Por Carlos Sena (*)
“RH” sai um pouco da cena
organizacional, principalmente da rede pública de saúde. Assume essa postura um
novo nome, se não tão novo, mais o da moda administrativa do SUS. Nada contra
nem a favor de nomes, nem de batismos que se dão a determinados momentos da
vida das repartições públicas, posto ser dessas, a nossa maior inserção
profissional. Algo como a roupa que não faz o Monge. O Monge das relações
interpessoais que tanto revés tem passado com o advento de uma cepa de técnicos
que ocupam cargos de destaque na área, mas sem o verniz necessário para cuidar
do trabalho e do trabalhador. Entenda-se por “verniz” um conjunto holístico de
combinações técnicas com a formação universitária, com a compreensão do SUS,
com o sentimento do trabalho e do trabalhador indissociáveis do processo de
trabalho. Não bastasse tudo isso, também precisa, quem gerencia trabalhadores,
do senso do humano, da capacidade de compreender o que seja Assédio Moral, de
compreender que servidores têm sexo e várias sexualidades e que a pluralidade
humana se explica na singularidade de cada ser. No quesito sensibilidade para
compreender os trabalhadores é que uma boa parte claudica no seu dia a dia
profissional. Há gestores do trabalho e gestores do trabalhador e, por
conseguinte, muito poucos DO TRABALHO E DO TRABALHADOR. Um gestor de relações
do trabalho só se preocupa prioritariamente com o que o Gestor maior quer e
determina. No caso, o Prefeito, o Secretário municipal ou estadual, o Ministro,
etc... É o tipo do gestor de “encomenda” – faz tudo que o “chefe” manda e vende
até a mãe pra não perder a “boquinha” financeira do final do mês. Os
servidores? Esses podem se explodir! Vale o que o chefe disse que é pra ser
feito. Propor? Propor o quê? Afinal, na rede SUS só existe o médico e o resto
se conforma sendo o resto, inclusive para o gestor do trabalho que não sabe ser
também do trabalhador. Ou mesmo sabendo, não se interessa, politicamente por
isso, porque é mais cômodo viver em área de conforto nos gabinetes geladinhos
regada a cafezinho, água gelada e boa conversa.
Um dos aspectos que mais incomoda
ao bom gestor do TRABALHO E DO TRABALHADOR é o Assedio Moral. Esse é o ponto que
divide os dois tipos de gestores. Nesse diapasão as ouvidorias não prosperam,
porque simplesmente as denuncias não são avaliadas e encaminhadas. Com isso,
tem caído em descréditos as ouvidorias no serviço público do Brasil, pois vira
um pouco de jogo de empurra em que o cidadão denuncia, tem a promessa de
retorno mas, o retorno não vem. Ou quando vem é com evasiva por resposta –
arrumadinhos que os gestores fazem para se defenderem ou defenderem seus
compadres e comadres desse ainda recalcitrante compadrio institucional. Assim,
tanto o cidadão usuário quanto os servidores ficam querendo reclamar ao
“bispo”, como se diziam no passado. O que piora muito nesse quesito é saber que
os maiores assediadores morais do serviço público são aqueles GESTORES Do Trabalho
que antes de serem governos viviam gritando nas ruas contra tudo que hoje boa
parte deles pratica contra os trabalhadores.
Nesse cenário desolador, os
gestores do trabalho e dos trabalhadores que estão na arquibancada, ficam
presenciando o espetáculo da inercia e do abandono a que os servidores ficam
submetidos. Gestão por competência? Nem pensar. Por resultados? Até se pode
pensar, desde que o resultado seja para a casta que já vem sendo privilegiada
sempre. Não se fale de médicos aqui. Os médicos muitas vezes são colocados no
papel de vilão, mas não são. Acontece de até coincidir, mas não
necessariamente. Fato é que os trabalhadores do nosso serviço público estão
vivendo aí a mingua com salários que não dão dignidade nem cidadania. Mas os
nossos gestores só tem conseguido ser do TRABALHO não do trabalhador. Quem
duvidar disso, observe a formação de boa parte dos que hoje estão mandando nas
nossas relações do trabalho: no geral tem formação disforme daquela que seria
importante para se estabelecer uma política em que se busque um ponto de
equilíbrio entre o trabalho e o trabalhador e o governo. O que é uma formação
disforme? É aquela em que a pessoa se prepara para uma área do conhecimento na
Universidade e que, por motivos diversos, ela é colocada na gestão do trabalho
– algo como colocar “qualquer pessoa serve” porque os trabalhadores já têm o
pão e o circo e nem irão se incomodar com quem entre ou com quem saia da
gestão. Engano. Os trabalhadores nem tem o pão nem tem o circo, mas tem sua
culpa pela passividade que endoculturaram. Isso se explica pela grande volume
de pessoas que transitam nas instituições públicas na forma de celetista,
bolsista, concursado efetivo, contratado sem processo seletivo ou com, que
ganham salário por recibo, por empenho, etc... E não há reação dos servidores, nem mesmo por alguns
sindicatos oficiais deles.
Esse cenário é uma cama fofinha
num quarto com ar condicionado Split e tudo para o gestor do trabalho deitar e
dormir. Para um gestor do trabalho e do trabalhador, ai são outros quinhentos,
porque logo ele sai do cargo porque começa a incomodar o “patrão” e isso não é
bom. Certamente que um gestor do Trabalho e do Trabalhador não fará milagre.
Mas aquele que é apenas do trabalho, além de não fazer milagre, ajuda na construção
de novas “igrejas” dentro do serviço
público iguais aquelas de “edir macedo” e silas malafaia” (em minúsculo para
não dá valor a quem não tem). Assim, sem querer ser analista de sistema público
de gestão do trabalho, abuso do direito de pensar e dizer acerca de quem sabe e
não sabe ser profissional de trabalho, que é infinitamente diferente de quem é
gestor do trabalho e do trabalhador. Certo que há quem não ache diferença entre
os termos trabalho e trabalhador, mas há e muita. O trabalho é conceito de
atividade. O trabalhador é aquele que processa o conceito e lhe dá uma
realidade concreta de exequibilidade.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 25/03/2013
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