“Lula joga com a morte
Por Merval Pereira
O ex-presidente Lula, na sua
campanha para poder se candidatar à presidência em 2018, tentando assim escapar
de uma possível prisão, deu uma declaração em conversa gravada em vídeo com um
deputado petista que resume bem sua disposição política atual. Embora
bombástica, não teve a repercussão que provavelmente buscava, talvez pela
desimportância do interlocutor, talvez pela postura claramente eleitoreira:
“Deixa eu dizer uma coisa a quem me persegue:
eu posso ser um bom candidato a presidente da República se for candidato; eu
posso ser um grande cabo eleitoral se não me deixarem ser candidato; e se
morrer como mártir, eu serei um grande cabo eleitoral”.
Fazendo uso de sua morte como um
instrumento eleitoral, assim como já fizera na morte de dona Marisa e, dias
antes, havia repetido que a Operação Lava Jato a matou, o ex-presidente Lula
chega a uma situação paradoxal em que especula sobre a morte como mártir
político justamente para tentar evitar essa situação limite.
Simula mais uma vez Getulio Vargas, que já foi
seu alvo e hoje é seu espelho. O Lula líder sindicalista defendia o fim da Era
Vargas, de quem dizia que, se foi o "pai dos pobres", era também
"a mãe dos ricos". Chegou a chamar a CLT, no início de seu primeiro
governo, de “AI-5 dos trabalhadores”.
Ser ou não ser mártir político
pode ser uma fabricação, lembra Maria Celina D'Araujo, cientista política do
departamento de Ciências Sociais, PUC-Rio e estudiosa do período varguista
desde os tempos do Cepedoc da FGV. “O conceito de mito político é uma criação
do início do século XX, recuperando a mitologia clássica e medieval. No
contexto da crítica à liberal-democracia, um grupo de pensadores, autoritários
e corporativistas, julgou necessário recuperar o peso dos símbolos e dos mitos
na ordenação política das sociedades humanas. A democracia de massas, a quem se
atribuía a responsabilidade pelos graves problemas da sociedade capitalista,
deveria ser substituída pelo “culto à personalidade”. As massas, o povo,
precisavam de líderes para conduzi-los e protegê-los”.
Quando Lula afirma poder
tornar-se um mártir, ressalta a cientista política, ele sabe que poderá
construir essa imagem por meio de seu partido e de intelectuais e jornalistas
que o apóiam caso seja condenado pela Justiça, ou impedido de concorrer a novas
eleições. Poderá ser imortalizado como “vítima das elites contrárias aos
interesses do povo”.
O mais importante para Maria
Celina, no entanto, é indagar se a política brasileira precisa acionar
conceitos tão antigos e tão pouco democráticos para pensar o seu futuro. “O
lamentável é continuar pensando a política em termos de revanche e vingança, de
mártires e infiéis, e não como instrumento para administrar o tão difícil
entendimento em busca do bem comum”.
Tanto Celina quanto Lira Neto, o
biógrafo de Getulio Vargas, citam as vezes em que Getulio ameaçou suicidar-se,
ficando claro que era uma obsessão dele quando a situação parecia
incontornável. Lira Neto lembra que Getúlio sempre manteve a ideia do que
chamava de “sacrifício pessoal” como alternativa para sair, com honra, sempre
quando confrontado em situações-limite: em 1930 quando comanda tropas contra o
governo de Washington Luiz, em 1932, quando irrompe a Revolução
Constitucionalista de São Paulo, em 1945, quando os militares o retiram do
poder encerando o Estado Novo e, finalmente, em 1954.
Para Celina, foi um suicídio
planejado, partilhado entre aliados, anunciado em bilhetes espalhados por seu
escritório. Foi consumado naquela ocasião porque, ao contrário das anteriores,
não havia alternativa de ganhar pelas armas, como em 1930 e 1932, nem havia a
possibilidade de “voltar nos braços do povo” como em 1945. Do ponto de vista
político, o suicídio foi um golpe de mestre. Fixou-se como mártir e mito. O
impacto disso sobre a democracia brasileira, contudo, foi mais radicalização.
Mas Lira Neto acredita que a fala
de Lula faz lembrar muito mais o “Ele disse”, quando Getúlio, derrubado do
poder em 1945, execrado do poder, transformado em mártir pelos adversários,
recomendou que seus eleitores votassem em Dutra.
O chamado mudou o rumo das
eleições, ressalta Lira Neto, quando faltava menos de uma semana para o povo ir
às urnas. O candidato favorito, Eduardo Gomes, antigetulista ferrenho, que
todos já consideravam eleito, foi derrotado clamorosamente. Getúlio, assim,
comprovou sua imensa popularidade.
Para Lira Neto, “Lula, talvez,
venha a fazer o mesmo. Se Moro prende Lula, o candidato que o líder petista apontar
como seu representante nas urnas terá imensa possibilidade de ser o próximo
presidente da República. Em suma: os adversários de Lula, que parecem
desconhecer História, estão brincando com fogo”.”
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AGD comenta:
A possibilidade apresentada pelo
imortal Merval Pereira acima de Lula cometer suicídio, como o fez Getúlio
Vargas, existe, mas, realisticamente, é um brincadeira. Comparar Getúlio com o
Lula é uma terrível “forçação de
barra”, como dizem os jovens.
O texto se baseia na seguinte fala
do Lula, como vocês leram acima:
“Deixa eu dizer uma coisa a quem me persegue: eu posso ser um bom
candidato a presidente da República se for candidato; eu posso ser um grande
cabo eleitoral se não me deixarem ser candidato; e se morrer como mártir, eu
serei um grande cabo eleitoral”.
Óbvio que ninguém quer a morte de
Lula, no sentido físico, mas, no sentido político, ele já deveria ter sido
enterrado, mesmo antes de criar os “postes” como Dilma, Haddad e outros pelo Brasil
afora. O país talvez estivesse em melhores condições do que o que está.
Um colaborador (agora de quando
em vez) o Zezinho de Caetés dizia que o lugar do seu conterrâneo, o Lula, seria
no Agreste Meridional de Pernambuco, onde nasceu, para purgar seus pecados de
ter dito defender os pobres num governo em que nunca os ricos ficaram tão
ricos. Vejam este exemplo, descrito por Miriam Leitão:
“As evidências se acumulam. Novos levantamentos esclarecem o grande
problema do Brasil. Aqui, a transferência de dinheiro público beneficia
especialmente os mais ricos, as grandes empresas. Mesmo o governo que falava em
justiça social manteve a política e a ampliou quando esteve no poder. A falta
de transparência é outro problema.
A “Folha de S. Paulo” mostra a expansão de gastos nos últimos 14 anos
com as grandes empresas através das reduções de impostos e empréstimos com
juros baixos, subsidiados. Enfim, o “Bolsa Empresário”. Dados do Ministério da
Fazenda, citados pelos repórteres Mariana Carneiro e Julio Wiziack, apontam R$
420 bilhões de subsídios embutidos em operações de crédito e financeiras. Isso
é mais do que o gasto no período com “Bolsa Família”, “Minha Casa, Minha Vida”
e no subsídio à conta de luz dos mais pobres.”
E o pior é que, com a derrocada
do governo Temer, isto parece continuar a acontecer, e ainda pode ser
considerado como herança petista. Então por que deveríamos chorar pela morte de
Lula, se ele mesmo usou a morte da mulher para fazer comício?
Mas, pensando bem, no suicídio de
Getúlio, eu fico tranquilo, porque a História, já diziam, só se repete como
farsa, e esta, é o Lula morto politicamente, levando o PT junto. Então a farsa
é muito mais provável...
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