Por Zezinho de Caetés
Dias atrás li um texto que gostei muito e queria
transcrevê-lo aqui, mas, outras matérias foram tidas como prioritárias. Ele foi
publicado no Blog do Noblat em 19/07/2013, com o título de “Desacertos do BNDES”, do Rogério
Werneck, e mostra um dos grandes problemas da política econômica lulo/petista/dilmista.
O que o nobre economista diz é de uma clareza meridiana.
Todos sabem que a farra gastadeira do governo vem desde 2009
para eleger a Dilma e continua até hoje para reelegê-la. Os maus resultados já
estão aparecendo em termos de pressões inflacionárias e baixo crescimento, pois
os incentivos dados foram mais dirigidos ao consumo do que aos investimentos. E
nesta dança entrou até o BNDES com o desvirtuamento de suas funções de banco de
investimento para servir à política de poder do governo petista.
O que foi feito foi mais um engodo econômico onde se diz que
se faz uma coisa e se faz outra. O grande problema é que vivemos numa economia
mista, onde o governo ainda não controla todas as variáveis e não reconhece isto.
E o povo está sentindo na pele, pela dificuldade cada vez maior de se mover nas
grandes cidades, de receber tratamento médico, de educar os filhos com algum
padrão de qualidade, etc. quando se alardeia, através de uma propaganda
deslavada, um Brasil maravilha que só existe na cabeça dos marqueteiros do
Planalto.
Tudo se passa como aquele dono de casa que tomou cachaça a
noite toda, e gastou seu dinheiro na esbórnia, e para ter que dar maiores
explicações à família, passa no vizinho, toma dinheiro emprestado e entrega
para a mulher fazer a feira. Ainda se gaba de ser pontual no mensalão caseiro.
Com o tempo e com a repetição do gesto, os gastos com juros aumentam e as
quantias emprestadas aumentam para ele manter o padrão de vida. Até que o
vizinho começa a desconfiar de sua capacidade de pagamento e não o empresta
mais. Agora, ou ele diz a família a verdade ou vai para a África fazer
conferências. O mais provável é que a família passe fome.
E assim, continuamos, com os gastos, pois não queremos dizer
nada à família porque temos que eleger outra vez a Dilma. E o vizinho, no caso
o BNDES, já está tomando dinheiro emprestado à própria família para suprir o
marido gastão. E o ciclo continua até que o povo vá às ruas pedindo explicações
e exigindo transparência de onde vem o dinheiro.
No entanto, fiquem com o economista, que explica tudo,
tim-tim por tim-tim, que eu vou pedir um empréstimo para pagar uma geladeira
que comprei, financiada pelo BNDES. Sinto-me o próprio Eike Batista.
“Com o governo ainda aturdido com os protestos de junho, voltaram a
ganhar destaque na mídia más notícias sobre o BNDES. Tendo em conta o teor das
insatisfações que afloraram nas ruas e o retumbante fracasso da “nova matriz de
política econômica”, o mais provável é que a atuação do BNDES seja objeto de
críticas cada vez mais contundentes nos próximos meses.
É preciso ter em mente que a instituição se converteu em ponto de
confluência de vários dos piores desacertos da política econômica.
Para entender como se chegou a isso, vale a pena relembrar a paradoxal
estratégia de financiamento do crescimento proposta pelo ministro Guido
Mantega, em entrevista ao “Financial Times”, quando assumiu a pasta da Fazenda
em 2006: como o governo não contava com recursos para investir, a solução seria
recorrer ao investimento privado financiado com recursos do governo. Dito
assim, parecia ser apenas uma contradição em termos.
Mas a verdade é que, com a operosa ajuda do BNDES, essa ideia
despropositada seria afinal posta em prática, dando lugar a um enorme programa
de financiamento de investimentos bancado com dinheiro público, não obstante a
inegável carência de recursos do governo.
Se o Tesouro não dispunha de recursos, que então se endividasse para
fazer empréstimos subsidiados de longo prazo ao Banco. Estabeleceu-se, por fora
do Orçamento, uma ligação direta entre o Tesouro e o BNDES, através da qual
recursos provenientes da emissão de dívida pública passaram a ser transferidos
ao Banco, sem contabilização no resultado primário e sem que a dívida líquida
do setor público fosse afetada.
Desde 2007, cerca de R$ 370 bilhões foram transferidos do Tesouro ao
BNDES. E isso permitiu a montagem de gigantesco orçamento paralelo no BNDES.
Embora todos os recursos proviessem do Tesouro, passaram a conviver no Governo
Federal dois mundos completamente distintos.
De um lado, a dura realidade do Orçamento da União, em que se contavam
centavos. De outro, a Ilha da Fantasia do BNDES, nutrida com emissões de dívida
pública, em que parecia haver dinheiro para tudo.
Não chegou a ser uma surpresa que tanta fartura tenha dado lugar a um
clima de megalomania e dissipação no Banco, propício ao surgimento de agendas
próprias, missões inadiáveis e projetos de investimento grandiosos e
voluntaristas. Que têm abarcado desde programas de cerceamento deliberado da
concorrência para a formação de “campeões nacionais” ao desajuizado projeto do
trem-bala.
Como era de se esperar, as contas de muitas decisões impensadas já
começaram a chegar. E o Banco vem tendo de se desdobrar para explicar o
inexplicável. O maior desgaste político, contudo, ainda está por vir.
A decodificação dos protestos que tomaram as ruas do país, em junho,
continuará a ser, por muito tempo, matéria altamente controvertida. Mas, em meio
às insatisfações difusas que parecem ter inspirado as manifestações, foi
possível distinguir clara irritação com as deficiências dos serviços públicos e
a carência de investimentos em infraestrutura urbana, especialmente em
transporte de massa.
Vistos dessa perspectiva, os vultosos investimentos que vêm recebendo
financiamento subsidiado do BNDES, com dinheiro público advindo da emissão de
dívida pelo Tesouro, mostram notável descompasso com as prioridades populares.
Pouco ou nada dos 370 bilhões mobilizados desde 2007 foi efetivamente
canalizado para a redução das carências de investimento denunciadas nos
protestos de junho.
Boa parte foi destinada ao financiamento de investimentos no setor
elétrico e no setor petróleo. Em grande medida, a projetos da própria
Petrobras.
Apesar das carências vergonhosas que o país continua exibindo em
saneamento básico, transporte de massa, saúde, segurança e educação, o governo,
por capricho ideológico, vem concentrando os financiamentos do BNDES, bancados
com recursos do Tesouro, em projetos de investimento estatal em áreas nas quais
o setor privado está interessado em investir. Um desacerto lamentável que,
agora, pode lhe custar caro.”
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