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sexta-feira, 19 de julho de 2013

O Lula vai voltar. E daí?




Por Zezinho de Caetés

Pelo meu pseudônimo, todos sabem que eu e o Lula somos conterrâneos e fomos colegas de infância. Se ele puxasse pela memória deveria se lembrar de mim. Eu não preciso nem puxar pela minha para me lembrar dele. E confesso, ele não mudou muito, até hoje. Sempre inteligente e catando e comendo a rolinha morta pelos colegas.

Transcrevo hoje um texto do Guilherme Fiuza (Revista ÉPOCA), que tem como título: “Surge, enfim, o nome da mudança”, onde ele descreve Lula como o predestinado para colocar o Brasil nos eixos, pela vontade do povo (suprema ironia, é claro). Todas as pesquisas de opinião, mesmo depois de todas estas manifestações, deixam intacta a popularidade do meu conterrâneo. Mais uma vez ele consegue colocar a culpa em alguém, quando se descobre o roubo das frutas, igualzinho ao que acontecia em nossa infância.

E o jornalista, vai ao ponto, com a sutileza de um hipopótamo tomando champanhe num cálice de cristal, de quanto o Lula tem que se transformar para que ele consiga enfrentar sua própria herança maldita.

Todos sabemos que quase tudo que se fez no Brasil nos últimos 10 anos, de bom, já estava feito antes de Lula entrar no governo, cabendo a ele apenas módicas modificações. Aproveitou o bom momento da economia mundial para surfar nas ondas do tudo pelo social (diga-se que o Sarney já havia tentado), tentando fazer redistribuição de renda inexistente e fazendo o Brasil crescer menos do que o que poderia. Gastou o que podia e o que não podia, dos nossos recursos para eleger um poste, e ele ficar com o interruptor na mão. E agora o povo quer trazê-lo de volta.

Se isto acontecer, é evidente que as oposições, que já não funcionam, se acabem de vez. E partiremos para atingir o objetivo fundamental da corja petista: A venezualização do Brasil. Talvez o Lula chame o sistema que emergirá dos escombros de “socialismo cabralino” para ser original, e pelo fato de que o Brasil nasceu à sombra da Carta de Pero Vaz de Caminha, o primeiro fisiologista de que se fala em nossa história. Ou poderia ser, como sugere o jornalista, no texto abaixo, o “socialismo valeriano”, elevando á categoria histórica o mineiro que tanto ajudou o PT, para o bem e para o mal, o Marcos Valério.

Enfim, teremos o nosso chavismo tupiniquim, pois para isto já temos todas as condições, juntas no nosso grande futuro líder. O Lula será tão igual ao Chávez que para completar a identidade basta que ele vá se tratar em Cuba e não no Sírio-Libanês. Eu preferia que ele voltasse para Caetés e assumisse sua cadeira em nossa Academia de Letras, mas...

Durante a escrita deste texto me deparei com um texto do historiador Marco Antonia Villa, de 2010, reproduzido em seu blog, que nos dá uma pista para esta persistência do Lula no imaginário popular:

“A vontade pessoal, fortalecida pelo culto da personalidade, fomentado desde os anos 70 pelos intelectuais, se transformou em obsessão. O processo se agravou ainda mais após a vitória de 2002. Afinal, não só o Brasil, mas o mundo se curvou frente ao presidente operário. Seus defeitos foram ainda mais transformados em qualidades. Qualquer crítica virou um crime de lesa-majestade. O desejo de eliminar as vozes discordantes acabou como política de Estado.

Quem não louvava o presidente era considerado um inimigo.

Os conservadores brasileiros — conservadores não no sentido político, mas como defensores da manutenção de privilégios antirrepublicanos — logo entenderam o funcionamento da personalidade do presidente.

Começaram a louvar suas realizações, suas palavras, seus mínimos gestos. Enfim, o que o presidente falava ou agia passou a ser considerado algo genial. Não é preciso dizer que Lula transformou os antigos “picaretas” em aliados incondicionais.

Afinal, eles reconheciam publicamente seus feitos, suas qualidades. E mereceram benesses como nunca tiveram em outros governos.


É só esta obsessão pelo poder e pelo mando sem qualquer questionamento que pode ser uma das chaves explicativas da escolha de Dilma Rousseff como sua candidata.”

O Lula, já começou a enrolar novamente os intelectuais a respeito das manifestações populares de junho. E lá da África. Dizendo, e enganando que não quer ser mais presidente, louva a inteligência da Dilma em conduzir a crise. Quando chegar aqui o nó no pingo d'água já estará dado, com o nível de oposição que temos.

