Por Carlos Sena(*)
O amor acaba como tudo que um dia
começa. Acaba porque se a vida não é eterna, como podemos querer nela um amor
infinito? Mas, segundo o poetinha, "que seja imortal posto que é chama,
mas que seja infinito enquanto dure"... A lógica da duração do amor - algo
como um prazo de validade é bem uma realidade palpável. Entender o amor nessa
lógica é, de certa maneira, eterniza-lo em seu prazo de validade. Mas, na
prática, os amores acabam abruptamente ou aos pouquinhos. Abruptamente quando
há mortes físicas; aos pouquinhos quando o cotidiano deita e rola na vida das
pessoas que se deixam levar pela rotina de casado ou quando o ciúme invade -
contexto equivocado de que amar uma pessoa é ser dona dela.
A vida é breve demais para sermos
donos um do outro em nome do amor. Contudo, há cuidados essenciais que podem
perenizar uma relação deixando-a com "ar" de infinitude. Esses cuidados
perpassam por fatos e situações tais como "não se esquecer nunca do
aniversário de casamento"; evitar situações em que se
tenha, excessivamente que pedir desculpas, pois elas, no geral, deixam rastros
de desgaste. Discutir sempre que os conflitos se instalarem, não
necessariamente na mesma hora - problemas requentados perdem o sentido e
favorecem a intelectualização. Não mentir. Mentiras tem "pernas
curtas". Talvez omitir, prudentemente, certas situações que a rigor só
levariam ao desgaste. Como se vê, o amor acaba mais no varejo do que no grosso.
Nesse viés, pode-se, tranquilamente, evitar que a relação seja engolida pela
rotina. Esta, não raro, leva os casais a não mais almoçar ou jantar fora; a
misturar a vida dos filhos em detrimento das suas; a não cumprir certos rituais
importantes como ter momentos com os amigos; lazeres independentes sem que
sejam no formato de badalação.
O amor se acaba no granel da vida
que leva pessoas a invadirem a privacidade do outro pelo simples fato de
estarem juntas, sob as mais variadas formas de convivência, inclusive união
homoafetivas. Tomar banho com a outra pessoa pode ser até erótico e fantasioso,
mas, há que se ter cuidado com as numerações 1 ou 2 que sempre devem acontecer
privadamente. Dai o nome privada.
Conjugar os viveres e os saberes
a dois não é fácil. Sob o mesmo teto menos ainda. Por isso muitos não dão conta
disso e sentem o casamento como uma prisão e não é bem assim. Há quem misture
amor com carência de mãe ou de pai. Há quem busque nele uma forma de sair de
casa, ou seja, passa de um jugo pra outro. Há, certamente, quem faz isso por um
grande amor que, de tão grande não cabe em si e separam.
No prisma do amor sob a égide da
liberdade, certamente que se aufere mais possibilidade de se cumprir o
"infinito enquanto dure", ou enquanto duro? Mas, independente do
tempo que dure ou do prazo de validade, amar vale a pena. No bojo desse
"valer a pena" há que se ter renúncia prazerosa em função do outro,
não perder o respeito nem mentir. O que advém dessa combinação, no geral,
permite sentir o amor na sua forma mais tranquila e sem os ditames da paixão.
Assim, o tempo do amor durar é aquele que seja bom para os dois. Porque para a
gente ficar junto os dois tem que querer. Pra separar, só um.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 21/03/2014
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