Por Carlos Sena (*)
A primeira piada que escutei foi
na terrinha, nos tempos de grupo escolar. Um coleguinha de turma chegou e me
perguntou: "você sabe por que a mata é virgem"? Não, respondi. Porque
o vento é fresco, respondeu. Se um garotinho de hoje fosse contar essa piadinha
(ou pulha) seria ridicularizado com certeza. Mas, pra mim foi o máximo, pois eu
achei uma tirada muito inteligente e logo me incumbi de repassá-la com outros
amigos. Depois disso ninguém me segurou mais e hoje, língua solta, sentidos
aguçados, aprecio uma boa piada, notadamente se ela for instigante.
Independente de ser de salão, piada é piada. E piada boa tem que ser picante,
tem que ser de "arena", não se salão como apregoam os pudicos. Apenas
tem-se que ter certeza do tipo de pessoas com quem estamos trocando piadas ou
pulhas, ou "tiradas" como se diz nas rodas. Julgamentos a parte, fato
é que o ser humano é chegado a uma piada que, num passado não muito distante a
gente chamava anedota. Estas, eram prioritariamente de salão.
Voltando a questão da minha
primeira piada (ou anedota ou "tirada"), remeto-me aos tempos em que
não só eram as piadas que eram assim, meio simples e sem muita malícia. Esse
universo que naquela época foi tido e havido como de uma pedagogia atrasada,
conseguia nos fazer felizes com pouca coisa. Da mesma forma que se eu contar
essa piada para os meninos de hoje eles vão nos ridicularizar, igualmente nos
ridiculizariam se soubessem que eu levava banana, batata doce, milho assado,
laranja, para lanchar no recreio! E que no recreio a gente brincava de pular
corda, de garrafão, de "esconde-esconde" (sem malícia). Se eles soubessem
que a gente levava bilhetinho da professora para nossa mãe por algum malfeito
nosso e o que é pior: a gente entregava o dito bilhete, sabendo que poderíamos
levar um safanões. E das suspensões? Imaginem se eles souberem que a gente era
suspenso via portaria publicada nu mural da escola! Nessa época também, a gente
sempre se levantava quando entrava visita na sala de aula. O professor? Ave
Maria, era uma autoridade!
Saudosismo a parte, somos
sabedores que toda geração tem sua própria dimensão de valores. Só que os
valores dessa época, a despeito de serem objeto de uma pedagogia considerada
atrasada, rendiam frutos bons. A gente saia da escola com o sentimento do
respeito aos mais velhos, aos pais e professores. Sabia ler e escrever e
interpretar um livro. Isso a pedagogia moderna tão dimensionada por bons
professores, mas boa parte deles despreparados, não tem conseguido.
Infelizmente, os principais atores da chamada pedagogia moderna não conseguiram
livrar boa parte dos nossos jovens do mundo das drogas, da violência, da falta
de objetivo de vida. Nesse quinhão os pais são o "texto" dessa panela
tão mexida por pessoas que fazem da educação proselitismo e auto-promoção.
Assim, a piada inicial foi apenas um mote para falar da seriedade com que a
pedagogia atrasada era dimensionada.
Por que pedagogia atrasada? Ora,
se a de hoje é moderna a de ontem foi atrasada, ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 07/04/2014
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