Por Zezinho de Caetés
Pelo meu pseudônimo, todos sabem que eu e o Lula somos
conterrâneos e fomos colegas de infância. Se ele puxasse pela memória deveria
se lembrar de mim. Eu não preciso nem puxar pela minha para me lembrar dele. E
confesso, ele não mudou muito, até hoje. Sempre inteligente e catando e comendo
a rolinha morta pelos colegas.
Transcrevo hoje um texto do Guilherme Fiuza (Revista ÉPOCA),
que tem como título: “Surge, enfim, o
nome da mudança”, onde ele descreve Lula como o predestinado para colocar o
Brasil nos eixos, pela vontade do povo (suprema ironia, é claro). Todas as
pesquisas de opinião, mesmo depois de todas estas manifestações, deixam intacta
a popularidade do meu conterrâneo. Mais uma vez ele consegue colocar a culpa em
alguém, quando se descobre o roubo das frutas, igualzinho ao que acontecia em
nossa infância.
E o jornalista, vai ao ponto, com a sutileza de um
hipopótamo tomando champanhe num cálice de cristal, de quanto o Lula tem que se
transformar para que ele consiga enfrentar sua própria herança maldita.
Todos sabemos que quase tudo que se fez no Brasil nos
últimos 10 anos, de bom, já estava feito antes de Lula entrar no governo,
cabendo a ele apenas módicas modificações. Aproveitou o bom momento da economia
mundial para surfar nas ondas do tudo pelo social (diga-se que o Sarney já
havia tentado), tentando fazer redistribuição de renda inexistente e fazendo o
Brasil crescer menos do que o que poderia. Gastou o que podia e o que não
podia, dos nossos recursos para eleger um poste, e ele ficar com o interruptor
na mão. E agora o povo quer trazê-lo de volta.
Se isto acontecer, é evidente que as oposições, que já não
funcionam, se acabem de vez. E partiremos para atingir o objetivo fundamental
da corja petista: A venezualização do Brasil. Talvez o Lula chame o sistema que
emergirá dos escombros de “socialismo
cabralino” para ser original, e pelo fato de que o Brasil nasceu à sombra
da Carta de Pero Vaz de Caminha, o primeiro fisiologista de que se fala em
nossa história. Ou poderia ser, como sugere o jornalista, no texto abaixo, o “socialismo valeriano”, elevando á
categoria histórica o mineiro que tanto ajudou o PT, para o bem e para o mal, o
Marcos Valério.
Enfim, teremos o nosso chavismo
tupiniquim, pois para isto já temos todas as condições, juntas no nosso grande
futuro líder. O Lula será tão igual ao Chávez que para completar a identidade
basta que ele vá se tratar em Cuba e não no Sírio-Libanês. Eu preferia que ele
voltasse para Caetés e assumisse sua cadeira em nossa Academia de Letras,
mas...
Durante a escrita deste texto me deparei com um texto do historiador Marco Antonia Villa, de 2010, reproduzido em seu blog, que nos dá uma pista para esta persistência do Lula no imaginário popular:
Durante a escrita deste texto me deparei com um texto do historiador Marco Antonia Villa, de 2010, reproduzido em seu blog, que nos dá uma pista para esta persistência do Lula no imaginário popular:
“A vontade pessoal,
fortalecida pelo culto da personalidade, fomentado desde os anos 70 pelos
intelectuais, se transformou em obsessão. O processo se agravou ainda mais após
a vitória de 2002. Afinal, não só o Brasil, mas o mundo se curvou frente ao
presidente operário. Seus defeitos foram ainda mais transformados em
qualidades. Qualquer crítica virou um crime de lesa-majestade. O desejo de
eliminar as vozes discordantes acabou como política de Estado.
Quem não louvava o
presidente era considerado um inimigo.
Os conservadores
brasileiros — conservadores não no sentido político, mas como defensores da
manutenção de privilégios antirrepublicanos — logo entenderam o funcionamento
da personalidade do presidente.
Começaram a louvar
suas realizações, suas palavras, seus mínimos gestos. Enfim, o que o presidente
falava ou agia passou a ser considerado algo genial. Não é preciso dizer que
Lula transformou os antigos “picaretas” em aliados incondicionais.
Afinal, eles
reconheciam publicamente seus feitos, suas qualidades. E mereceram benesses
como nunca tiveram em outros governos.
É só esta obsessão
pelo poder e pelo mando sem qualquer questionamento que pode ser uma das chaves
explicativas da escolha de Dilma Rousseff como sua candidata.”
O Lula, já começou a enrolar novamente os intelectuais a respeito das manifestações populares de junho. E lá da África. Dizendo, e enganando que não quer ser mais presidente, louva a inteligência da Dilma em conduzir a crise. Quando chegar aqui o nó no pingo d'água já estará dado, com o nível de oposição que temos.
