Por Carlos Sena. (*)
Sempre ouvi dizer que religião,
futebol e política não se discute. Acho que tudo é discutível, desde que não se
pratique o exercício da paixão em nenhum tema desses. Na partida entre Sport e
Fortaleza, vi uma moça com uma faixa: "SPORT É MINHA VIDA". Diante
desse absurdo, quem está louco de ensaiar qualquer discussão? Primeiro porque
eu acho que quando o ser humano chega a dizer isso, dentro dele há um fosso
afetivo enorme. Também uma grande ignorância acerca do futebol e suas tramóias,
cartolagens, traquinagens e tudo mais. Talvez falte a uma pessoa dessas um
grande amor na vida. Mas, é felizmente problema dela.
Voltando a vaca fria da discussão
é interessante o sentido lúdico das tiradas dos torcedores. O Náutico é
ironizado por como a torcida das Barbies. O SPORT como uma torcida chata, meio
sexta básica de torcedores de todas as classes. O Santa como uma torcida
popular, mais para o Náutico do que para o SPORT. O SPORT sempre seca o Santa e
o Náutico e estes secam o SPORT. Quanto às cores, fico pensando: como podem
seres humanos se apaixonar por cores? Mas, paixões não tem explicações e são
próprias dos humanos e suas elocubrações. Ou não?
Acho que sim. Senão vejamos:
torcedor do SPORT adora vermelho e preto. Náutico, vermelho e branco. Santa os
três juntos. O certo seria todos torcerem pelo Santa. Ou anta, mas, não é assim
que a paixão se processa, ora direis! Também acho. Mas é que discutir cores é
como discutir amores. Só que amores a gente tem concretamente, cores nem
sempre. Senão o arco-íris seria time de futebol com torcida universal.
Outro dia me disseram que eu
tinha cara de torcedor do Náutico. Havia uma pontinha de malícia nisso, mas eu
tiro de letra e ainda assoletro. De fato torço pelo Náutico sem ser fanáutico.
No meu arremate retórico (puxei a meu pai) o caba ficou sem assunto. Respondi:
torço pelo Náutico. Porque todo mundo nasce Náutico e depois degenera. Como
assim, fui perguntado e respondi: TODO MUNDO TEM NO SEU SANGUE GLOBOS BRANCOS E
VERMELHOS! Houve um silêncio e ninguém quis mais prosear acerca. Chupem essa
manga, pensei.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 13/04/2014
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