Por Zezinho de Caetés
O Zé Carlos me informa, através de imeio, que meus escritos
estão entre os mais lidos da AGD. Eu fico lisonjeado e agradecido, mas, também
frustrado. Frustrado por saber que aqueles que me leem, o fazem para ler aquilo
que está depois do que escrevo. Então eu sou lido mais como um “citador” do que como um escritor, com
opiniões próprias. Mas, a frustração faz parte da vida como uma emoção
qualquer. Já até, no passado, escrevi por conta própria, mas só deu em debates
imensos pela minha pretensão de aportuguesar a língua portuguesa (veja o “imeio” acima, que alguns queriam
e-mail), e deixei de lado. Agora pensei outra vez em escrever sozinho.
No entanto, quando a decisão já estava quase tomada,
apareceu o texto do Ruy Fabiano, abaixo transcrito (publicado no Blog do Noblat
em 24/05/2014 com o título: “Um gol
contra”) ao qual não resisti, e continuo a escrever narizes-de-cera,
tentando fazer com que a cera tenha o meu cheiro, quando possível.
O texto trata de um tema que será do momento até meados de
julho: A Copa do Mundo. E da camisa de vara em que o Lula e o PT se meteram
quando trouxeram, ao som de trombetas e fanfarras, o torneio para o Brasil. E
agora, como sempre acontece com o PT, que as coisas não estão indo bem em
relação ao que deveria ser feito para que o país anfitrião não passasse vexame,
e pode levar nossa “pátria em chuteiras”
a vestir o pijama e ir dormir com medo de mijar na cama ou no Maracanã, pela
absoluta falta de capacidade administrativa de nossos governantes, se diz, como
justificativa que naquela época era certo, mas, veio a crise... E blá, blá, blá
... blá, blá, blá.
Esta justificativa é a mesma para a compra de uma sucata de
refinaria pela Petrobrás, nos Estados Unidos, por um exorbitância financeira,
pelos projetos da Refinaria Abreu e Lima (acrescentando a desculpa de que a
culpa é do Chávez, porque morreu), do Minha Casa Minha Vida, cujos imóveis já
estão em fase de cair, dois anos depois de feitos, e de tantas outras mazelas,
que não passam apenas de incompetência de nossa gerenta presidenta.
O Ruy Fabiano diz que foi um gol contra de Lula. Eu já digo
que seu tiro, tido como certeiro em 2007, saiu pela culatra e vai atingir o
poste que ele próprio fincou no Palácio do Planalto, e a bala talvez ricochetei
e atinja o Eduardo Campos. E, por está vendo o fiasco que pode ser o maior
torneio de futebol do mundo, ele, o Lula, está tentando fugir da raia com
sempre fez, dizendo para a gerenta presidenta: toma que o filho é teu. Mas, não
se enganem, o “Volta Lula” não
morreu. Não porque o Lula deseje, mas, porque pode ser necessário, e forçado
pelo seu partido, se o poste continuar dando com os burros n’água.
Nem o Eduardo acredita ainda que o Lula não volte. Nesta
segunda, vi no programa Roda Viva, o nosso ex-governador se contorcer mais do
que minhoca no cio, para não responder a pergunta se será ainda candidato, se o
Lula voltar. Como ele, já havia desfeito os acordos com o Aécio, forçado por
Marina, em Minas Gerais, eu já defini minhas posições na eleição presidencial
de outubro próximo, ganhe ou não o Brasil a Copa. Minha definição é pelo lado
negativo. Não votarei em candidatos do PT, e isto inclui o Lula mesmo que ele
mude para o DEM. E agora não votarei no Eduardo, apenas porque sei, se o Volta
Lula der certo, ele correrá da parada. A definição do lado positivo ainda não
tenho. Quem sabe ainda aparecerá alguém, até lá? Ronaldo o Fenômeno, talvez.
Fiquem com o texto do Ruy Fabiano, que eu vou preparar
minhas bandeirolas para os dias de jogos. Aqui onde moro ainda não vi nenhuma
bandeira nas janelas das casas, como em copas anteriores. Serão que já tem como
certo que o Lula é um pé-frio contumaz?
