Por José Antonio
Taveira Belo / Zetinho
Gosto de andar nos
coletivos. Apesar da demora no percurso é uma maneira de você estar em contato
com o povão. Enfrenta-se os empurrões, as sacudidelas das freadas e da saída,
dos aborrecimentos dos passageiros, dos motoristas que muitas das vezes ignoram
as reclamações, das conversas nos celulares de pessoas que pensam que estão em
casa, com gritos, lamurias e fofocas e tantas outras coisas que são
presenciadas pelo passageiro. Quando os coletivos estão superlotados a reclamação
contra os motorista pelos mais exaltados é xingado – este motorista pensa que
esta carregando boi; por favor vã mais prá lá, esta me apertando, se não quiser
ser apertada pegue um taxi e por ai vai as reclamações. Sempre que vou à cidade
e que não vou acompanhado, vou de ônibus, pois não tenho compromissos com a
volta. Em uma desta viagem, entrou no coletivo, um cantor com um pandeiro para
cantar emboladas soltando piadas com os passageiros. Muitos cansados vindo do
trabalho, enfrentando um engarrafamento na entrada da cidade de Olinda, ouviam
com impaciência aquela cantar sem nexo. Uns ignorava olhando pela janela,
outros falavam uns com outros sem ligar para o embolador, outros impacientes
começou a gritar – pare com esta cantoria sem sentido; esse cachorro não sabe
que estamos doidos para chegar a casa. O pandeiro não cansava de tocar e a cada
reclamação os passageiros se irritavam. Ó motorista você não sabe que é
proibido esta cantoria no ônibus. Certo tempo já parado aos uns quinze minutos
sem sair do local um moreno forte, se aborreceu quando ele soltou lorota para a
senhora que estava ao seu lado – era sua mãe – e ai coisa não prestou. O rapaz se levantou no meio dos passageiros e arrancou o pandeiro da mão do tocador e
jogou pela janela na rua. Ai foi à confusão, uns a favor do tocador e outros a
favor do rapaz insolente. Foi aquele bafafá danado dentro do ônibus. O motorista
parou e o pandeirista desceu mordido chamando o valentão para a rua. O ônibus
seguiu com os comentários, cada um tinha a sua opinião. Já tudo acalmado duas
mulheres resolveram discutir – o pobre do rapaz trabalha para comprar o pão de
cada dia, a senhora não acha? Olhe minha filha eu não acho nada! Então a
senhora concorda com o que aquele rapaz fez? Olhe minha filha, não me meto na
briga de ninguém e a senhora me deixe em paz! Pois, minha senhora, a senhora
não sabe o que é passar necessidade! Por favor, minha filha, deixe-me em paz,
se quer conversar converse com outras pessoas, deixe-me em paz, por favor! Ela
continuou - à senhora é sem caridade, não é melhor ele tocar ganhando o seu
dinheirinho ao invés de ser um assaltante, não acha? Eu não acho nada! Sabe de
uma coisa minha filha, você estar perturbando a viagem com as suas perguntas.
Porque minha filha não vai conversar com outra pessoa e deixa-me em paz, que eu
já pedi. Naquele pequeno tempo os passageiros já começavam a conversar uns já
dando apoio e outras condenando aquela conversa. Na Avenida Governador Lima
Cavalcanti, o rapaz desceu com a sua mãe sob o protesto de uns e apoio de
outros – o senhor tem razão, aquele
pandeirista vinha perturbando com a sua cantoria insolente, valeu – o rapas
riu e desceu. Ai ficou a duas mulheres discutindo, quando uma ia descendo na Praça
Pedro Jorge, em Casa Caiada, ouviu – velha
mais sem educação, vai por inferno – a outra que ia descer voltou-se – velha sem vergonha é a sua mãe – é a sua
- respondeu a outra. Que mulherzinha
safada esta velha quer tirar onda com a minha cara, porque ela que é tão
defensora do pandeirista, na se amiga com ele. És tu velha que não tem o que
dar. Vai-te embora que já encheste o saco de todos, não foi? Olhando para
todos. Chegando à Avenida Fagundes Varela ela desceu, e ai calmaria voltou
reinar no ônibus, mesmo assim o motorista, veja o que agente ouve todos os
dias, dá prá tu, olhando para o cobrador, no terminal de Jardim Atlântico.
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