Por Zezinho de Caetés
Na última sexta-feira (25/04/2014) o Fernando Gabeira saiu
de sua sunga de crochê, que já não era mais verde e entrou definitivamente na
briga pela corrida presidencial, e agora do lado certo. Isto é, do lado
contrário de onde está o PT, pelo menos para os que sabem ler e tentam se
informar.
Num texto, chamado de “Bom
dia, Cinderela”, no Estadão ele desanca o PT, a Dilma e seu criador, o meu
conterrâneo Lula. O impressionante do texto é a forma fácil como o autor nos
coloca os fatos que já estávamos cansados de saber, mas com uma dose de expertise na escrita que tudo nos parece
novo e mágico. O resumo da ópera é a verdade nua e crua, nossa cinderela, a
Dilma, já era, e o Lula está indo embora (ah, como gostaria que ele ficasse de
vez em Portugal, onde está colocando titica de galinha pela boca, sobre o
mensalão). Para incentivar a leitura do texto, coloco aqui um de seus
parágrafos mais interessantes:
“Dilma, com a queda
continuada nas pesquisas, sai da área de conforto e cai no mundo em que os
candidatos dependem muito de si próprios e não contam com vitória antecipada
pelo peso da máquina. Será a hora de pôr de novo em xeque a onipotente tática
de eleger um poste. Nem o poste nem seu inventor hoje conseguem iluminar sequer
um pedaço de rua. Estão mergulhados no escuro e comandarão um exército de
blogueiros amestrados para nublar as redes sociais. Com a máquina do Estado, o
prestígio de Lula, muita grana em propaganda e na própria campanha eleitoral, o
governo tem um poderoso aparato para enfrentar a realidade. Mas essa abundância
de recursos não basta. Num momento como este no País, será preciso horizonte,
olhar um pouco adiante das eleições e estabelecer um debate baseado no respeito
às evidências.”
Parafraseando o
grande represetante da “esquerda caviar”,
o Chico Buarque, quando ele fazia o que sabia, compor músicas, eu diria “o mundo passou na janela e só a Dilma não
viu”. Seu governo é um verdadeiro descalabro. Nunca antes, na história
deste país, com dizia o Lula Pinóquio, se viram tantos erros cometidos. Desde o
mensalão, e a descoberta do nosso chavismo tupiniquim, passando pelos problemas
que se apresentaram para realizar uma Copa do Mundo, para apresentar ao mundo
uma mentira, e agora terminando nos desmandos da Petrobrás, e sabe lá Deus mais
o que, nos próximos meses. Se o PT tivesse feito alguma coisa de bom pelo país,
ela já acabou com ela e ainda deve muito ao povo.
E agora, como se percebe facilmente, não há outro jeito, a
não ser continuar enganando o povo, porque se a presidenta gerenta não se
eleger, nas próximas eleições o PT terá tantos eleitores quanto PC do B tem
hoje. É muita fadiga para material ruim. O grau de aparelhamento do Estado é
tanto, que se retirarem todos os petistas dos cargos comissionados, a renda de
Brasília cairá pela metade, e noutras cidades irá a zero. No entanto, isto
seria bom porque a serviço público, com o pessoal que restasse poderia
funcionar de alguma forma, o que hoje é impossível.
Chegamos à grande evidência de tudo que se alardeou através
da propagando oficial era um mentira deslavada, pregada pelo nosso Pinóquio
maior. A saúde, a educação, a habitação, o transporte, a mobilidade urbana, é
tudo pior do que há 12 anos atrás. Se fosse exemplificar isto não seria um
nariz de cera para o texto do Gabeira e sim o principal, que fica para depois.
Agora fiquem com ele e pensem no que nos pode acontecer se elegermos o poste
outra vez, já que agora, além de não dá a luz, está com um monte de fios
desencapados.
“As pesquisas eleitorais recentes mostram Dilma Rousseff em queda.
Quando se está caindo, a gente normalmente diz opa!. Não creio, porém, que
Dilma vá dizer opa! e recuperar o equilíbrio. Além dos problemas de seu
governo, ela é mal aconselhada por Lula nos dois temas que polarizam a cena
política: Petrobrás e Copa do Mundo.
São cada vez mais claras as evidências de que se perdeu muito dinheiro
em Pasadena. Lula, no entanto, não acredita nas evidências, mas nas versões. Se
o seu conselho é partir para a ofensiva quando se perdem quase US$ 2 bilhões, a
agressividade será redobrada quando a perda for de US$ 4 bilhões e, se for de
US$ 6 bilhões, o mais sábio será chegar caindo de porrada nos adversários antes
que comecem a reclamar.
Partir para a ofensiva na Copa do Mundo? Não é melhor deixar isso para
os atacantes Neymar e Fred? Desde o ano passado ficou claro que muitas pessoas
não compartilham o otimismo do governo nem consideram acertada a decisão de
hospedar a Copa.
