Por Carlos Sena (*)
A despeito da grande evolução do
mundo, principalmente com o domínio da ciência propulsionadora da tecnologia
que nos domina, penso que muitas mulheres ainda “navegam na maionese”. Menos
mal que não são todas, nem a maioria, mas que a evolução conceitual de algumas
questões não chegou nelas, isso a gente sabe.
Mulher objeto de cama e mesa –
quem pode garantir que essa visão equivocada que reduzia a mulher ao sexo e às
questões domésticas se modificou concomitante à evolução tecnológica, por
exemplo?
Quem vende revista de gente
pelada é a mulher ou o homem?
Por que as TVS não fazem balés
mistos em seus programas de auditório tipo Faustão?
Por que a igreja católica não abre
mão no quesito eucaristia que só é permitido aos homens?
Por que não existem delegacias de
homem?
Por que não existem leis “Josés
da Penha”?
Só pra ficar nestas indagações,
intuímos que a grande resposta aglutinadora disso tudo é a seguinte: “porque as
mulheres passaram muito tempo no processo histórico sem ser reconhecidas como
gente”; no próprio Brasil elas só vieram ter cidadania pelo voto com Getúlio
Vargas; porque ainda hoje o homem diz que tem mulher e ela diz que tem esposo
(nunca que tem homem porque quem tem homem é puta); porque ainda hoje homem é
quem come mulher (a despeito de que se há alguém que efetivamente come alguém é
a mulher); porque a mulher que faz o mesmo trabalho do homem ganha salário
menor; porque só a pouco tempo é que o homem deixou de ser “cabeça do casal”,
graças ao imposto de renda; porque só no final da segunda metade do século XX é
que a mulher deixou de colocar no seu nome o nome do marido (hoje é opcional)
no seu registro de casamento, quando o homem a isso nunca era obrigado (homem
dava “nome” à mulher); enfim, porque a mulher era inferior ao homem e disso a
igreja católica não abre mão, nem pés, nem coxa, nem tórax, nem cabeça nem
nada... Até hoje, em pleno terceiro milênio!
Nesse breve contexto
contraditório em que a mulher ainda não se livrou desse estigma – mais isso do
que estereótipo, é que a gente fica “engasgada” com o nível de cumplicidade de
algumas mulheres com essas situações. Talvez merecesse uma pesquisa para
testar, na prática, o porquê desse comportamento permissivo de algumas mulheres
acerca delas mesmas permanecerem sendo cidadãs de segunda categoria. O exemplo
mais clássico disso é quando se contextualiza a questão da relação homoafetiva
na igreja católica. A maioria das mulheres se posiciona contra e ainda vão para
as ruas em passeatas defendendo os padres, inclusive pedófilos. A contradição é
que os movimentos LGBT incluem as mulheres em suas demandas, reconhecendo,
sobremaneira, que elas ainda são tratadas pela igreja de forma inferior aos homens.
A contrapartida disso, no geral, é a defesa da igreja católica por boa parte das mulheres – a mesma igreja que
não as quer na eucaristia, porque coisa séria é coisa de homens – no fundo é
isso que a santa madre igreja romana ainda pensa e defende. Nesse bojo entram
as questões falsas moralistas do aborto, da camisinha e da união entre pessoas
do mesmo sexo. Certamente as igrejas esquecem que nos seus “porões” a
homossexualidade corre solta e, de tanto ficar solta, chega aos rumores e
rubores da pedofilia que tanto mal causa a tantos menores e suas mães e pais.
Portanto, o céu continua não
sendo perto, principalmente para algumas mulheres para quem ser “da cama e
mesa” são um detalhe sem nenhuma importância. O ruim de tudo isso é que as
mulheres outras que não se permitem ser tratadas como cidadãs de segunda ficam
maculadas pelas outras que, embora numericamente sendo poucas, mas produzem um
efeito corrosivo impressionante na degradação da imagem feminina do geral.
Portanto, mulheres que ainda
“dormem de toca” e ainda se permitem “navegar na maionese” das igrejas
católoicas e preconceituosas: “acordem pra Jesus” – ele é o caminho, a verdade
e a vida. Como o pai da revolução do amor – aquela que substituiu a lei do
“olho por olho e dente por dente”... Em sendo assim ele não é contra o amor
independente de sexo, nem contra o sexo independente de gênero...
Comenta-se que na antiguidade
greco-romana os filósofos quando se reuniam em suas mesquitas para ensinar
matemárica colocavam na entrada um aviso mais ou menos assim: "proibida a
entrada de cães, mulheres e outros animais irracionais"...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 14/05/2013
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