Agora fiquem com o texto do Fiuza, que eu vou dar uma volta pelo Recife, que melhorará muito depois que o Geraldo Júlio colocou o Orçamento Participativo onde ele merece: Nos arquivos mortos. Não digo outro lugar por hoje estou muito educada.

“A revolta das ruas produziu um milagre. Não as votações espasmódicas do Congresso Nacional, nem a revogação de aumentos das tarifas de ônibus. Esses foram atos oportunistas, que logo sumirão na poeira da história, embora tenham sido celebrados como vitórias revolucionárias.

O milagre também não foi a reação do governo Dilma Rousseff, que propôs ao país um plebiscito para reformar a política. Outros governantes já usaram alegorias para embaçar o debate. Como a alegoria de Dilma é especialmente fajuta, não será comentada neste espaço. O milagre da onda de passeatas foi a reabilitação dele – o filho do Brasil, o homem e o mito, Luiz Inácio Lula da Silva.

A opinião pública brasileira é um show. A pesquisa Datafolha que registrou queda na avaliação do governo Dilma quase à metade revelou que, hoje, a eleição presidencial iria para o segundo turno. A não ser que Lula entrasse no páreo. Aí ele seria eleito em primeiro turno. O povo, revoltado com tudo isso que aí está, puniu Dilma nas pesquisas porque quer mudança. E sua opção de mudança é Lula. Viva o povo brasileiro!

A pesquisa revelou mais. Quem teria, hoje, o melhor preparo, entre os candidatos, para resolver os problemas econômicos do Brasil? Em primeiro lugar, disparado: Lula. É um resultado impressionante. A maioria do eleitorado deve estar escondendo alguma informação bombástica.

Devem ter algum segredo, guardado a sete chaves, sobre o novo Lula. Diferentemente do velho, esse aí não deve ter nada a ver com Dilma, Guido Mantega, Gilberto Carvalho, José Dirceu, enfim, a turma que estourou as contas nacionais para bancar o populismo perdulário.

Não, nada disso. O novo Lula – esse que a voz do povo descobriu e não quer nos contar – é um administrador moderno, implacável com o fisiologismo. Um Lula que jamais daria agências reguladoras de presente a Rosemary Noronha, para ela brincar de polícia e ladrão com os companheiros (é bem verdade que a polícia só chegou ao final da brincadeira).

Esse Lula, que hoje seria eleito para desenguiçar a economia brasileira, sabe que politizar e vampirizar uma Anac compromete o serviço da aviação. O povo foi às ruas por melhores serviços de transportes, e o novo Lula não faria como o velho Lula – aquele que transformou as agências do setor num anexo do PT e seus comparsas. Jamais.

O povo brasileiro é muito sagaz. Descobriu o que nem um sociólogo visionário descobriria: o sujeito que pariu Dilma, montou seu modelo de administração e dá pitaco nele até hoje fará tudo completamente diferente, se for eleito presidente em 2014. Quem poderia supor uma guinada dessas?

Só mesmo um povo sacudido pela revolta das ruas faria essa descoberta genial. O grande nome da oposição a Dilma é Lula. É ele quem saberá levar as finanças nacionais para onde Dilma, segundo a pesquisa, não soube levar. O eleitor brasileiro é, desde já, candidato ao Prêmio Nobel de Economia por essa descoberta impressionante.

Como se sabe, Lula manteve a política econômica de Fernando Henrique – até porque seu partido não tinha política de governo, não tinha projetos administrativos (continua não tendo), não tinha nada. Para manter a militância acesa, o ex-operário assumiu a Presidência criticando o Banco Central.

Auxiliado pelo vice José Alencar, inaugurou o primeiro governo de oposição da história. (Longe dos holofotes, pedia pelo amor de Deus para o BC continuar fazendo o que estava fazendo, já que ele não entendia bulhufas daquilo.)

A conjuntura internacional foi uma mãe para o filho do Brasil, e ele torrou o dinheiro do contribuinte na maior festa de cargos e propaganda já vista neste país. Lançou então a sucessora, que fez campanha dizendo que o PT acabara com a inflação.

O único erro de cálculo dos companheiros foi esquecer que a desonestidade intelectual tem pernas curtas. E a conta do charuto do oprimido chegou: eis a inflação de volta. (Ao negar esse fato, Mantega foi convidado pelo companheiro Gilberto Carvalho a dar um passeio na feira.)


Mas vem aí o novo Lula, ungido pela sabedoria das massas, para salvar a economia brasileira. Qual será seu segredo? Será a substituição de Guido Mantega por Marcos Valério? Pode ser. Até porque o país não suporta mais amadorismo.”

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