Por Carlos Sena. (*)
Hoje em Gravatá esgravatando os
dentes. Um friozinho mixuruca, mas um sossego tão bom que mais se parece com
aquela musica de Rita “nada melhor do que não fazer nada”... Rita – vejam a
intimidade. Mas, é assim mesmo que a gente se sente com os ídolos. Porque eles
fazem parte da nossa vida embora nós não façamos parte da deles. Ou não? “Ou
não”: é a mais perfeita tradução de Caetano fora Sampa. Sempre que a gente fala
dele, logo vem um “ou não?”. E eu acho isso muito digno neste tear de esbórnia
nestas paragens agrestinas donde esgravato os dentes, “ou não?”. Por que nestes
tempos em que tudo pode ser contestado, tudo pode ser politicamente incorreto,
a gente fica buscando termos que nos livrem da falação, ou do “metimento do
pau” porque a gente se expressou dessa ou daquela forma, “ou não?”.
Um domingo é um pouco disso.
Joga-se conversa fora, porque conversa dentro dá stress, permite a gente se
candidatar a um infarto no miocárdio. Melhor jogar conversa fora e tecer
ilusões que nos mantém vivos enquanto o sonho da vida não descerra o ultimo
ato, “ou não?”. Nesse limiar de sentimentos matinais, sentir que “de longe
somos todos normais” e de perto ninguém é igual se torna maravilhoso. Novidade?
Nenhuma. Mas a vida precisa que a gente se repita em cada dia que “de perto não
somos normais” porque a gente com isso vai aprendendo que o exercício da vida
com o outro não morre nunca, “ou não?” Será que um dia a gente vai ter
experiência acumulada que não nos permita erros, equívocos, desamor? Talvez
não. Mas, no decorrer da vida digna – se há dignidade, a gente vai vivendo
nossas verdades até descobrir que vivemos algumas mentiras. Ou viver algumas
mentiras até ter certezas que elas eram as nossas maiores verdades, “ou não?”.
Porque seguro morreu de velho, mas a gente não sabe a idade que “seguro”
morreu. Ora, se Tá-deu, Ama-deu, o ladrão de Bagdá-deu, que direi eu, neste meu
inventar de mim mesmo em busca do outro que, atormentado dorme em mim sem tempo
pra acordar. “Acorda Alice” – certamente a Tati Brusky poderia me dizer. Logo
ela que me lê e que me escreve e que me entende, “ou não?”. Pelo sim pelo não,
vocês me entendem também porque da vida o entendimento não vem a galope, mas a
reboque. Reboque do sentir, reboque que o “sem-ti” deixa, reboque que o reboco
proporciona em nossa “casa de taipa”...
Fazer o quê? Que hoje não é
domingo e que não tem cachimbo e que o cachimbo não é de ouro e que o touro não
é valente?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 16/06/2013
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