Por Carlos Sena (*)
O Brasil se consternou com a
morte de José Wilker. Rico e famoso, ele conseguiu ir além por conta do talento
e do bom caráter. Foi um artista perfeito, na opinião dos colegas que,
inconformados, lamentavam sua morte assim, meio que de repente. Vejo e lamento
a morte de Wilker no particular, mas, no geral, bem que ela poderá servir para
muita gente que vive a vida como se um “Rei tivesse na sua barriga”. Artistas
dos mais diversos segmentos se nutrem do estrelismo que os leva a imaginar
serem imortais diante da grana da fama e do prestígio. Políticos também,
executivos que se iludem com cargos públicos ou privados e se esquecem que a
vida é uma passagem. Para onde essa “passagem leva” cada pessoa deve saber ou
acreditar conforme sua cultura, credo, ensinamentos. Fato é que quem nasce
morre e que caixão de defunto não tem gavetas, como popularmente a gente diz.
A morte é a única certeza que
temos depois de nascidos, mas muitos preferem ignorar, bater na madeira, fazer
figa, usar amuletos, quando se fala nela, na morte. Nossa cultura nos prepara
para a vida como ela não é, ou seja, passageira. Por isso a gente sempre se
surpreende quando perdemos alguém que gostamos ou um ídolo que a mídia nos fez
“íntimos” dele. Quando a gente chora por alguém que morre é por nós que choramos,
ou não? Neste sentido, a doutrina espírita Kardecista está invadindo
silenciosamente os grandes centros urbanos. Enquanto doutrina ela nos ensina a
ser pacientes com o outro e compreendê-lo conforme os merecimentos. Exercitar o
perdão e a paciência com o nosso próximo é um pouco da arte de compreender a
vida na sua transitoriedade.
O homem moderno, diante das
benesses tecnológicas e científicas tende a se ligar mais nos bens de consumo
como alternativa e objetivo de vida. Belo dia a morte, democrática que é, chega
e “pimba” – leva o caba pro outro lado da eternidade. O dinheiro não serviu pra
muita coisa, muito menos o prestígio e o talento artístico de alguns. Irônica,
essa vida, ora direis. E eu vos digo que também acho. Porque a vida deixa de
ser assim, irônica, quando a gente consegue ter dinheiro sem lhe dar maior
valor do que tem; porque a vida deixa de ser assim, irônica, quando a gente
utiliza o dinheiro em função do outro e de quem nos cerca. Sendo simples,
talvez a gente alcance o primeiro e mais importante degrau da vida sem apegos.
Assim, quando a morte nos chegar abruptamente ou aos pouquinhos, a gente vai
tranquilo pela certeza de que cumprimos o nosso ciclo aqui na terra. Essa
lição, muitos artistas como Suzana Vieira e outros poderiam aprender.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 07/04/2014
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