“Tempestade política
POR MÍRIAM LEITÃO
O Brasil pode ter uma tempestade
política perfeita. O conceito, importado do inglês, perfect storm, nasceu na
meteorologia e foi para a economia. No nosso caso, pode ir para a política. O
governo Temer, por seus defeitos e sua herança, vai desgastar a ideia das
reformas e ordem fiscal. O PT falsifica os fatos recentes. Aumentou o risco da
saída populista que poderá levar ao colapso da dívida pública.
O ministro Henrique Meirelles
disse que o eleito em 2018 pode ser um candidato reformista. Isso é mais desejo
do que realidade. O governo Temer não conseguiu ainda entregar ao país um
horizonte de equilíbrio fiscal e algum conforto econômico. Houve apenas pontos
de alívio com a queda da inflação e dos juros. Mas o desemprego é muito alto, e
a crise fiscal pode ficar mais aguda nos próximos meses, com a paralisação de
serviços essenciais. Então, o caminho de reformas e de tentativa de controle de
gastos será apontado como o culpado pela crise.
Em parte, o governo Temer paga o
preço dos seus erros. O maior deles foi aquela noite do Jaburu. A revelação da
conversa com Joesley Batista aumentou sua impopularidade. Os que apontavam seu
governo como regular passaram a considerá-lo ruim ou péssimo. No Congresso, sua
blindagem custou caro. Ele estava na ofensiva, hoje está na defensiva nas
negociações da coalizão. Os projetos que envia são desvirtuados e ele é
capturado por qualquer lobby. Sua base hoje é de alto custo.
Por outro lado, o PT ficou, ao
sair do governo, em uma situação confortável. Líderes do partido dizem, sem
ruborizar, que o desemprego foi criado por Temer. Apostam no fato de que o
brasileiro médio não acompanha as estatísticas com o cuidado do público
especializado. A escalada do desemprego começou antes e foi detonada pelas
decisão tomadas no governo Dilma. No fim de 2014, eram 6,4 milhões de
desempregados, em maio de 2016, quando ela foi afastada pela primeira vez, já
eram 11,4 milhões. A máquina de destruição de emprego foi ligada no governo
dela.
Dilma provocou uma ruptura na
área fiscal. Encerrou 16 anos de ajuste. A dívida pública escalou, depois de
ficar anos estabilizada em torno de 50% do PIB. Hoje está em 73% e subindo. Uma
política econômica populista que aumente os gastos provocará uma crise de
confiança em relação à dívida.
Na campanha, o PT jogará sobre o
governo Temer tudo o que houve de ruim nos últimos anos. Essa é a estratégia
que o partido vem desenvolvendo. Vai dizer que os problemas são causados pela
tentativa de pôr ordem nas contas públicas. Isso asfaltará o caminho para o
populismo, seja de que tendência for. A extrema-direita também pode usar esse
discurso populista com solução simplista de impor a “ordem”. O populismo é uma
doença que pode ocorrer à esquerda ou à direita. O risco desse caminho é que
ele provocará uma crise da dívida, que leva, inevitavelmente, à devastação
econômica.
Para agravar a tempestade
política, o país vai para uma campanha com regras escolhidas de afogadilho, em
tentativa dos políticos de proteger seus mandatos. A cada dia surge uma ideia
nova. E péssima. Distritão, distritão com voto em legenda,
semipresidencialismo. Cada uma das ideias tem contradições e erros técnicos que
a ciência política tem apontado. O distritão é sistema antiquado e significa
abandonar o proporcional que atravessou a história do Brasil, sem qualquer
garantia de corrigir seus defeitos. O distritão com voto em legenda é um
híbrido incompatível. Ou bem é voto único não transferível ou bem é voto
legenda distribuído aos candidatos da lista. O semipresidencialismo, pelo qual
conspiram o presidente, Michel Temer, e o presidente do TSE, Gilmar Mendes, transforma
o Brasil no que ele nunca foi: um grande Portugal. Na semana passada, o
relatório da deputada Shéridan Oliveira evitou o pior, mas ninguém sabe o que
sairá do Congresso. Nem os políticos. Eles estão improvisando.
Isso torna a eleição de 2018 uma grande
incógnita. Com regras mal feitas, erros de Temer, temporada aberta de populismo
e crescimento da dívida pública, está se formando uma tempestade. O país
precisará de muita sabedoria para atravessar momento tão perigoso.”
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