Por Zezinho de Caetés
Eu transcrevo abaixo um texto do Sandro Vaia chamado de: “Um ruidoso silêncio” (Blog do Noblat em
10/07/2013) onde ele comenta sobre o recuo ou refluxo da onda popular nas ruas
brasileiras. Eu sempre fui cético em relação a estas manifestações pelo
embaralhamento de seus objetivos. Deram suas cartas bem embaralhadas, a mão que
a Dilma recebeu foi péssima para ela e boa para o Brasil, levando a ninguém
mais apostar em sua candidatura a presidência, mas, e daí?
Semana passada vi, boquiaberto, uns arruaceiros quebrando
tudo, lá no Rio de Janeiro, enfurecidos como touros em arenas, e sem escolha de alvos. Tudo que havia pela
frente era quebrado de forma terrível. Juro que fiquei temeroso pela visita do
nosso Papa, e o que acontecerá lá por nossa antiga capital.
O que penso é que, a nossa presidenta deveria ficar afastada
da festa religiosa, porque, para ela, o mar não está para peixe, em termos de
suas aparições públicas. Ela deveria se manter falando para os seus 39
ministros, que já é um bom público, e aplaudem tudo que ela fala. Aliás, eu
fico ruborizado, quando vejo a claque que se assenta diante da presidenta a
aplaudir tanta bobagem por ela dita. Quando escrevem por ela, e ela lê, as
frase saem erradas, mas, completas, porém, quando ela fala de improviso, não
sai frase nenhuma que faça sentido.
Fiquem com o jornalista, que como eu, ainda não sabe o que
as ruas querem dizer, e meditem para ver se vocês descobrem. Espero que sua rouquidão
não seja algo pior, como aconteceu com a rouquidão de Lula. Elas não teriam como
se tratar no Sírio-Libanês, e no SUS, certamente, se calarão para sempre.
“A voz das ruas às vezes é tão rouca que fica difícil entendê-la.
Com exceção dos últimos atos de vandalismo no Leblon, perto da casa do
governador do Rio, Sérgio Cabral, o resto do Brasil parece ter entrado numa
espécie de compasso de espera, entre o rumor da conquista da Copa das
Confederações e a expectativa da visita do papa.
O resultado prático das manifestações foi manter o preço das passagens
do transporte coletivo paradas por mais algum tempo (o que segundo alguns
prefeitos ameaça cidades de falência, mas ninguém se comove com isso) e mostrar
que o País das Maravilhas de Alice só existia na cabeça de João Santana e sua
trupe de animadores de auditório.
A verdade é que o país permanece essencialmente o mesmo, ainda que
vitimado por algumas gritantes barbeiragens gerenciais, mas a percepção sobre
ele mudou do dia para a noite, sem que ninguém consiga avançar sobre a essência
do problema.
Ontem estávamos às portas do Paraíso, hoje vislumbramos o inferno cada
vez mais próximo.
As condições econômicas objetivas do mundo mudaram bastante, em nosso
prejuízo, e não existe ninguém disposto a bancar a ideia de que tudo não passa
de uma “marolinha”, pois quem fez isso no passado sabe muito bem que hoje
estamos sofrendo as consequências da irresponsabilidade e da leviandade de
ontem.
Num texto escrito para o jornal “Valor Econômico” e debatido na Feira
Literária de Paraty, o economista André Lara Rezende, um dos pais do Plano
Real, resumiu com uma frase aquilo que estamos sentindo, mas não sabemos
explicitar com clareza: o “mal estar contemporâneo”.
Ele deixa claro que esse mal estar não é o mesmo das praças árabes, nem
do Occupy Wall Street, nem dos desempregados da crise europeia.
É alguma coisa especificamente brasileira e que a classe política que
nos dirige, com sua rudimentar insensibilidade e seu primarismo pragmático, não
soube nem de longe decifrar ou traduzir e menos ainda administrar.
As tentativas de solução que apareceram, como um arremedo ridículo de
reforma política, a proposta de reforma constitucional exclusiva ou de
plebiscito limitado, não tangenciam nem de longe os problemas do mal estar.
O governo, em sua turrona insistência em dizer que tudo vai bem quando
tudo ameaça desandar, mostra sua falta de grandeza e a sua miopia estratégica,
guiada exclusivamente pelo faro das urnas, deixando claro que seu projeto de
transformação da sociedade não passa de um projeto de manter-se no poder a
qualquer custo.
A oposição não é muito melhor do que isso. A diferença é que seu
projeto envolve outros nomes.
No intervalo entre o clamor da vitória no futebol e a visita do papa,
há um estranho silêncio pairando no ar, quebrado apenas pelo fragor dos
vândalos do Leblon.
As ruas parecem ter mais algo a dizer. O que será?”
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