Por Thiago Santos
Lima
O ano foi o de 2007. A cidade, Zurique. O regabofe todo, bem
ao recém afamado padrão-FIFA, foi para anunciar o país sede da Copa de 2014. O
sortudo: o Brasil.
Para ser muito sincero, não me lembro de quase ninguém
falando mal dessa invenção na época. Pelo contrário, admitamos que a
brasileirada toda achou uma beleza trazer a festança do futebol pra cá. 2007,
ainda tempos áureos do governo Lula, quando o país era só otimismo e consumo às
pencas regado ao frisson do PAC, o anúncio da Copa selava com louvor a pretensa
pujança do país que doravante “emprestava dinheiro ao FMI”. E por isso mente
quem negar que ficou feliz quando Bonner e Fátima (sim, aquela que apresentava
o Jornal Nacional) anunciaram a novidade.
Dava na cara que o país não tinha infraestrutura para
aguentar o rojão. As estradas, os aeroportos e a mobilidade urbana era toda
capenga, bem ao padrão- Brasil, longe do nível internacional. Para piorar, nem
mesmo os estádios, palcos do show, eram dignos do evento. Mas, como a coisa já
estava apalavrada e pra tudo damos sempre um jeito, foi só destinar uns parcos
bilhões do orçamento para realizar a empreitada. Já que todo mundo queria o
negócio, se se precisasse de fiador, garanto que 99% por cento dos brasileiros colocariam
suas rubrica no contrato! Passando a euforia – tipo toda paixão – e batendo na
porta a crise de 2008, com a economia dando sinais de que não se sustentaria
lastreada apenas no crescimento do consumo, como induzia o governo, o povo
subitamente se enfureceu e passou a odiar tudo que lembrasse a Copa – mais ou
menos feito amante traído. Num instante, todos adquiriram consciência política,
forjaram a frasezinha “imagina na Copa” e começaram a compartilhar feito loucos
suas indignações no Facebook, posando agora de críticos do governo.
Somos muito sem vergonhas!
Isso mesmo, somos um bando de moleques ruins precisando de
uma surra boa. Porque, num intervalo menor que um ano, fomos da euforia ao
furor com a conversinha bonita de indignação política, fazendo de conta que
todas as coisas passaram à revelia. Tudo mentira. O discurso só mudou porque a
excitação acerca de nosso país apontava sinais de declínio, pois, apesar de
muitos avanços, ainda guarnecíamos o mesmo clientelismo, a mesma política
visceralmente corrupta e o mesmo povo molestado pela péssima gestão pública.
Éramos simplesmente os mesmos de sempre, estávamos apenas maquiados.
Voltávamos, porém, a sentir a catinga de nosso subdesenvolvimento. E foi isso
que nos irritou, e não a Copa. Daí em diante, exceto nos saraus do governo, da
FIFA e de Ronaldo Fenômeno, a Copa brasileira tem sido odiada do fundo do
coração por todos nós que temos imoralmente duas caras, que fomos incapazes de
sustentar a palavra de apoio ao governo até o fim – desse no que desse! – e que
agora tiramos o corpo à francesa, jogando comodamente toda a culpa em cima de
Brasília, negando covardemente nossa participação no feito. Fomos e somos
covardes.
Aí agora, para fechar o ato teatral, bebendo da banda podre
das manifestações de junho, aparece uma leva de vadios dizendo que vão impedir
a Copa. É só pra infernizar, típica coisa de quem não tem o que fazer. Impedir?
Impedir agora pra quê? As cidades já estão com seus BRTs e metrôs; as rodovias
foram duplicadas; os estádios estão
prontos. O dinheiro todo já está empregado, bem ou mal, em cada centímetro
cúbico de concreto. Inês agora é morta, digo, mortíssima! E a única coisa
prudente a se fazer é fazer a Copa e tentar lucrar com ela. Afinal, como bem
dizem os matutos, “prejuízo pouco é lucro”.
P.S.: Tenho medo, mas vou dizer: que venha o hexa!
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