Por Zezinho de Caetés (*)
Dediquei meu tempo hoje a ouvir com as “oiças” e ler com estes “óios”
que a terra há de comer. Não posso dizer que perdi meu tempo com nenhuma das
duas atividades. Na primeira, passei duas horas vendo a entrevista do meu
conterrâneo Lula aos blogueiros “camaradas”. Não dá para comentar todos os
assuntos que foram tratados pelos blogueiros e mesmo seria impossível
acompanhar tudo que o Lula disse. Mas eu já sabia, como fala este rapaz. É pena
que não tenha havido o contraditório para todas as respostas, embora eu não
conheça a maioria dos blogueiros presentes.
No entanto, uma coisa ficou líquida e certa, o Lula evoluiu
muito, e não digo desde criança porque seria muito óbvio. Apenas me refiro à
forma como ele responde as perguntas, com conhecimento dos assuntos, mesmo que
eu não concorde com muitas delas. Por exemplo, quando ele diz que “o povo está mais sabido, e não serve de
massa de manobra”, eu, se lá estivesse teria dito: “Menos aqueles que ainda vivem do assistencialismo governamental, que
foi cooptado vergonhosamente, ao invés de esclarecido para uma escolha justa,
mesmo ganhando a Dilma”.
Digo também que ele talvez não tenha evoluído no seu
pensamento mais íntimo desde 1979 quando concedeu uma entrevista à revista
Playboy, da qual reproduzo uma parte abaixo:
“(…)Playboy – Há
alguma figura de renome que tenha inspirado você? Alguém de agora ou do
passado?
Lula [pensa um pouco]-
Há algumas figuras que eu admiro muito, sem contar o nosso Tiradentes e outros
que fizeram muito pela independência do Brasil (…). Um cara que me emociona
muito é o Gandhi (…). Outro que eu admiro muito é o Che Guevara, que se dedicou
inteiramente à sua causa. Essa dedicação é que me faz admirar um homem.
Playboy – A ação e a
ideologia?
Lula – Não está em
jogo a ideologia, o que ele pensava, mas a atitude, a dedicação. Se todo mundo
desse um pouco de si como eles, as coisas não andariam como andam no mundo. (…)
Playboy – Alguém mais
que você admira?
Lula [pausa, olhando
as paredes] - O Mao Tse-Tung também lutou por aquilo que achava certo, lutou
para transformar alguma coisa.
Playboy – Diga mais…
Lula – Por exemplo… O
Hitler, mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor
a fazer alguma coisa e tentar fazer.
Playboy – Quer dizer
que você admira o Adolfo?
Lula – [enfático] Não,
não. O que eu admiro é a disposição, a força, a dedicação. É diferente de
admirar as idéias dele, a ideologia dele.
Playboy – E entre os
vivos?
Lula [pensando] – O
Fidel Castro, que também se dedicou a uma causa e lutou contra tudo.
Playboy – Mais.
Lula – Khomeini. Eu
não conheço muito a coisa sobre o Irã, mas a força que o Khomeini mostrou, a
determinação de acabar com aquele regime do Xá foi um negócio sério.
Playboy – As pessoas
que você disse que admira derrubaram ou ajudaram a derrubar governos. Mera
coincidência?
Lula [rápido] – Não,
não é mera coincidência, não. É que todos eles estavam ao lado dos menos
favorecidos.
(…)
Playboy – No novo Irã,
já foram mortas centenas de pessoas. Isso não abala a sua admiração pelo
Khomeini?
Lula – É um grande
erro… (…) Ninguém pode ter a pretensão de governar sem oposição. E ninguém tem
o direito de matar ninguém. Nós precisamos aprender a conviver com quem é
contra a gente, com quem quer derrubar a gente. (…) É preciso fazer alguma
coisa para ganhar mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas
se importar com a maioria dos contentes.”
Na mesma entrevista ele ainda fala das mulheres. Leia
Lucinha, quando ele reproduz uma fala da Marisa e dá sua opinião sobre isto:
“MARISA - Um tinha boa
intenção, outro, intenção ruim. E acabei conquistada pelo que tinha intenção
ruim. Mas ele era gamado, viu? Vivia dependurado no telefone [gargalhada de
Lula]. Eu só fugia, dizia que estava ocupada, que tinha de trabalhar, mas, no
fim, acabava atendendo.
LULA - Charminho dela…
O problema de mulher é você conseguir pegar na mão. Pegou na mão…”
Como a entrevista era à revista Playboy, não poderia faltar
o sexo. Depois que li o texto do Diretor Presidente de ontem (veja aqui),
vou seguir o conselho dele e ver a novela Araguaia. Mas, vejam o que o Lula
diz:
“Playboy - Com que
idade você teve sua primeira experiência sexual?
Lula - Com 16 anos.
Playboy - Foi com
mulher ou com homem?
Lula (surpreso) - Com
mulher, claro! Mas, naquele tempo, a sacanagem era muito maior do que hoje. Um
moleque, naquele tempo, com 10, 12 anos, já tinha experiência sexual com
animais… A gente fazia muito mais sacanagem do que a molecada faz hoje. O mundo
era mais livre…”
Aí está o meu amigo de infância em carne, osso e molecagem,
da qual privamos juntos por um bom tempo lá na Vargem Comprida. Eu...
O fato dele não citar os meus textos, que sei que ele lê, é
apenas um detalhe. Mas, de qualquer forma, quando ele receber mais uns 10
títulos de Doutor Honoris Causa, a Lucinha Peixoto não vai mais poder chamá-lo
de apedeuta-mor. Se tiverem minha paciência vejam o vídeo completo. Eu sei, eu
sei, não precisam repetir que para ouvir o Lula falar duas horas, é preciso ter
sido seu amigo de infância, pois sei que é dose para elefante. Mas esta atividade
de blogueiro também exige sacrifícios. Para uma resumo interessante clique
aqui .
A minha segunda atividade foi ler mais um artigo da série do
professor José Fernandes, “A Revolução de
Caetés – 2”. Eu nem sei se serei um contra-revolucionário, pois ainda penso
que, mesmo citando o meu nome o Caetés a que ele se refere pode ser a dos
antigos habitantes de nossa cidade vizinha, “Olinda, a marim dos Caetés”. Mas isto eu deixo para outro dia, pois
o professor merece mais do meu tempo. No entanto, seria impossível citar o Lula
acima, e não citar o professor José Fernandes, quando escreve, ao comentar uma
promessa dos revoltosos de Canudos: “Quanto ao fornicar, eu penso diferente: a
gente não fornica por vício. Fornica porque é bom e faz bem. Um colega costumava
dizer, muito seriamente, que uma fornicada perdida hoje, não se recupera nunca
mais. Porque a de amanhã já é outra.” Nisto, eu, o professor e o Lula, estamos
todos de acordo.
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(*) Diante do feriado e procurando aproveitá-lo nos dias
santos usei os textos da amiga Lucinha Peixoto para camuflar minha ausência.
Hoje, dia de Tiradentes, fui ao Blog da CIT, sempre uma fonte de inspiração, e,
ao colocar o nome do nosso heróis encontrei o texto acima, que fala de
Tiradentes apenas de passagem, mas, por tratar-se do meu amigo Zezinho de
Caetés falando sobre um famoso conterrâneo seu em 25/11/2010 (pela atualidade,
parece que foi ontem). Resolvi publicá-lo aqui para não deixar os leitores do
blog na mão (no bom sentido, é claro). Administrador da AGD.
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