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quarta-feira, 17 de julho de 2013

O caos na saúde e o programa Mais Médicos




Por Zezinho de Caetés

Eu ainda não havia comentado a penúltima besteira do governo da presidenta Dilma, que é o programa Mais Médicos. Pelo que leio, é muito difícil dizer mais alguma coisa que seja original sobre este programa, a não ser que alguém tente elogiá-lo, mas, isto só se for o Aloizio Mercadante ou Alexandre Padilha, seus autores, por motivos óbvios.

Pega até mal ficar batendo nesta surrada tecla, mas, o que se há de fazer, como comentarista político em nosso país? Mudar de assunto não pode, pois só quem está interessada nisto é a presidente. E ela apareceu com a história da espionagem americana como tábua de salvação para as mancadas que vem dando, uma atrás da outra. No entanto, nos telejornais, são dedicados 2 minutos ao caso de espionagem e 20 minutos às outras besteiras. Por isso chamam a imprensa que dá as notícias ruins para o governo de a “grande imprensa”. Vai terminar pegando no sentido positivo, em contraposição à “pequena imprensa” que é aquela vendida aos cofres públicos.

No texto abaixo, de autoria do Elio Gaspari em o Globo (“Mercadante, o articulador do caos”), no último domingo, ele tenta ser original, mostrando o despudorado caso de interferência do setor público no setor privado, quando a MP dos Médicos coloca estudantes de medicina das universidades públicas e das universidades privadas dentro das mesmas condições, para mexer com suas vidas. Isto, para mim, é apropriação indébita da pior espécie, de algo obtido no mercado e confiscado, durante dois anos. Só se vê isto em tempo de guerra.

Se a presidenta considera uma “guerra” a política de levar médicos à população, é preciso consultar “os russos” se estamos realmente em guerra, ou se estamos apenas diante do governo mais ineficiente da história do país. E não estou falando só do dela, e sim dos últimos 10 anos.

Eu fiz um curso universitário, o de Letras, em uma universidade pública, e fico me colocando no lugar do estudante de medicina, sobre o que faria se antes de entrar na universidade, alguém me dissesse: Olha, José, você vai ter que pagar seus estudos, ensinando lá no interior durante um ano (coloco um ano, embora ache que Letras seja quase tão importante quanto Medicina, pois não se vive também sem informação, ou, pelo menos se vive muito mal) para pagar o que o governo gastou com você. Eu não faria tanta questão, se fossem claras as regras para pagar o meu curso, embora defendesse que minha faculdade devesse ser paga. Mas, e se meu pai, que Deus o tenha, tivesse custeado meu curso, eu me sentiria lesado. Estaria pagando duas vezes, e é isto que vai ocorrer com os estudantes de medicina formados em escolas privadas.

Mas, os absurdos, em termos de Brasil, onde temos um presidente do Senado que agora atende ao clamor das ruas gerado pela internet e alguns meses atrás nem ligou para um abaixo assinado, pela própria internet, com mais de um milhão de assinaturas pedindo sua saída do cargo, não param aí. Eu duvido-d-dó que uma filho de uma “autoridade” vá para o SUS lá para Caetés, por exemplo. No final, na hora da escolha, o jabá vai comer solto e os pobres vão para o interior e os ricos ficarão no litoral, comendo seus caranguejos na praia.

Bem, não há como ser original, com este assunto. Esperemos a próxima penúltima besteira da Dilma. Fiquem com o Elio Gaspari, que eu vou na UPA. Será que há médico lá? O Lula não encontrou, foi para o Hospital Português.

“Na condição de articulador de iniciativas da doutora Dilma, o comissário Aloizio Mercadante patrocinou três lances de gênio. A saber:

1) A convocação de uma Constituinte exclusiva para fazer uma reforma política. Durou 24 horas.

2) A convocação de um plebiscito para que o eleitorado definisse os marcos da reforma. Durou duas semanas.

3) Com o copatrocínio do ministro Alexandre Padilha, da Saúde, propôs a reorganização do ensino médico, aumentando-o de seis para oito anos.

Na semana passada, informou-se aqui que as burocracias do MEC e das universidades federais faziam uma exigência maluca para médicos formados no exterior que quisessem revalidar seus diplomas.

Caso queira trabalhar no Brasil, um doutor que se formou em Harvard e trabalha na clínica de Cleveland é obrigado a atestar que mora em Pindorama, mesmo tendo nascido aqui. Sem isso, não pode pedir a revalidação, que demora até um ano. Até lá, vive de quê?

A exigência será eliminada, tudo bem, mas havia coisa pior. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, Inep, não sabe dizer quem pôs o jabuti na forquilha do programa Revalida, muito menos por quê.

Essa mesma condição é exigida na rotina das revalidações de universidades federais. Puro obstáculo para blindar o mercado. Produto da onipotência dos educatecas.

Agora Mercadante e Padilha querem que os estudantes de Medicina trabalhem no SUS por dois anos. Novamente, trata-se de um exercício de onipotência.

Ele se esconde atrás do argumento do aperfeiçoamento dos médicos. Trata-se de uma lorota, pois o Brasil tem Medicina há séculos e suas deficiências não derivam da formação dos doutores, mas do desperdício de dinheiro público e da ganância dos interesses privados, inclusive de médicos.

Imaginem-se dois estudantes. Aloizio é filho de um banqueiro, estudou em bons colégios e entrou para uma das melhores faculdades de Medicina. Como são todas públicas, fará o curso sem desembolsar um tostão.

Alexandre é filho de um bancário que trabalha para o pai de Aloizio. Não teve boas escolas, mas foi aprovado numa instituição privada. A família cacifou algo como R$ 300 mil, só em anuidades.

Seria razoável que Aloizio devolvesse em serviços para o SUS os seis anos de faculdade gratuita. Essa é uma antiga proposta de médicos do setor público.

Alexandre, contudo, precisa trabalhar para aliviar o orçamento do pai bancário. Tem 26 anos, estudá há 18 e agora querem obrigá-lo a ir para um regime de liberdade condicional trabalhando no SUS por mais dois, ganhando entre R$ 3 mil e R 8 mil (só os mandarins de Brasília acham que essas duas quantias são similares).

Se os comissários fossem menos onipotentes, os dois anos de serviço ao SUS seriam opcionais para quem estudou Medicina em faculdade privada.


Quem entende do assunto jura que essa iniciativa, que começaria a valer em 2015, terá o mesmo destino que a Constituinte e o plebiscito, pois é mais fácil mudar um cemitério de lugar do que alterar os currículos das faculdades de Medicina.”

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