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terça-feira, 2 de julho de 2013

Mulher de segunda classe (?).




Por Carlos Sena (*)

A despeito da grande evolução do mundo, principalmente com o domínio da ciência propulsionadora da tecnologia que nos domina, penso que muitas mulheres ainda “navegam na maionese”. Menos mal que não são todas, nem a maioria, mas que a evolução conceitual de algumas questões não chegou nelas, isso a gente sabe.

Mulher objeto de cama e mesa – quem pode garantir que essa visão equivocada que reduzia a mulher ao sexo e às questões domésticas se modificou concomitante à evolução tecnológica, por exemplo?

Quem vende revista de gente pelada é a mulher ou o homem?

Por que as TVS não fazem balés mistos em seus programas de auditório tipo Faustão?
Por que a igreja católica não abre mão no quesito eucaristia que só é permitido aos homens?

Por que não existem delegacias de homem?

Por que não existem leis “Josés da Penha”?

Só pra ficar nestas indagações, intuímos que a grande resposta aglutinadora disso tudo é a seguinte: “porque as mulheres passaram muito tempo no processo histórico sem ser reconhecidas como gente”; no próprio Brasil elas só vieram ter cidadania pelo voto com Getúlio Vargas; porque ainda hoje o homem diz que tem mulher e ela diz que tem esposo (nunca que tem homem porque quem tem homem é puta); porque ainda hoje homem é quem come mulher (a despeito de que se há alguém que efetivamente come alguém é a mulher); porque a mulher que faz o mesmo trabalho do homem ganha salário menor; porque só a pouco tempo é que o homem deixou de ser “cabeça do casal”, graças ao imposto de renda; porque só no final da segunda metade do século XX é que a mulher deixou de colocar no seu nome o nome do marido (hoje é opcional) no seu registro de casamento, quando o homem a isso nunca era obrigado (homem dava “nome” à mulher); enfim, porque a mulher era inferior ao homem e disso a igreja católica não abre mão, nem pés, nem coxa, nem tórax, nem cabeça nem nada... Até hoje, em pleno terceiro milênio!

Nesse breve contexto contraditório em que a mulher ainda não se livrou desse estigma – mais isso do que estereótipo, é que a gente fica “engasgada” com o nível de cumplicidade de algumas mulheres com essas situações. Talvez merecesse uma pesquisa para testar, na prática, o porquê desse comportamento permissivo de algumas mulheres acerca delas mesmas permanecerem sendo cidadãs de segunda categoria. O exemplo mais clássico disso é quando se contextualiza a questão da relação homoafetiva na igreja católica. A maioria das mulheres se posiciona contra e ainda vão para as ruas em passeatas defendendo os padres, inclusive pedófilos. A contradição é que os movimentos LGBT incluem as mulheres em suas demandas, reconhecendo, sobremaneira, que elas ainda são tratadas pela igreja de forma inferior aos homens. A contrapartida disso, no geral, é a defesa da igreja católica por  boa parte das mulheres – a mesma igreja que não as quer na eucaristia, porque coisa séria é coisa de homens – no fundo é isso que a santa madre igreja romana ainda pensa e defende. Nesse bojo entram as questões falsas moralistas do aborto, da camisinha e da união entre pessoas do mesmo sexo. Certamente as igrejas esquecem que nos seus “porões” a homossexualidade corre solta e, de tanto ficar solta, chega aos rumores e rubores da pedofilia que tanto mal causa a tantos menores e suas mães e pais.

Portanto, o céu continua não sendo perto, principalmente para algumas mulheres para quem ser “da cama e mesa” são um detalhe sem nenhuma importância. O ruim de tudo isso é que as mulheres outras que não se permitem ser tratadas como cidadãs de segunda ficam maculadas pelas outras que, embora numericamente sendo poucas, mas produzem um efeito corrosivo impressionante na degradação da imagem feminina do geral.

Portanto, mulheres que ainda “dormem de toca” e ainda se permitem “navegar na maionese” das igrejas católoicas e preconceituosas: “acordem pra Jesus” – ele é o caminho, a verdade e a vida. Como o pai da revolução do amor – aquela que substituiu a lei do “olho por olho e dente por dente”... Em sendo assim ele não é contra o amor independente de sexo, nem contra o sexo independente de gênero...

Comenta-se que na antiguidade greco-romana os filósofos quando se reuniam em suas mesquitas para ensinar matemárica colocavam na entrada um aviso mais ou menos assim: "proibida a entrada de cães, mulheres e outros animais irracionais"...

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(*) Publicado no Recanto de Letras em 14/05/2013

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