Agora fiquem com o texto do Fiuza, que eu vou dar uma volta
pelo Recife, que melhorará muito depois que o Geraldo Júlio colocou o Orçamento
Participativo onde ele merece: Nos arquivos mortos. Não digo outro lugar por
hoje estou muito educada.
“A revolta das ruas produziu um milagre. Não as votações espasmódicas
do Congresso Nacional, nem a revogação de aumentos das tarifas de ônibus. Esses
foram atos oportunistas, que logo sumirão na poeira da história, embora tenham
sido celebrados como vitórias revolucionárias.
O milagre também não foi a reação do governo Dilma Rousseff, que propôs
ao país um plebiscito para reformar a política. Outros governantes já usaram
alegorias para embaçar o debate. Como a alegoria de Dilma é especialmente
fajuta, não será comentada neste espaço. O milagre da onda de passeatas foi a
reabilitação dele – o filho do Brasil, o homem e o mito, Luiz Inácio Lula da
Silva.
A opinião pública brasileira é um show. A pesquisa Datafolha que
registrou queda na avaliação do governo Dilma quase à metade revelou que, hoje,
a eleição presidencial iria para o segundo turno. A não ser que Lula entrasse
no páreo. Aí ele seria eleito em primeiro turno. O povo, revoltado com tudo
isso que aí está, puniu Dilma nas pesquisas porque quer mudança. E sua opção de
mudança é Lula. Viva o povo brasileiro!
A pesquisa revelou mais. Quem teria, hoje, o melhor preparo, entre os
candidatos, para resolver os problemas econômicos do Brasil? Em primeiro lugar,
disparado: Lula. É um resultado impressionante. A maioria do eleitorado deve
estar escondendo alguma informação bombástica.
Devem ter algum segredo, guardado a sete chaves, sobre o novo Lula.
Diferentemente do velho, esse aí não deve ter nada a ver com Dilma, Guido
Mantega, Gilberto Carvalho, José Dirceu, enfim, a turma que estourou as contas
nacionais para bancar o populismo perdulário.
Não, nada disso. O novo Lula – esse que a voz do povo descobriu e não
quer nos contar – é um administrador moderno, implacável com o fisiologismo. Um
Lula que jamais daria agências reguladoras de presente a Rosemary Noronha, para
ela brincar de polícia e ladrão com os companheiros (é bem verdade que a
polícia só chegou ao final da brincadeira).
Esse Lula, que hoje seria eleito para desenguiçar a economia
brasileira, sabe que politizar e vampirizar uma Anac compromete o serviço da
aviação. O povo foi às ruas por melhores serviços de transportes, e o novo Lula
não faria como o velho Lula – aquele que transformou as agências do setor num
anexo do PT e seus comparsas. Jamais.
O povo brasileiro é muito sagaz. Descobriu o que nem um sociólogo
visionário descobriria: o sujeito que pariu Dilma, montou seu modelo de
administração e dá pitaco nele até hoje fará tudo completamente diferente, se
for eleito presidente em 2014. Quem poderia supor uma guinada dessas?
Só mesmo um povo sacudido pela revolta das ruas faria essa descoberta
genial. O grande nome da oposição a Dilma é Lula. É ele quem saberá levar as
finanças nacionais para onde Dilma, segundo a pesquisa, não soube levar. O
eleitor brasileiro é, desde já, candidato ao Prêmio Nobel de Economia por essa
descoberta impressionante.
Como se sabe, Lula manteve a política econômica de Fernando Henrique –
até porque seu partido não tinha política de governo, não tinha projetos
administrativos (continua não tendo), não tinha nada. Para manter a militância
acesa, o ex-operário assumiu a Presidência criticando o Banco Central.
Auxiliado pelo vice José Alencar, inaugurou o primeiro governo de
oposição da história. (Longe dos holofotes, pedia pelo amor de Deus para o BC
continuar fazendo o que estava fazendo, já que ele não entendia bulhufas
daquilo.)
A conjuntura internacional foi uma mãe para o filho do Brasil, e ele
torrou o dinheiro do contribuinte na maior festa de cargos e propaganda já
vista neste país. Lançou então a sucessora, que fez campanha dizendo que o PT
acabara com a inflação.
O único erro de cálculo dos companheiros foi esquecer que a
desonestidade intelectual tem pernas curtas. E a conta do charuto do oprimido
chegou: eis a inflação de volta. (Ao negar esse fato, Mantega foi convidado
pelo companheiro Gilberto Carvalho a dar um passeio na feira.)
Mas vem aí o novo Lula, ungido pela sabedoria das massas, para salvar a
economia brasileira. Qual será seu segredo? Será a substituição de Guido
Mantega por Marcos Valério? Pode ser. Até porque o país não suporta mais
amadorismo.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário