“O buraco de R$ 800 bi
POR MÍRIAM LEITÃO
O país está acumulando um buraco
de R$ 815 bilhões de 2014 a 2020. Houve 16 anos de superávit, de 1998 a 2013. O
primeiro déficit foi em 2014, e o governo prevê contas no negativo até 2020.
Sair de um buraco desse tamanho é um dilema do país para além desta
administração. O governo prevê que as empresas estatais continuarão dando
déficit todos os anos.
Com o anúncio de terça-feira, o
governo Temer admitiu que não colocará o país nos trilhos, como havia
prometido. A promessa não era mesmo de se acreditar, ninguém achava que seria
uma ponte sobre o mar vermelho, mas havia uma expectativa de que fosse possível
reduzir ano a ano o tamanho do rombo. Agora já se sabe que nem isso acontecerá
e será um bom resultado ficar nesses R$ 159 bilhões de déficit este ano e no
próximo.
No anúncio, os ministros mostraram
a dura realidade dos números de um país em crise fiscal aguda, mas os políticos
do centrão não entenderam. E se preparam para retaliar na Comissão de
Orçamento. O governo não incorporou, por boas razões, várias propostas que eles
fizeram à LDO, que inclusive invadiam atribuições do executivo. Esses vetos, e
mais as medidas que impactam o funcionalismo, estão alimentando a reação dos
deputados, que alegam também razões políticas para a rebeldia velada. Acham que
não foram “prestigiados”. Por isso vão atacar onde for possível: no Refis, que
o governo tenta salvar de alguma forma, e na proposta de criação da TLP. Isso
sem falar na ameaça que fazem de não votarem a favor da revisão da meta. O
Congresso continua não entendendo em que momento estamos. A proposta do
deputado Vicente Cândido (PT-SP) de volta da doação oculta é suficiente para
mostrar que alguns representantes se mudaram para Marte. Menos transparência a
esta altura só pode ser piada.
Se o país nada fizer para mudar a
maneira como arrecada e gasta, vai revisitar perigos que já havia superado,
como o de que a dívida não seja paga. O Brasil viveu esse temor ao fim dos anos
1980 e, de fato, começou a década seguinte com o calote do governo Collor. Tudo
terá que ser olhado agora com mais cuidado para o país sair da armadilha em que
entrou. A recessão é uma das causas do déficit, mas não só. O superávit
primário começou a ser dilapidado nos bons anos, em que houve crescimento com a
criação de despesas que se eternizaram.
Será necessário fazer muito para
voltar a ter equilíbrio nas contas. Medidas difíceis, como fechar ministérios,
eliminar autarquias e vender empresas estatais. O Brasil tem quase 200 empresas
estatais. E a maioria é deficitária. Nas previsões do governo divulgadas esta
semana, as estatais federais darão prejuízo acumulado de R$ 13,4 bilhões até
2020. Muita gente acha que vender não resolve o problema porque o governo cria
apenas receita extraordinária. É verdade, porém, a privatização faz com que
sejam eliminadas despesas correntes permanentes. O ganho mais importante é a
despesa que não será feita.
As contas apresentadas pelo
governo na revisão da meta são até excessivamente otimistas em alguns pontos.
Um exemplo é a previsão de que os estados e municípios passarão a ter superávit
primário já no ano que vem, de R$ 1,2 bi. E isso apesar de receberem em 2018
menos R$ 8,5 bilhões de transferências federais. Os ministérios da Fazenda e
Planejamento preveem novo superávit de R$ 4,7 bilhões em 2019, para estados e
municípios, e outro de R$ 16,6 bilhões em 2020. Como conseguirão a façanha na
situação falimentar em que se encontram é um mistério que o governo não
explicou.
A principal emergência para o
ajuste das contas é o governo olhar exatamente quanto está gastando com os mais
ricos e eliminar esse custo. Dentro desse projeto é que está a TLP, contra a
qual alguns economistas têm se insurgido, estimulando os parlamentares que
querem um bom motivo para ficar contra um projeto que prejudica os empresários.
O objetivo da nova taxa de juros de longo prazo do BNDES é ir eliminando aos
poucos os absurdos, injustos e, por que não dizer, bizarros subsídios às
grandes empresas no país. É insensato continuar gastando tanto com os ricos num
país que tem tantas carências e tão grave desequilíbrio fiscal.”
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AGD comenta:
Quem leu o texto acima e, ao
mesmo tempo, sabe que os deputados querem mais de 4 bilhões de reais, no
próximo ano, para fazer campanha, só pode acreditar que o Brasil é o país do
futuro que nunca chega. Ora, se o presente está deste jeito como será nosso
futuro?
Já se sabe no entanto que a PEC
da Reforma Política teve votação adiada para terça-feira da próxima semana,
pois, o projeto do deputado petista, já sofreu tantas modificações que ninguém
entende mais nada dele.
Agora as propostas de remendo são
do tipo que podem ser explicadas por um exemplo. Num casamento inter-racial,
como os nossos, onde raça não passa de um detalhe, diferente dos Estados Unidos
onde ainda se briga por isso, a mãe quer um criança de tez branca enquanto o
pai quer uma criança de tez negra. Como não chegam a um acordo a câmara de
deputados propõe que nasça um criança mulata.
Agora poderemos ter um “semi-distritão” e um “fundão” pela metade.
E como diria um conhecido radialista: “Durma-se com uma bronca destas!”
Bem, não haveria problema neste
acordo se não tivesse um país inteiro por trás dizendo que não importa a cor da
criança e sim que ela nasça saudável e bem de saúde. O que não irá acontecer se
a Reforma Política não levar em conta a opinião do povo, de maneira para este
aceitável, sem tentar burlar os mais comezinhos princípios de moralidade.
Tudo que se viu até agora foram
pessoas reunidas tentando salvar seus mandatos. O que espero é que, em 2108,
seja lá qual for a reforma feita, aja um meio de votar quase como punição aos
culpados por uma má reforma. Será que haverá este jeito ou eles, na calada da
noite, taparão todos as brechas para não darmos nossa opinião.
Uma coisa é certa, enquanto a
reação do povo for de acomodação vai ser difícil sair do atoleiro em que fomos
metidos pelo PT e apaniguados. Se as metas fiscais hoje dizem que até 2020
ainda estaremos tapando o buraco de Dilma, imagine se o Lula voltar e começar
tudo de novo. Chegaremos a 2020?
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