O governo acha que sufoca as evidências. O próximo passo desse
voluntarismo é controlar as evidências. O papel do IBGE e do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por exemplo, começa a ser deformado pelo
aparelhamento político. Pesquisas que contrariam os números de desemprego são
suspensas. E o Ipea foi trabalhar estatísticas para Nicolás Maduro, que
acredita ver Hugo Chávez transmutado em passarinho e, com essa tendência ao
realismo mágico, deve detestar os números.
Controlar as evidências, determinar as sentenças pela escolha de
ministros simpáticos à causa, tudo isso é a expressão de uma vontade
autoritária que vê a oposição como vê os números desfavoráveis: algo que deva
ser banido do mundo real. A visão de que o País seria melhor sem uma oposição,
formada por inimigos da Petrobrás e por gente que torce contra a Copa,
empobrece e envenena o debate político.
Desde o mensalão até agora o PT decidiu brigar com os fatos, e isso
pode ter tido influência na queda de Dilma nas pesquisas. O partido foi
incapaz, embora figuras como Olívio Dutra o tenham feito, de reconhecer seus
erros. Está sendo incapaz de admitir os prejuízos que sua política de alianças
impôs à Petrobrás ou mesmo que a Copa do Mundo foi pensada num contexto de
crescimento e destinava-se a mostrar nossa exuberância econômica e capacidade
de organização a todo o planeta. Gilberto Carvalho revelou sua perplexidade:
achava que a conquista da Copa seria saudada por todos, mas as pessoas atacaram
o governo por causa dela.
Bom dia, Cinderela. O mundo mudou. Dilma e o PT não perceberam, no seu
sono, que as condições são outras. Brigar com os fatos num contexto de
crescimento econômico deu a Lula a sensação de onipotência, uma crença do tipo
"deixa conosco que a gente resolve na conversa". Hoje, em vez de
contestar fatos, o PT estigmatiza a oposição como força do atraso. Ele se
comporta como se a exclusão dos adversários da cena política e cultural fosse
uma bênção para o Brasil. A concepção de aniquilar o outro não é vivida com
culpa por certa esquerda, porque ela se move num script histórico que prevê o
aniquilamento de uma classe pela outra. O que acabará com os adversários é a
inexorável lei da história, eles apenas dão um empurrão.
Sabemos que a verdade é mais nuançada. O governo mantém excelentes
relações com o empresariado que financia por meio do BNDES e com os
fornecedores de estatais como a Petrobrás. Não se trata de luta de classes, mas
de quem está se dando bem com a situação contra quem está ou protestando ou
pedindo investigações rigorosas contra a roubalheira, na Petrobrás ou na Copa.
A aliança do governo é aberta a todos os que possam ser controlados,
pois o controle é um objetivo permanente. Tudo o que escapa, evidências, vozes
dissonantes, estatísticas indesejáveis, tudo é condenado à lata de lixo da
História. Felizmente, a História não se faz com líderes que preferem partir
para cima a dialogar diante de evidências negativas, tanto na Petrobrás como na
Copa ou no mensalão. Nem com partidos incapazes de rever sua tática diante de
situações econômicas modificadas.
Dilma, com a queda continuada nas pesquisas, sai da área de conforto e
cai no mundo em que os candidatos dependem muito de si próprios e não contam
com vitória antecipada pelo peso da máquina. Será a hora de pôr de novo em
xeque a onipotente tática de eleger um poste. Nem o poste nem seu inventor hoje
conseguem iluminar sequer um pedaço de rua. Estão mergulhados no escuro e
comandarão um exército de blogueiros amestrados para nublar as redes sociais.
Com a máquina do Estado, o prestígio de Lula, muita grana em propaganda e na
própria campanha eleitoral, o governo tem um poderoso aparato para enfrentar a
realidade. Mas essa abundância de recursos não basta. Num momento como este no
País, será preciso horizonte, olhar um pouco adiante das eleições e estabelecer
um debate baseado no respeito às evidências.
Esse é um dos caminhos possíveis para recuperar o interesse pela
política. No momento, a resposta ao cinismo é a indiferença com forte tendência
ao voto em branco ou nulo. Embora a oposição também seja parte do jogo, a
multidão que dá as costas para a escolha de um presidente é uma obra do PT que
subiu ao poder, em 2002, prometendo ampliar o interesse nacional pela política,
mas conseguiu, na verdade, reduzi-lo dramaticamente. Para quem se importa só
com a vitória eleitoral, essa questão da legitimidade não conta. Mas é o tipo
de cegueira que nos mantém no atraso político e na ilusão de que adversários
são inimigos. O PT comanda um estranho caso de governo cujo discurso nega o
próprio slogan: Brasil, um país de todos. De todos os que concordam com a sua
política.
Até nas relações exteriores o viés partidário sufocou o nacional,
atrelando o País aos vizinhos, alguns com sonhos bolivarianos, e afastando-o
dos grandes centros tecnológicos. Contestar esse caminho quase exclusivo é
defender interesses americanos; denunciar corrupção na empresa é ser contra a
Petrobrás; assim como questionar a Copa é torcer contra o Brasil.
Bom dia, Cinderela, acorde.
Em 2014 você pode se afogar nos próprios mitos.”
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