Por Zezinho de Caetés
Semana passada li no Blog do Noblat (11/05/2013) um texto do
jornalista Ruy Fabiano, e que me chamou a atenção pelo título: “Adultério ideológico”. A partir dele,
minha cabeça pôs-se a rodar já pensando no caso do adultério do Lula com a
Rose, porque, nestes mesmo dias, li em algum lugar, de quem gosta de fazer
certas contas, que eram 171 dias sem que o meu conterrâneo comentasse esta
relação fora do casamento, com a Rose Noranho. Pensei que o “ideológico”, do título se referisse à
ideologia do Lula, que antes se resumia a um “goró” e agora ele poderia ter estendido o seu significado, como por
exemplo, incluindo ficar rico, dando palestras onde não fala nada e as pessoas
acreditam em tudo que ele falou.
Mas, estava enganado. O problema é, que depois do
Demóstenes, que caiu dentro da cachoeira tempos atrás, um dos políticos
liberais de quem tive notícias neste país quase dominado pelo socialismo bolivariano,
foi o Guilherme Afif Domingos, de São Paulo, que também se dizia liberal, e eu
jamais, em tempo algum poderia pensar, pelo que ele disse da presidenta um dia,
que ele hoje fosse um dos seus ministros, hoje.
A Dilma, até que enfim criou o seu 39º ministério, mostrando
mais uma vez de que se este é um país sem miséria, também é um país sem
vergonha. São cargos e funções criados aos montes para realizar o sonho do
poder eterno, ou pelo menos até que o câncer os separe. Mesmo, com o câncer
sempre se encontrará alguém Maduro, para completar a obra, como na Venezuela.
E o caso do Ministro da Micro e Pequena Empresa, que é do
PSD, se não bastasse a desfaçatez quando se compara o que ele pensava com o que
ele hoje diz, é ainda vice-governador do mais rico estado da Federação, São
Paulo, e diz que não vai soltar este osso de jeito nenhum.
É um imbróglio próprio do Brasil e de seu poderes, mas fiquem
com o Ruy Fabiano, porque, agora eu vou ver a sessão da câmara de deputados que
concluirá a votação da chamada MP dos Portos, que Garotinho chamou de MP do
Porcos, para que ela siga para o Senado, onde há 80 senadores esperando por
ela, para colocar nela suas impressões digitais de aprovação. E, note-se que é
uma boa MP, se existe isto mesmo. Estamos nos estertores de nossa capacidade
portuária. Mas, a forma como o executivo age, com sua mega base alugada,
levou-nos a esta vergonha do legislativo. A coisa está feia. Neste caso não
haverá adultério, e sim estupro.
“Mais esdrúxula que a adesão de um liberal histórico a um governo que
se proclama de esquerda – caso da nomeação de Guilherme Afif Domingos a
ministro-chefe da Secretaria da Micro e Pequena Empresa -, é a acumulação de
cargos daí decorrente.
Afif, que é do PSD, é também vice-governador de São Paulo, cargo que,
num gesto surpreendente, se recusou a deixar ao ser nomeado ministro. Baseia-se
num suposto vazio legal quanto à matéria, o que lhe autorizaria a acumulação.
Ainda que assim fosse – há controvérsias -, não há como deixar de
considerar alguns fatores, de ordem ética e política, que resultam dessa
insólita acumulação de funções.
Do ponto de vista ético (que tem também implicações políticas), quebra-se
o princípio bíblico do “não se pode servir a dois senhores”. Afif servirá
simultaneamente à presidente Dilma, que é do PT, e ao governador Geraldo
Alckmin, que é do PSDB.
Se conseguir levar essa acrobacia até o fim, terá logrado, de quebra,
outra façanha, de ordem metafísica: provar o equívoco de uma sentença bíblica.
Não é tarefa fácil.
Dentro de um ano, terá início a campanha sucessória, e ambos os
“senhores” de Afif – Dilma e Alckmin – serão candidatos à reeleição, sem
qualquer chance de aliança: o candidato de Dilma em São Paulo enfrentará
Alckmin e este apoiará o tucano (Aécio Neves?) que enfrentará Dilma.
Não se sabe como procederá o ministro-vice-governador Afif, pois,
enquanto estiver ministro, terá de ser braço político de Dilma junto aos
pequenos empresários, para que estes votem e se engajem na sua reeleição – ou
alguém imagina que a presidente criou mais uma pasta (a 39ª!) por razões de
ordem técnica?
Criou-a porque sabe que esse segmento é amplo e influente e pode lhe
gerar votos, muitos votos. Afif não foi nomeado por ser o especialista que é na
matéria. Poderia até não ser.
Afinal, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), ao assumir o cargo de
ministro da Pesca, confessou não saber nem pendurar uma minhoca no anzol. “O
cargo é político”, disse ele.
De fato, assim têm sido as nomeações, que contemplam partidos da base -
ou, como no caso do PSD, partidos que, em decorrência da nomeação, passam
formalmente a integrá-la.
Como ministro de Dilma, Afif terá que se engajar no esforço eleitoral
que, desde já, move a base governista. Ao mesmo tempo, é vice de um tucano, a
quem deve lealdade (pelo menos em tese), e que trabalhará em sentido oposto ao
de sua chefe federal.
Esses são os imbróglios ético-políticos, que não costumam ser obstáculo
nos dias de hoje a muita coisa (afinal José Genoíno e João Paulo Cunha,
condenados pelo STF, votaram há dias na Comissão de Constituição e Justiça da
Câmara dos Deputados a admissibilidade de uma emenda constitucional que tira
poderes da Corte que os condenou em instância final).
Mas Afif terá que enfrentar ainda questionamentos judiciais. O vazio
legal que, segundo seu entendimento, o beneficia, está sendo contestado por um
deputado estadual, Carlos Giannazi (PSol), que pede sua cassação do cargo.
A Constituição do Estado de São Paulo, ao estabelecer direitos e
deveres do governador, o impede de acumular cargos. Mas nada diz quanto ao
vice.
Ora, se o vice é o sucessor legal e imediato do governador, não é
preciso ser nenhum jurisconsulto para entender que, assim como os votos que
elegeram o titular se estenderam ao vice, ambos estão submetidos ao mesmo
código de conduta expresso na constituição estadual.
Se Alckmin adoecer ou tiver que viajar ao exterior, Afif pedirá licença
a Dilma para assumir o governo de São Paulo? À margem de tudo isso (que não é
pouco), um constrangedor paradoxo: um liberal, que em princípio defende o
Estado mínimo, empenhado em manter-se duplamente a ele apegado. É o que se pode
chamar de um adultério ideológico completo.”
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