“É emblemático (e surpreendente) que justamente o futebol – “a pátria
em chuteiras”, segundo Nélson Rodrigues – tenha se transformado no símbolo da
rejeição popular aos desmandos do status quo governamental.
Ninguém – nunca, jamais – poderia supor que uma sociedade tão desigual,
com interesses tão diversificados, se uniria num coro comum e indignado contra
uma Copa do Mundo em solo nacional – que, desde sempre, tinha efeito exatamente
oposto.
A Copa do Mundo era o único momento em que o país se sentia uma nação,
com um elo unificador, que levava seus cidadãos a vestir-se com as cores
nacionais e a ostentar a bandeira do país. Divergências clubísticas,
regionalistas, desapareciam.
O Brasil tornava-se um só. Nenhum outro evento o unia de tal forma.
Podia-se dizer que, se não éramos ainda uma pátria, éramos ao menos um time.
Não se trata de elogio ou crítica, mas de uma constatação. Só a Copa nos unia.
Foi embalado por essa realidade que o governo Lula se empenhou em
trazer esse evento para o Brasil. Muniu-se de algumas celebridades nacionais –
Pelé, Ronaldo Fenômeno e Paulo Coelho – e deu início a um lobby que resultou
triunfal. Disputou com países influentes, como Espanha e Inglaterra – e venceu.
Tudo foi calculado dentro de uma lógica cartesiana: ano de eleição,
país do futebol, dividendos políticos para o governo, promotor do evento. Saiu
pela culatra. Descartes, no Brasil, não iria muito longe. E política, aqui e em
toda parte, não é exatamente um jogo lógico, racional. Ao contrário, nutre-se
do imponderável.
A exigência do padrão Fifa, que tornou nossos estádios – inclusive o
Maracanã, “o maior do mundo” – anacrônicos como o Coliseu, expôs aos olhos do
público velhas práticas de nossa vida pública: superfaturamento das obras,
licitações de araque (depois, inclusive, dispensadas por lei, em nome da
aceleração das obras) e quadruplicação dos orçamentos inicialmente previstos.
Não bastasse, a manipulação política do evento, distribuindo-o por mais
de vinte cidades – a maioria sem expressão futebolística, como Brasília –,
impôs a construção de estádios (agora chamados de arenas) monumentais que, na
sequência, não terão serventia – não nas proporções em que foram construídos.
As cifras estonteantes não tardaram a gerar o efeito comparativo. Um
país com péssima rede hospitalar, escolas lastimáveis, professores
mal-remunerados, com déficit de habitação etc. etc., gastando fortunas com um
evento desnecessário.
Por mais que o governo se esforce em argumentar que há ganhos
colaterais bem mais expressivos – e ainda que isso seja verdade -, é impossível
vencer o poder simbólico dessa argumentação: o confronto entre prioridades.
As carências nacionais são antigas e sempre se argumenta que não há
recursos para atendê-las. Mas, diante de uma Copa, o dinheiro logo aparece.
Surgem arenas magníficas, removem-se habitações pobres e tudo o que possa
enfeá-las, promete-se realocar os despejados e coisas do gênero.
A mensagem explícita: quando se quer fazer alguma coisa, não há
obstáculo. Por que tal iniciativa não ocorre em relação a temas essenciais,
como saúde, educação e segurança, prioridades mencionadas por todos os
candidatos em todas as eleições?
O futebol (quem diria?) acabou trazendo à tona questões antigas – e
sérias -, em analogias inesperadas, que tornaram o evento não uma festa, mas
quase uma provocação. É claro que interesses político-eleitorais buscam tirar
proveito da indignação geral, mas isso não a torna menos real e legítima.
O PT, que esperava ver no discurso de abertura da “Copa das Copas” sua
presidente e candidata em momento triunfal, já a excluiu da solenidade de
abertura. Sabe que a vaia será inevitável, como, aliás, já ocorreu na abertura
da Copa das Confederações. Dilma não discursará, talvez nem compareça.
A Copa foi um gol contra, com efeitos políticos e prováveis reflexos
futebolísticos. O Brasil já não é o mesmo. O futebol, quem diria, está sendo o
veículo da mudança.”
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