Em manutenção!!!

terça-feira, 8 de agosto de 2017

"A História só se repete como farsa"




“Lula joga com a morte

Por Merval Pereira

O ex-presidente Lula, na sua campanha para poder se candidatar à presidência em 2018, tentando assim escapar de uma possível prisão, deu uma declaração em conversa gravada em vídeo com um deputado petista que resume bem sua disposição política atual. Embora bombástica, não teve a repercussão que provavelmente buscava, talvez pela desimportância do interlocutor, talvez pela postura claramente eleitoreira:

 “Deixa eu dizer uma coisa a quem me persegue: eu posso ser um bom candidato a presidente da República se for candidato; eu posso ser um grande cabo eleitoral se não me deixarem ser candidato; e se morrer como mártir, eu serei um grande cabo eleitoral”.

Fazendo uso de sua morte como um instrumento eleitoral, assim como já fizera na morte de dona Marisa e, dias antes, havia repetido que a Operação Lava Jato a matou, o ex-presidente Lula chega a uma situação paradoxal em que especula sobre a morte como mártir político justamente para tentar evitar essa situação limite.
 Simula mais uma vez Getulio Vargas, que já foi seu alvo e hoje é seu espelho. O Lula líder sindicalista defendia o fim da Era Vargas, de quem dizia que, se foi o "pai dos pobres", era também "a mãe dos ricos". Chegou a chamar a CLT, no início de seu primeiro governo, de “AI-5 dos trabalhadores”.

Ser ou não ser mártir político pode ser uma fabricação, lembra Maria Celina D'Araujo, cientista política do departamento de Ciências Sociais, PUC-Rio e estudiosa do período varguista desde os tempos do Cepedoc da FGV. “O conceito de mito político é uma criação do início do século XX, recuperando a mitologia clássica e medieval. No contexto da crítica à liberal-democracia, um grupo de pensadores, autoritários e corporativistas, julgou necessário recuperar o peso dos símbolos e dos mitos na ordenação política das sociedades humanas. A democracia de massas, a quem se atribuía a responsabilidade pelos graves problemas da sociedade capitalista, deveria ser substituída pelo “culto à personalidade”. As massas, o povo, precisavam de líderes para conduzi-los e protegê-los”.

Quando Lula afirma poder tornar-se um mártir, ressalta a cientista política, ele sabe que poderá construir essa imagem por meio de seu partido e de intelectuais e jornalistas que o apóiam caso seja condenado pela Justiça, ou impedido de concorrer a novas eleições. Poderá ser imortalizado como “vítima das elites contrárias aos interesses do povo”.

O mais importante para Maria Celina, no entanto, é indagar se a política brasileira precisa acionar conceitos tão antigos e tão pouco democráticos para pensar o seu futuro. “O lamentável é continuar pensando a política em termos de revanche e vingança, de mártires e infiéis, e não como instrumento para administrar o tão difícil entendimento em busca do bem comum”.

Tanto Celina quanto Lira Neto, o biógrafo de Getulio Vargas, citam as vezes em que Getulio ameaçou suicidar-se, ficando claro que era uma obsessão dele quando a situação parecia incontornável. Lira Neto lembra que Getúlio sempre manteve a ideia do que chamava de “sacrifício pessoal” como alternativa para sair, com honra, sempre quando confrontado em situações-limite: em 1930 quando comanda tropas contra o governo de Washington Luiz, em 1932, quando irrompe a Revolução Constitucionalista de São Paulo, em 1945, quando os militares o retiram do poder encerando o Estado Novo e, finalmente, em 1954.

Para Celina, foi um suicídio planejado, partilhado entre aliados, anunciado em bilhetes espalhados por seu escritório. Foi consumado naquela ocasião porque, ao contrário das anteriores, não havia alternativa de ganhar pelas armas, como em 1930 e 1932, nem havia a possibilidade de “voltar nos braços do povo” como em 1945. Do ponto de vista político, o suicídio foi um golpe de mestre. Fixou-se como mártir e mito. O impacto disso sobre a democracia brasileira, contudo, foi mais radicalização.

Mas Lira Neto acredita que a fala de Lula faz lembrar muito mais o “Ele disse”, quando Getúlio, derrubado do poder em 1945, execrado do poder, transformado em mártir pelos adversários, recomendou que seus eleitores votassem em Dutra.

O chamado mudou o rumo das eleições, ressalta Lira Neto, quando faltava menos de uma semana para o povo ir às urnas. O candidato favorito, Eduardo Gomes, antigetulista ferrenho, que todos já consideravam eleito, foi derrotado clamorosamente. Getúlio, assim, comprovou sua imensa popularidade.

Para Lira Neto, “Lula, talvez, venha a fazer o mesmo. Se Moro prende Lula, o candidato que o líder petista apontar como seu representante nas urnas terá imensa possibilidade de ser o próximo presidente da República. Em suma: os adversários de Lula, que parecem desconhecer História, estão brincando com fogo”.”

--------------
AGD comenta:

A possibilidade apresentada pelo imortal Merval Pereira acima de Lula cometer suicídio, como o fez Getúlio Vargas, existe, mas, realisticamente, é um brincadeira. Comparar Getúlio com o Lula é uma terrível “forçação de barra”, como dizem os jovens.

O texto se baseia na seguinte fala do Lula, como vocês leram acima:

Deixa eu dizer uma coisa a quem me persegue: eu posso ser um bom candidato a presidente da República se for candidato; eu posso ser um grande cabo eleitoral se não me deixarem ser candidato; e se morrer como mártir, eu serei um grande cabo eleitoral”.

Óbvio que ninguém quer a morte de Lula, no sentido físico, mas, no sentido político, ele já deveria ter sido enterrado, mesmo antes de criar os “postes” como Dilma, Haddad e outros pelo Brasil afora. O país talvez estivesse em melhores condições do que o que está.

Um colaborador (agora de quando em vez) o Zezinho de Caetés dizia que o lugar do seu conterrâneo, o Lula, seria no Agreste Meridional de Pernambuco, onde nasceu, para purgar seus pecados de ter dito defender os pobres num governo em que nunca os ricos ficaram tão ricos. Vejam este exemplo, descrito por Miriam Leitão:

As evidências se acumulam. Novos levantamentos esclarecem o grande problema do Brasil. Aqui, a transferência de dinheiro público beneficia especialmente os mais ricos, as grandes empresas. Mesmo o governo que falava em justiça social manteve a política e a ampliou quando esteve no poder. A falta de transparência é outro problema. 

A “Folha de S. Paulo” mostra a expansão de gastos nos últimos 14 anos com as grandes empresas através das reduções de impostos e empréstimos com juros baixos, subsidiados. Enfim, o “Bolsa Empresário”. Dados do Ministério da Fazenda, citados pelos repórteres Mariana Carneiro e Julio Wiziack, apontam R$ 420 bilhões de subsídios embutidos em operações de crédito e financeiras. Isso é mais do que o gasto no período com “Bolsa Família”, “Minha Casa, Minha Vida” e no subsídio à conta de luz dos mais pobres.

E o pior é que, com a derrocada do governo Temer, isto parece continuar a acontecer, e ainda pode ser considerado como herança petista. Então por que deveríamos chorar pela morte de Lula, se ele mesmo usou a morte da mulher para fazer comício?


Mas, pensando bem, no suicídio de Getúlio, eu fico tranquilo, porque a História, já diziam, só se repete como farsa, e esta, é o Lula morto politicamente, levando o PT junto. Então a farsa é muito mais provável...

Nenhum comentário:

Postar um comentário