Por Zezinho de Caetés
Eu ainda não havia comentado a penúltima besteira do governo
da presidenta Dilma, que é o programa Mais
Médicos. Pelo que leio, é muito difícil dizer mais alguma coisa que seja
original sobre este programa, a não ser que alguém tente elogiá-lo, mas, isto
só se for o Aloizio Mercadante ou Alexandre Padilha, seus autores, por motivos
óbvios.
Pega até mal ficar batendo nesta surrada tecla, mas, o que
se há de fazer, como comentarista político em nosso país? Mudar de assunto não
pode, pois só quem está interessada nisto é a presidente. E ela apareceu com a
história da espionagem americana como tábua de salvação para as mancadas que
vem dando, uma atrás da outra. No entanto, nos telejornais, são dedicados 2
minutos ao caso de espionagem e 20 minutos às outras besteiras. Por isso chamam
a imprensa que dá as notícias ruins para o governo de a “grande imprensa”. Vai terminar pegando no sentido positivo, em
contraposição à “pequena imprensa”
que é aquela vendida aos cofres públicos.
No texto abaixo, de autoria do Elio Gaspari em o Globo (“Mercadante, o articulador do caos”), no
último domingo, ele tenta ser original, mostrando o despudorado caso de
interferência do setor público no setor privado, quando a MP dos Médicos coloca
estudantes de medicina das universidades públicas e das universidades privadas
dentro das mesmas condições, para mexer com suas vidas. Isto, para mim, é
apropriação indébita da pior espécie, de algo obtido no mercado e confiscado,
durante dois anos. Só se vê isto em tempo de guerra.
Se a presidenta considera uma “guerra” a política de levar médicos à população, é preciso
consultar “os russos” se estamos
realmente em guerra, ou se estamos apenas diante do governo mais ineficiente da
história do país. E não estou falando só do dela, e sim dos últimos 10 anos.
Eu fiz um curso universitário, o de Letras, em uma
universidade pública, e fico me colocando no lugar do estudante de medicina, sobre
o que faria se antes de entrar na universidade, alguém me dissesse: Olha, José,
você vai ter que pagar seus estudos, ensinando lá no interior durante um ano
(coloco um ano, embora ache que Letras seja quase tão importante quanto
Medicina, pois não se vive também sem informação, ou, pelo menos se vive muito
mal) para pagar o que o governo gastou com você. Eu não faria tanta questão, se
fossem claras as regras para pagar o meu curso, embora defendesse que minha
faculdade devesse ser paga. Mas, e se meu pai, que Deus o tenha, tivesse
custeado meu curso, eu me sentiria lesado. Estaria pagando duas vezes, e é isto
que vai ocorrer com os estudantes de medicina formados em escolas privadas.
Mas, os absurdos, em termos de Brasil, onde temos um
presidente do Senado que agora atende ao clamor das ruas gerado pela internet e
alguns meses atrás nem ligou para um abaixo assinado, pela própria internet,
com mais de um milhão de assinaturas pedindo sua saída do cargo, não param aí.
Eu duvido-d-dó que uma filho de uma “autoridade”
vá para o SUS lá para Caetés, por exemplo. No final, na hora da escolha, o jabá
vai comer solto e os pobres vão para o interior e os ricos ficarão no litoral,
comendo seus caranguejos na praia.
Bem, não há como ser original, com este assunto. Esperemos a
próxima penúltima besteira da Dilma. Fiquem com o Elio Gaspari, que eu vou na
UPA. Será que há médico lá? O Lula não encontrou, foi para o Hospital
Português.
“Na condição de articulador de iniciativas da doutora Dilma, o
comissário Aloizio Mercadante patrocinou três lances de gênio. A saber:
1) A convocação de uma Constituinte exclusiva para fazer uma reforma
política. Durou 24 horas.
2) A convocação de um plebiscito para que o eleitorado definisse os
marcos da reforma. Durou duas semanas.
3) Com o copatrocínio do ministro Alexandre Padilha, da Saúde, propôs a
reorganização do ensino médico, aumentando-o de seis para oito anos.
Na semana passada, informou-se aqui que as burocracias do MEC e das
universidades federais faziam uma exigência maluca para médicos formados no
exterior que quisessem revalidar seus diplomas.
Caso queira trabalhar no Brasil, um doutor que se formou em Harvard e
trabalha na clínica de Cleveland é obrigado a atestar que mora em Pindorama,
mesmo tendo nascido aqui. Sem isso, não pode pedir a revalidação, que demora
até um ano. Até lá, vive de quê?
A exigência será eliminada, tudo bem, mas havia coisa pior. O Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Inep, não sabe dizer quem pôs o
jabuti na forquilha do programa Revalida, muito menos por quê.
Essa mesma condição é exigida na rotina das revalidações de
universidades federais. Puro obstáculo para blindar o mercado. Produto da
onipotência dos educatecas.
Agora Mercadante e Padilha querem que os estudantes de Medicina
trabalhem no SUS por dois anos. Novamente, trata-se de um exercício de
onipotência.
Ele se esconde atrás do argumento do aperfeiçoamento dos médicos.
Trata-se de uma lorota, pois o Brasil tem Medicina há séculos e suas
deficiências não derivam da formação dos doutores, mas do desperdício de
dinheiro público e da ganância dos interesses privados, inclusive de médicos.
Imaginem-se dois estudantes. Aloizio é filho de um banqueiro, estudou
em bons colégios e entrou para uma das melhores faculdades de Medicina. Como
são todas públicas, fará o curso sem desembolsar um tostão.
Alexandre é filho de um bancário que trabalha para o pai de Aloizio.
Não teve boas escolas, mas foi aprovado numa instituição privada. A família
cacifou algo como R$ 300 mil, só em anuidades.
Seria razoável que Aloizio devolvesse em serviços para o SUS os seis
anos de faculdade gratuita. Essa é uma antiga proposta de médicos do setor
público.
Alexandre, contudo, precisa trabalhar para aliviar o orçamento do pai
bancário. Tem 26 anos, estudá há 18 e agora querem obrigá-lo a ir para um
regime de liberdade condicional trabalhando no SUS por mais dois, ganhando
entre R$ 3 mil e R 8 mil (só os mandarins de Brasília acham que essas duas
quantias são similares).
Se os comissários fossem menos onipotentes, os dois anos de serviço ao
SUS seriam opcionais para quem estudou Medicina em faculdade privada.
Quem entende do assunto jura que essa iniciativa, que começaria a valer
em 2015, terá o mesmo destino que a Constituinte e o plebiscito, pois é mais
fácil mudar um cemitério de lugar do que alterar os currículos das faculdades
de Medicina.”
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