“Anda-se para trás
Por Mary Zaidan
O presidente da República respira
por aparelhos. Ministros da Corte Suprema metem o bedelho onde não devem,
preferem o som da própria voz à fala nos autos. Parlamentares empenham-se em
escapulir da Lava-Jato, em fazer leis para surrupiar mais dinheiro do
contribuinte e garantir caixa de campanha. Difícil imaginar saídas para um país
que agoniza em condições tão lastimáveis. Muito menos quando os “salvadores” em
campanha antecipada são o mesmo do mesmo. Até aqueles que se acham diferentes.
Apresentado como outsider, o
prefeito de São Paulo, João Doria, se vendeu na campanha de 2016 como gestor
exímio, em contraponto aos profissionais da política. Agora, rendeu-se à
partilha de cargos para atrair o PSB e o PR, repetindo no município o modelo de
coalizão que ele demonizava, e trocou a gerência da cidade por uma maratona de
viagens para angariar apoio de políticos tradicionais dentro do estilhaçado
PSDB e fora dele.
Foi se articular com o prefeito
de Salvador, ACM Neto (DEM), que carrega o nome do avô e sete décadas de
história na política conservadora da Bahia. Passou pelo Paraná, governado pelo
tucano Beto Richa, filho do governador e senador José Richa, e pelo Ceará do
senador Tasso Jereissati, presidente em exercício do PSDB, que governou seu
estado por dois mandatos. E tem mais uma dezena de viagens programadas.
E, assim como os piores políticos
que ele tanto criticava, Doria mente: faz joguete com a candidatura à
Presidência da República em 2018, à qual se lançou a todo vapor, fingindo não
postular a indicação para disputar o cargo. Ainda faz pose ao lado de seu
padrinho Geraldo Alckmin, candidato à mesma vaga, que hoje prova do veneno que
ele próprio formulou.
Alckmin não pretende encarnar o
novo. Nem poderia. Mas incrementou sua agenda de viagens a outros estados e tem
feito esforços para mostrar exatamente o inverso do que pregava quando inventou
o seu pupilo para a prefeitura paulistana: tenta disseminar que faltaria a
Doria o atributo experiência que ele, em seu terceiro mandato como governador
de São Paulo, exibe.
Jair Bolsonaro (PSC-RJ), deputado
federal desde 1991, também se imagina fora do grupo dos “famigerados” políticos
profissionais. Com discurso moralista, próximo ao fascismo, faz a alegria da
extrema direita, e pratica com o dinheiro público o que critica: tem usado a
cota de representação parlamentar para custear a sua pré-campanha, algo, para
dizer o mínimo, ilegal.
Marina Silva (Rede) que se
enxerga acima do bem e do mal, mas que costuma se esconder quando o caldeirão
ferve, aparece na TV pregando a “operação lava-voto”, entregando-se à pegadinha
marqueteira. E Ciro Gomes (PDT) abusa de sua língua ferina na luta para virar
notícia, ainda que esteja discursando para plateias de meia dúzia.
Empoleirado em palanques, Lula
está em campanha desde sempre. E lidera todas as pesquisas eleitorais nas duas
pontas – maior preferência e maior rejeição. Mas consegue reunir cada vez menos
gente em torno dele. Até no Nordeste, onde o PT esperava torcidas maiores e
mais comprometidas para a caravana reeditada que o ex começou na semana
passada, Lula brilha menos do que o PT e ele próprio imaginavam.
No discurso, repete a cantilena,
sempre na terceira pessoa, de que todos estão contra Lula, as elites e a mídia.
E se supera na egolatria. No passado, se comparou a Jesus; agora, no interior
da Bahia, aos deuses da bola: o argentino Messi, do Barcelona, e Neymar, nesse
caso ao assegurar que terá protagonismo nas eleições de 2018 mesmo se for
impedido pela Justiça de disputar o pleito. “Serei o cabo eleitoral mais
valioso deste país - como o Neymar está para o PSG eu estarei para eleições de
2018”.
Pode até ser, embora os fatos
apontem o inverso. Na primeira partida que disputou com a camisa do PSG, Neymar
jogou um bolão e marcou contra o Guingamp. Já Lula estreou com derrota do
candidato petista Jailson Souza nas eleições suplementares na pequena Miguel
Leão, interior do Piauí, para quem o ex gravou vídeo de apoio. Foi um desastre.
Lula vive em realidade paralela.
E os demais candidatos em campanha, todas elas personalistas, também não trazem
qualquer alento ao eleitor e ao país. Repete-se a mesmice. Ou pior, anda-se
para trás.”
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AGD comenta:
É uma tristeza que nossa região
seja a primeira escolhida pelo Lula para fazer campanha eleitoral para 2018.
Até quando o Nordeste estará atrelado ao descalabro petista? Será que vamos
ser, de novo, a região que fará o Brasil andar para trás?
É só uma pergunta e perguntar não
deveria ofender.
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