“Delenda Lava Jato
Por Ricardo Noblat
Temer ficou porque era melhor
para todo mundo. Melhor para o Congresso acuado pela Lava Jato e interessado em
extrair vantagens de um presidente fraco. Melhor para a oposição que imagina
crescer batendo nele.
Melhor para os reais donos do poder
satisfeitos com a sua agenda de reformas. Melhor até para a maioria dos
brasileiros que o rejeita. Trocá-lo por quem? E a 15 meses de uma nova eleição?
As ruas não roncaram contra Temer
porque não são tão bobas. Em junho de 2013, o ronco repentino e espontâneo
surpreendeu governantes e partidos de todas as cores. Foi só um susto, contido
pela ação violenta da polícia e dos black blocs.
Movimentos como aquele, sem
líderes para conduzi-lo, sem pauta definida, esgotam-se como simples ventanias.
Por vezes funcionam como aviso. Foi o caso.
A partir de 2015, as ruas
roncaram forte contra Dilma pelas razões conhecidas – estelionato eleitoral,
governo desastroso, recessão econômica com o desemprego de mais de 15 milhões
de pessoas e a corrupção revelada pela Lava Jato.
O gatilho do impeachment foram os
gastos não autorizados pelo Congresso e a maquiagem das contas públicas, uma
clara violação da lei. De fato, Dilma caiu pelo conjunto da sua obra.
Temer foi acusado de corrupção.
Seria o verdadeiro destinatário da mala com R$ 500 mil entregues pelo Grupo JBS
ao então deputado Rocha Loures.
De fato, ele foi salvo por falta
de alternativa e pelo conjunto da sua obra – a lenta recuperação da economia, a
inflação quase negativa, a redução da taxa de juros, a compra de votos de
deputados e a promessa de reformas que se forem feitas já virão tarde e pela
metade.
Raros os deputados – Miro
Teixeira (REDE-RJ) foi um deles – que discutiram a fundo e votaram com
seriedade o pedido de licença para que a Justiça examinasse a denúncia de
corrupção contra Temer.
Não será diferente se ele for de
novo denunciado. É improvável que Rodrigo Janot tenha guardada alguma flecha de
prata. Mas de prata ou de chumbo, se disparada ela paralisará o Congresso outra
vez.
Neste país, corrupção não derruba
presidente. Getúlio Vargas matou-se ao concluir que perdera apoio político para
governar. Jânio Quadros renunciou para voltar depois como ditador. João Goulart
foi deposto por um golpe militar.
A morte impediu a posse de
Tancredo Neves. Fernando Collor governou de costas para os partidos. Se não
fosse por isso teria completado o mandato. Dilma, também. Temer foi mais
sabido.
A oposição ao governo havia
anunciado que negaria quórum à sessão da Câmara. Só entraria no plenário se o
governo tivesse conseguido reunir ali 342 deputados, o mínimo exigido para dar
início à votação. Não foi assim.
Entrou o líder do PT a pretexto
de participar da discussão da denúncia. Em seguida, mais três deputados do PT.
A porteira havia sido aberta. O governo celebrou. Só contava com 263 deputados
para votar.
Lula e Temer têm mais coisas em comum
do que parece. Juntos comandam a Operação Delenda Lava Jato, um rol de
iniciativas que visam a frear os avanços no combate à corrupção e, se possível,
revertê-los.
Contam para isso com a ajuda de
ilustres portadores de becas e de representantes das elites corruptoras e
corrompidas. O Brasil velho de guerra estrebucha e resiste a ser passado a
limpo. Continua de pé apesar das avarias.
A crise política ficou do mesmo
tamanho. Poderá crescer com o que ainda está por vir.”
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AGD comenta:
E hoje começa o segundo governo do
Temer, depois dos comes e bebes do “fico”. Não tem perspectiva de ser melhor que o
primeiro. Aliás, com o monte de governos que o Brasil vem tendo atualmente,
quase 1 por semestre, parece que a coisa está indo para baixo.
Eu, como todo brasileiro, fora a
oposição “quanto pior melhor”, desejo que ele acerte, pelo menos
naquilo a que se propôs no início do governo: As Reformas. Mais difícil? Sim,
certamente, será. Mas, quando se estar num barco afundando com todos, sempre há
negociações para partilhar algum salva-vidas.
E teremos outra semana cheia de
quiproquós políticos, que serão motivos de nossos preocupações, à espera de
2018, e espero, junto com a Lava Jato.
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