais grave: com o beneplácito e o apoio da
Procuradoria-Geral da República.
A Lava Jato mostrou que a delação
é um meio para obter provas, não um fim em si mesmo. O que estamos observando,
contudo, é uma busca desenfreada por delações, como se fossem seu próprio fim.
Ora, delações são, ou deveriam ser, instrumentos de punição, não ferramentas de
impunidade.
O resultado é uma completa
inversão de valores. Os Batistas chegam a reclamar candidamente de que estariam
sofrendo “retaliações” do governo, como se o seu acordo com a Procuradoria
fosse um salvo-conduto para que sua vida empresarial – e pessoal – continuasse
“normalmente”. Fizeram um grande caixa para atravessar este período.
Esqueceram-se de combinar com os russos. Seus fornecedores não mais querem
vender-lhes seus produtos. Os clientes não mais querem comprá-los. Bancos
públicos e privados querem segurança do que lhes foi emprestado. A Comissão de
Valores Mobiliários investiga suas operações.
E a sociedade quer dar um basta a
tudo isso!”
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AGD Comenta:
Lendo o texto acima, logo pelo
título, pensamos em Bandeira, Hino e Brasões que são os Símbolos Nacionais. E
eu pensei, mais uma xaropada daquelas louvando o patriotismo. Mas, o autor, que
é professor de Filosofia não cai nesta esparrela.
E tece considerações em que mostram
que os símbolos nacionais podem ser os mais diversos, e hoje, a Lava Jato ainda
é o maior deles, embora, tal qual os outras símbolos tradicionais, muitos
querem esquecer e até destruir.
E vai ao ponto central de tudo que
hoje ocorre. Foi a partir dos governos petistas que a corrupção se transformou
num símbolo nacional. Talvez, não tenha sido o Lula o mentor intelectual da
façanha, pois, penso eu, ele não tem capacidade para isto.
Eu acuso o José Dirceu (que hoje
já está solto por obra e graça do STF), em sua decepção por não poder construir
um regime socialista aqui e não poder ser o Fidel tupiniquim, que, passou a
fazer do erário o seu bolso. Dilma nem conta porque nunca passou de uma “pau mandado” do Lula.
No entanto, isto não inocenta
Lula, e nem mesmo aqueles que viam isto em sua frente e ao invés de tentarem
coibir o processo de deturpação dos símbolos nacionais, dele se locupletaram. E
nisto estão envolvidos com os outros partidos, quase todos, e os mandantes ou
postulantes de plantão.
O que se espera agora é que a Lava
Jato continue com um “símbolo
nacional”, como já reconhecido
internacionalmente, como mostrou a primeira ministra da Noruega, ao Michel
Temer em sua última viagem (sem trocadilho fúnebres), o que nos envergonhou
muito.
Precisamos que a Lava Jato acabe
cumprindo sua missão de depurar a política no país e que os verdadeiros
símbolos passem a serem respeitados novamente.
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