Por Carlos Sena (*)
Envelhecer é prêmio. Mas, para
muitos, castigo. Se entendermos que muitos morrem jovens, envelhecer é um
prêmio. Independente de julgamentos, envelhecer se reveste mais de júbilo do
que o contrário. Isto partindo do pressuposto de que se ninguém é eterno, ficar
idoso é pomposo. Essa pompa não exclui as dificuldades próprias dessa fase da
vida tão cheia de limitações; não exclui o sentimento de que toda idade tem seu
encanto; e que mesmo na juventude há mares cheios de tormentas que na velhice
isso é difícil ocorrer. Envelhecer com dignidade é sobremaneira ter sido uma
criança livre, um jovem entusiasta e feliz, um adulto responsável. Quando
dizemos que podemos ser como vinho que quanto mais velho melhor, estamos
ratificando essas fases todas que nos desabrocharam na maturidade. Ou na
velhice. Nunca na terceira idade. Nem tampouco na boa idade. Porque não podemos
compactuar com essas formas disfarçadas de benevolência quando, a rigor, não
passam de "discriminação branca" por conta da moda do politicamente
correto. Um idoso de setenta anos não tem setenta anos, dependendo do ângulo de
visão, senão vejamos: pedindo licença a Cora Coralina, "até 70 anos ele
tem todas as idades". Viram como fica diferente o contexto?
Sabemos que há pessoas que com o
passar do tempo, por não conseguirem ser melhores, ao invés de vinho viram
vinagre, envilecem. Porém, interessa-nos o envelhecer como prêmio -
consequência natural da vida que, se bem aproveitada conduz a uma existência
feliz a despeito das naturais limitações. Um idoso feliz vê sempre o "copo
da vida meio cheio". Quando ele se esquece das coisas, lembra-se que só
esqueceu porque não tinha importância. Prefere entender que sua memória é
seletiva. Sempre entende a vida pela "lucro" que estar vivo somando
idades proporciona.
Certamente que os idosos tem
momentos de depressão, principalmente quando a família começa a fazer mágica
com eles: ele fala e ninguém escuta. Ele entra e ninguém o vê. Esquecem de
chamá-lo para as refeições. Dificilmente são incluídos nas viagens, etc. Mesmo
assim, se o idoso tiver tido um vida feliz tira isso de letra e nos ensina que
envelhecer não é "envilecer", apesar de tantas limitações e
preconceitos.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 22/04/2014
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