Por Carlos Sena (*)
O pior chá da política chama-se
CHÁ-furdação. Quem é honesto vira safado. Quem já ostenta alcunha de corno vira
viado. Mulher direita que se candidata se for casada vira gaieira, se for
solteira sapatão vira. Político festeja quando a pesquisa lhe favorece, mas
quando lhe desfavorece debocha dela e diz que a melhor pesquisa é a urna. Em
época de eleição esse CHÁ é tão poderoso que serve para levar candidato a botar
criança xexelenta no braço e posar pra foto junto de quem mais detesta: pobre.
O verbo da política é mesmo
CHAFURDAR, ou não? Porque tem coisa que é da lei mas, tem coisas da eLEIção.
Eleitor é paparicado no radio, na TV, no outdoor. Ele ainda ganha chapa de
dente, milheiros de tijolos, almoço no dia, aviamento de receita, enterro de
parente, tudo, desde que seja antes da eleição. Certo dia, após votar, um
eleitor chegou pros seus amigos e disse: "deixei de ser gente". De
fato. Porque quando a eleição passa o chá-furdação perde a validade. Com a
validade vencida, restará ao eleitor tijoladas na cabeça. Falar com a
autoridade eleita por telefone será quase impossível. Recebê-lo na sua casa
como antes ia pedindo voto, esqueça. Você deu (ou trocou) porque quis. Mas,
convenhamos, isso está mudando ou apenas o que muda é a forma não o conteúdo?
Acredito mesmo que o CHÁ-furdação
tenha melhores efeitos nos grotões, nos currais eleitorais que subsistem,
apesar da televisão e da internet. Nas cidades grandes, já se sente alguns
efeitos colaterais. Contudo, já existe CHÁfurdação ligth e diet. O ligth é
quando o político nos engabela e a gente só descobre isso depois, através do
nepotismo e outros ísmos. O diet é quando o caba (cão-didato) se passa por
santo, se elege e depois vira satanás de rabo com o rabo preso por tudo que é
de canto.
Portanto, resta ao eleitor perder
o hábito da empurroterapia. Esta não presta nem na farmácia, imagine na
política.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 16/04/2014
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