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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Não tem jeito. Tem que vaiar




Por Zezinho de Caetés

Recentemente as manifestações de rua tomaram conta do noticiário, e não era para menos. Ninguém aguentava mais o oba-oba do governo da Dilma,  querendo se esconder da realidade. Ontem entraram os sindicatos, tentando aproveitar a onda popular. Foi um mico só.

A participação popular foi mínima, além da acusação, bastante plausível de que os militantes foram pagos para segurar as bandeiras, igual aos propagandistas de sinal de trânsito. Não colou.

Tudo parece desmoronar dentro do governo e eles continuam tentando fingir que nada acontece, ou quando agem, o fazem sem o menor respeito pelo povo. O povo pede o fim da corrupção e a Dilma libera emendas parlamentares em troca de apoio. Os prefeitos pedem verbas e ela concede, e em troca, leva vaias. Ninguém, consegue mais ficar calado, quando Dilma aparece numa reunião com mais de 39 pessoas. Ela só não é vaiada em reunião do ministério.

Hoje, relendo os arquivos encontrei o texto abaixo, do Everardo Maciel, que foi publicado no Blog do Noblat em 04/07/2013, e que mostra a incapacidade do Estado para entender as ruas e por isso o seu título: “O Estado ainda não entendeu as ruas.”

Um dos pontos cruciais que ele fala é a volta da inflação, o que ele culpa a má condução de uma política econômico que levou ao baixo crescimento, na tentativa de usar um cobertor curto para eliminar o frio. E com a inflação, todos já sabemos, quem fica com frio é o pobre, que não tem como se defender. E esta classe ainda nem foi às ruas pois está entorpecida pelo Bolsa Família, até que a inflação comece a comê-la.

Fiquem com o Everardo, que eu vou comprar pão, e ouvir a explicação do dono da padaria: A farinha está pela hora da morte, seu Zezinho.

“A força das recentes manifestações de rua, no Brasil, causou surpresa geral, aqui e no Exterior. Prevaleceu a máxima do poeta grego Ágaton (447 AC – 401 AC): “É muito provável que o improvável aconteça”.

Ainda é cedo para se aquilatar real dimensão e consequências dessas manifestações. Arrisco-me a fazer alguns comentários.

O desdobramento, em âmbito nacional, do movimento em favor do passe livre, nos transportes públicos de São Paulo, revelou a existência de um grande mal-estar na sociedade brasileira, em decorrência de inúmeras causas, como a volta de inflação, a ineficácia dos serviços públicos e o aumento significativo da corrupção.

A inflação e a má qualidade dos serviços públicos, decorrem de clamorosos erros na condução da coisa pública. Já o aumento da corrupção tem suas raízes na completa degradação da atividade política e dos valores que informam a vida na sociedade.

Impressiona muito o recurso a conhecidas e ineficazes providências para enfrentar a inflação (desoneração pontual de tributos, manipulação de tarifas aduaneiras, administração de preços públicos, ameaças ridículas aos empresários, etc.).

Esse filme, como se sabe, tem desfecho trágico. Inexiste qualquer preocupação com o equilíbrio fiscal, exceto as engenharias contábeis que desrespeitam a inteligência alheia. O estímulo ao consumo se faz de forma irresponsável.

A política expansionista de gasto público não produziu nenhuma melhoria dos serviços públicos. Alguém está satisfeito com a infraestrutura rodoviária? Ou com os portos e aeroportos? Ou com o atendimento no SUS? Ou com a educação pública de péssima qualidade? Ou com os serviços de telefonia e de internet? É evidente que sobra Estado e falta governo.

Os eventos da Copa do Mundo justificaram o afastamento dos procedimentos licitatórios, o esbanjamento de dinheiro em um país carente, a completa submissão do interesse nacional à grosseira colonialista e mercantilista de uma FIFA, reconhecidamente, pouco virtuosa.

A intenção original era explorar politicamente esses eventos. Esqueceram, todavia, dos preços dos ingressos. O povo ficou de lado de fora das arenas. Assim, os que se jactavam de promover a inclusão social produziram a mais espetaculosa exclusão.

A atividade política, por sua vez, converteu-se em mero meio de vida, salvo raras e honrosas exceções. A criação de partidos políticos constitui, quase sempre, uma forma de apropriação dos recursos públicos advindos do Fundo Partidário.

Da mesma forma, sindicatos, “movimentos sociais” e organizações estudantis são financiados, de forma direta ou indireta, com recursos do contribuinte. Estamos criando uma nova modalidade de patrimonialismo.

A degradação dos valores pode ser sintetizada em uma frase emblemática: “É um mero caixa dois”. Tudo é justificável, desde que sirva à perpetuação dos donos do poder ou à satisfação dos interesses pessoais.

Qual a reação do Estado a esse quadro de mal-estar inespecífico? O Poder Executivo acenou com um plebiscito sobre a reforma política e alguns “pactos” sobre algumas políticas públicas. O Legislativo apressou-se em aprovar algumas medidas com alguma visibilidade, no intuito de responder ao clamor popular.

A proposta do plebiscito, desconsiderada a presumível manobra diversionista, vai se disputar, com favoritismo, o torneio de más ideias.

É óbvio que existem sérios problemas no modelo político brasileiro. A escolha do sistema eleitoral ou da forma de financiamento das campanhas, contudo, não é uma tarefa trivial. Jamais poderia ser objeto de plebiscito.

Antes de fazer uma reforma abrangente, caberia adotar medidas pontuais, como cláusula de barreira para os partidos, limitação dos gastos de campanha e eliminação de coligações em eleições proporcionais.


Pactos presumem conflitos. Que conflito existe em relação à saúde, educação ou transportes públicos? Pactos de quem com quem? Pura embromação de quem não fez o dever de casa. Enfim, trabalhar é muito dificultoso, como diria Guimarães Rosa.”

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