Por Zezinho de Caetés
Em texto deste dia 29 último no O Globo, o Elio Gaspari fala
sobre as benesses que o Brasil está fazendo à Africa. Ele intitula seu texto de
“Dilma, a mãe dos cleptocratas”. Eu,
em princípio achei até que era outro assunto, mas o texto versava sobre velho e
bom “imperialismo” que vai desde
Roma, passando pela Inglaterra e agora pousando sobre os Estados Unidos.
No fundo, no fundo, as atitudes de países são diferentes das
atitudes das pessoas uns com os outros, mas, no final das contas sempre
predominam os indivíduos. E aqui tenta se estender a política de transferência
de renda entre as pessoas por aquela entre países.
Mas, não dá para esquecer que perdoar a dívida de certos
países africanos, mesmo que isto possa ser positivo do ponto de vista econômico
para o país, é também um ato de imoralismo político, quando se sabe que os
dirigentes de certos países são ditadores cruéis e sanguinários.
Então, ao mesmo tempo que não temos nada de novo debaixo do
sol, poderíamos, pelo menos escolher melhor a quem perdoar. Fiquem com o curto
e objetivo texto do Elio Gaspari, que eu vou tentar o perdão do seu Ladislau,
lá na padaria, pois a dívida está alta.
“Com a prodigalidade de uma imperatriz, a doutora Dilma anunciou em
Adis Abeba que perdoou as dívidas de doze países africanos com o Brasil. Coisa
de US$ 900 milhões. O Congo-Brazzaville ficará livre de um espeto de US$ 352
milhões.
Quem lê a palavra “perdão” associada a um país africano pode pensar num
gesto altruísta, em proveito de crianças como Denis, que nasceu na pobre
província de Oyo, num país assolado por conflitos durante os quais quatro
presidentes foram depostos e um assassinado, cuja taxa de matrículas de
crianças declinou de 79% em 1991 para 44% em 2005. No Congo Brazzaville 70% da
população vivem com menos de US$ 1 por dia.
Lenda. Denis Sassou Nguesso nasceu na pobre província de Oyo, mas se
deu bem na vida. Foi militar, socialista e estatizante. Esteve no poder de 1979
a 1992, voltou em 1997 e lá permanece, como um autocrata bilionário privatista.
Tem 16 imóveis em Paris, filhos riquíssimos e seu país está entre os mais
corruptos do mundo.
Em tese, o perdão da doutora destina-se a alavancar interesses
empresariais brasileiros. Todas as dívidas caloteadas envolveram créditos de
bancos oficiais concedidos exatamente com esse argumento. As relações
promíscuas do Planalto com a banca pública, exportadores e empreiteiras têm uma
história de fracassos.
O namoro com Saddam Hussein custou as pernas à Mendes Junior e o campo
de Majnoon à Petrobras. Em 2010 o soba da Guiné Equatorial, visitado por Lula
durante seu mandarinato, negociava a compra de um tríplex de dois mil metros
quadrados na Avenida Vieira Souto. Coisa de US$ 10 milhões.
Do tamanho de Alagoas, essa Guiné tem a maior renda per capita da
África e um dos piores índices de desenvolvimento do mundo.
O repórter José Casado chamou a atenção para uma coincidência: em 2007,
quando a doutora Dilma era chefe da Casa Civil, o governo anunciou o perdão de
uma dívida de US$ 932 milhões.
Se o anúncio de Adis Abeba foi verdadeiro, em seis anos a Viúva morreu
em US$ 1,8 bilhão. Se foi marquetagem, bobo é quem acredita nele.
O Brasil tornou-se um grande fornecedor de bens e serviços para países
africanos e a Petrobras tem bons negócios na região.
As empreiteiras nacionais têm obras em Angola e na Líbia. Lá, tiveram
uma dor de cabeça quando uma revolta derrubou e matou Muamar Kadafi, um “amigo,
irmão e líder”, segundo Lula. Acolitado por empresários, seu filho expôs em São
Paulo uma dezena de quadros medonhos.
Em Luanda os negócios vão bem, obrigado, e a filha do presidente José
Eduardo Santos é hoje a mulher mais rica da África, com um cofrinho de US$ 2
bilhões. Ela tem 39 anos e ele está no poder há 33.
Se o Brasil não fizer negócios com os sobas, os chineses farão, assim
como os americanos e europeus os fizeram.
A caixinha de Kadafi para universidades inglesas e americanas, assim
como para a campanha do presidente francês Nicolas Sarkozy, está aí para provar
isso. Contudo, aos poucos a comunidade internacional (noves fora a China)
procura estabelecer um padrão de moralidade nos negócios com regimes
ditatoriais corruptos.
A doutora diz que “o engajamento com a África tem um sentido
estratégico”. Antes tivesse. O que há é oportunismo, do mesmo tipo que ligava o
Brasil ao colonialismo português ou aos delírios de Saddam Hussein e do “irmão”
líbio.”
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