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quarta-feira, 1 de maio de 2013

Gestão do trabalho e nem sempre do trabalhador.





Por Carlos Sena (*)

“RH” sai um pouco da cena organizacional, principalmente da rede pública de saúde. Assume essa postura um novo nome, se não tão novo, mais o da moda administrativa do SUS. Nada contra nem a favor de nomes, nem de batismos que se dão a determinados momentos da vida das repartições públicas, posto ser dessas, a nossa maior inserção profissional. Algo como a roupa que não faz o Monge. O Monge das relações interpessoais que tanto revés tem passado com o advento de uma cepa de técnicos que ocupam cargos de destaque na área, mas sem o verniz necessário para cuidar do trabalho e do trabalhador. Entenda-se por “verniz” um conjunto holístico de combinações técnicas com a formação universitária, com a compreensão do SUS, com o sentimento do trabalho e do trabalhador indissociáveis do processo de trabalho. Não bastasse tudo isso, também precisa, quem gerencia trabalhadores, do senso do humano, da capacidade de compreender o que seja Assédio Moral, de compreender que servidores têm sexo e várias sexualidades e que a pluralidade humana se explica na singularidade de cada ser. No quesito sensibilidade para compreender os trabalhadores é que uma boa parte claudica no seu dia a dia profissional. Há gestores do trabalho e gestores do trabalhador e, por conseguinte, muito poucos DO TRABALHO E DO TRABALHADOR. Um gestor de relações do trabalho só se preocupa prioritariamente com o que o Gestor maior quer e determina. No caso, o Prefeito, o Secretário municipal ou estadual, o Ministro, etc... É o tipo do gestor de “encomenda” – faz tudo que o “chefe” manda e vende até a mãe pra não perder a “boquinha” financeira do final do mês. Os servidores? Esses podem se explodir! Vale o que o chefe disse que é pra ser feito. Propor? Propor o quê? Afinal, na rede SUS só existe o médico e o resto se conforma sendo o resto, inclusive para o gestor do trabalho que não sabe ser também do trabalhador. Ou mesmo sabendo, não se interessa, politicamente por isso, porque é mais cômodo viver em área de conforto nos gabinetes geladinhos regada a cafezinho, água gelada e boa conversa.

Um dos aspectos que mais incomoda ao bom gestor do TRABALHO E DO TRABALHADOR é o Assedio Moral. Esse é o ponto que divide os dois tipos de gestores. Nesse diapasão as ouvidorias não prosperam, porque simplesmente as denuncias não são avaliadas e encaminhadas. Com isso, tem caído em descréditos as ouvidorias no serviço público do Brasil, pois vira um pouco de jogo de empurra em que o cidadão denuncia, tem a promessa de retorno mas, o retorno não vem. Ou quando vem é com evasiva por resposta – arrumadinhos que os gestores fazem para se defenderem ou defenderem seus compadres e comadres desse ainda recalcitrante compadrio institucional. Assim, tanto o cidadão usuário quanto os servidores ficam querendo reclamar ao “bispo”, como se diziam no passado. O que piora muito nesse quesito é saber que os maiores assediadores morais do serviço público são aqueles GESTORES Do Trabalho que antes de serem governos viviam gritando nas ruas contra tudo que hoje boa parte deles pratica contra os trabalhadores.

Nesse cenário desolador, os gestores do trabalho e dos trabalhadores que estão na arquibancada, ficam presenciando o espetáculo da inercia e do abandono a que os servidores ficam submetidos. Gestão por competência? Nem pensar. Por resultados? Até se pode pensar, desde que o resultado seja para a casta que já vem sendo privilegiada sempre. Não se fale de médicos aqui. Os médicos muitas vezes são colocados no papel de vilão, mas não são. Acontece de até coincidir, mas não necessariamente. Fato é que os trabalhadores do nosso serviço público estão vivendo aí a mingua com salários que não dão dignidade nem cidadania. Mas os nossos gestores só tem conseguido ser do TRABALHO não do trabalhador. Quem duvidar disso, observe a formação de boa parte dos que hoje estão mandando nas nossas relações do trabalho: no geral tem formação disforme daquela que seria importante para se estabelecer uma política em que se busque um ponto de equilíbrio entre o trabalho e o trabalhador e o governo. O que é uma formação disforme? É aquela em que a pessoa se prepara para uma área do conhecimento na Universidade e que, por motivos diversos, ela é colocada na gestão do trabalho – algo como colocar “qualquer pessoa serve” porque os trabalhadores já têm o pão e o circo e nem irão se incomodar com quem entre ou com quem saia da gestão. Engano. Os trabalhadores nem tem o pão nem tem o circo, mas tem sua culpa pela passividade que endoculturaram. Isso se explica pela grande volume de pessoas que transitam nas instituições públicas na forma de celetista, bolsista, concursado efetivo, contratado sem processo seletivo ou com, que ganham salário por recibo, por empenho, etc... E não há  reação dos servidores, nem mesmo por alguns sindicatos oficiais deles.

Esse cenário é uma cama fofinha num quarto com ar condicionado Split e tudo para o gestor do trabalho deitar e dormir. Para um gestor do trabalho e do trabalhador, ai são outros quinhentos, porque logo ele sai do cargo porque começa a incomodar o “patrão” e isso não é bom. Certamente que um gestor do Trabalho e do Trabalhador não fará milagre. Mas aquele que é apenas do trabalho, além de não fazer milagre, ajuda na construção de novas “igrejas”  dentro do serviço público iguais aquelas de “edir macedo” e silas malafaia” (em minúsculo para não dá valor a quem não tem). Assim, sem querer ser analista de sistema público de gestão do trabalho, abuso do direito de pensar e dizer acerca de quem sabe e não sabe ser profissional de trabalho, que é infinitamente diferente de quem é gestor do trabalho e do trabalhador. Certo que há quem não ache diferença entre os termos trabalho e trabalhador, mas há e muita. O trabalho é conceito de atividade. O trabalhador é aquele que processa o conceito e lhe dá uma realidade concreta de exequibilidade.

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 25/03/2013

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