POR CARLOS SENA. (*)
As drogas estão deixando de serem
drogas. Mudaram de nome: viraram gente em forma de gente branca, preta,
amarela, galega, parda, índia. Só não vi falar delas com o nome de quilombola
ou com o nome de filho de pais ajustados... Pois é. O que nos faltava chegou. O
Brasil que tem fama de bom de bola agora tem muitos “filhos seus que não fogem
à luta” sendo bons de craque ou de crack. Deixaram de ser craque de bola para
ser bola, ou seja, viver por aí dando “bolada”, dando uma “tapinha” no
bagulho... Diante do que antes era exceção e está virando regra, fico
preocupado até comigo, mesmo sabendo que nem de “tabaco” eu gosto. Mas, sei que
corro sério risco nesse traçado que envolve fumo, drogas de farmácias (ditas
lícitas), drogas dos lindos sonhos doirados, drogas da cola que descola a fome,
droga da má e da boa conha. Droga da coca-cola e da cocaína... Pessoas drogadas
por toda parte e em cada parte pessoas que são verdadeiras drogas. Penso: o
mundo virou mesmo uma droga?
Em meu redor não sinto o cheiro
da erva que mata. Nem da erva mate que faz o chimarrão eu sei como se faz. Mas
sei que na droga o drogado se vitimiza e em cada uma das vitimas a estrutura
social se despe em culpa junto aos pais que botaram filhos no mundo pelo tesão
que foram dominados em plena flor da idade. Flor da idade: o ópio, dizem ser
uma flor. Mas a dor, que flor irá servir de chá? Lá fora na es-cola, cola. Na
balada cabra alada vira sonho de “viagem noturnal” por entre as barbas papais,
mais pais do que pá. Pá é o tiro de misericórdia que a igreja não ajuda a dar
na falsa moral que à droga acalenta disfarçada e nua, embora vestida e
travestida de salvadora da moral e dos bons costumes. MELHOR FOSSE curtume.
Porque com a curtição, talvez a droga não encontrasse terreno fértil como
encontra agora.
Em meu redor sinto o canto dos
desencantados: pais de amigos, mães de conhecidos, filhos da rua – todos
movidos pelo desencanto que a droga proporciona. Os pais por saberem ser
culpados embora não admitam. Os filhos que se perderam nos caminhos da internet
e viram que ela não os levou aos sonhos que eles sonharam sem nunca terem
dormido. Sonhos que não vieram do sono vieram do abandono: abandono de amor
dentro de casa; abandono que a falta de limites em casa propicia; abandono que
a idiota visão de “dar aos filhos o que um dia (os pais) não tiveram” coloca os
pais nos principais culpados, pelas drogas que os filhos consomem e que
terminam virando drogas em pessoa. Pode ser que não seja de todo assim, mas é
mais assim do que assado que acontece. Fato é que pimenta no dos outros é
refresco. Nesse quesito “refrescatório”, um filho “fresco” choca mais alguns
pais do que um filho drogado. Ou chocaria! Contudo, na lógica formal do sentido
prático da situação em que nos encontramos certamente alguns pais adorariam ter
filhos “frescos”, ou “frangos, ou viados, ou gays ou simplesmente do babado”,
como se costuma dizer... Porque houve um
tempo se dava uma “tapa na maconha” e tudo parecia ser por conta da juventude
sem experiência “... Hoje, na maconha não se dá mais tapa, mas leva-se bofetada
do craque (crack) que não manda recado
e, quase sempre, não admite volta em seu trajeto...
De repente a exceção tá virando
regra. Os governos não estão nem aí. Porque as escolas nem mesmo aí estão.
Todas posam de “blindadas”, mas, é, mesmo sem rigor, o ponto forte do
passa-e-repassa-das-drogas. Nesse diapasão de desespero, de uma sociedade que
se mete a ser moderna e tão cheia de gerigonças cibernéticas escalafobéticas,
modernosas, onerosas, domadas e dominadas pelo sensor de raio laser e pelos
controles remotos se descontrolou de vez. Os pais ficam atônitos quando os
filhos vão à balada, mas ao mesmo tempo se sentem cumprindo os seus papéis,
pois, afinal, todos os garotões estão com celular – verdadeira coleira
eletrônica que serve mais para iludir aos pais do que para garantir que os
filhos estejam tomando Q-Suco ou Guaraná diet no bar da esquina.
Fumar maconha? Isso só acontece
com os filhos dos outros. Cansei de ouvir de alguns alunos: “prefiro um filho
drogado a um filho gay”? Se eles estiverem hoje com algum filho se perdendo no
crack, certamente deverá preferir ter um filho gay. Só que filho gay não está
no querer do pai ou da mãe ou do próprio filho. Ser gay é uma contingência de
nascer: ou se nasce homem ou se nasce mulher. Entre um e outro, as variantes
vêm no kit felicidade que, graças à grandeza de Deus não se submete a caprichos
e vontades...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 21/05/2013
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