Por Carlos Sena (*)
Aniversário todo mundo faz, pois
afinal, não nascemos via chocadeira. Particularmente não curto isso, mas não
tem nada de psicanalítico. Apenas não fui socializado nessa lógica do consumo
que tudo comemora. Mesmo porque, de família pobre no interior, a minha família
não nos acostumou com isso. A bem da verdade, nem mesmo meus colegas ricos ou
assim como eu, não tínhamos essa prática. Muitas vezes, lá em casa, a gente se
esquecia mesmo o aniversário de um ou
outro irmão. Afinal, eram 9 – pela proa e, diante de um mundo livre em que
vivíamos comemorar aniversário perdia de dez, por exemplo, de um bom jogo de
bola, esconde-esconde (no bom sentido), bola de gude, jogar dama, xadrez, barra
bandeira, queimado, gritar palhaço quando tinha circo na cidade, subir serras e
descê-las, tomar banho de bica, etc., nos credenciavam certamente a entender
que fazer aniversário seria mesmo um detalhe de somenos importância.
Contudo, na cidade grande, logo
se entra na onda. Na onda de coisas boas e de coisas que para muitos são boas,
mas para alguns outros não. Não gosto de comemoração de aniversário. Não acho
graça. Mas, como sempre o “ultimo pinto é sempre na cueca” nem sempre a gente evita que os amigos (os bons) nos encham de
afagos. E afagos sinceros. Porque dentro de nós a gente sabe quem gosta de nós
por nós e que nos gosta por fora detestando por dentro. Tenho sorte de ter
muitos amigos na primeira alternativa. Prova de que não gostar de festa de
aniversário não é por conta disso, mas por conta de não ter conta. Quando é só
entre a família e os mais chegados, até que se leva mais na esportiva. Ruim é
quando a gente ocupa cargos públicos. Aqui e acolá a gente ouve os que não gostam
da gente: “eu que não dou cota pra aniversário de ninguém” ou coisas
parecidas. Tento compreender tudo isso e
no “balanço” chego a conclusão que não é a festa que prefiro, embora com tantas
redes sociais a gente fica sem privacidade até mesmo para esconder sua data de
nascimento (se alguém não souber fiz 63).
Diante disso e dos bons e maravilhosos amigos que tenho, fez-se uma
comemoração “às escondidas”. Mas gorou. Logo no dia do meu aniversário, vazei.
Acordei com mal estar e não deu outra: naquele dia (ontem) eu estava vazado.
Nada entrava pela boca, mas tudo saia pelo fiofó. O coitado chega ficou
irritado de tanto vazamento pela glútea região sonora do corpo (duas bandas e
um conjunto). Mas a festa foi linda. Intimista e só com gente do meu coração, sem,
claro, faltar a pessoa que comigo dorme/e acorda. Minha família tava lá, todos,
menos eu que tava vazando, literalmente no vazo. O telefone não parou de tocar.
Aliás, já nem tocava, pois na minha cabeça mais parecia um “incelença” ou um
ponto de macumba em dia de sexta feita. Levaram-me a Prontolinda que de pronto
não tem nada e de linda só porque fica em Olinda. Passado o dia, estou em casa
ainda me recuperando, mais “RE-CU” do que perando. Contudo foi bom. Os amigos
comeram e beberam a cântaros. Mamãe ficou feliz com sua casa cheia e a única
barriga que não foi enchida foi a minha, porque se pela minha boca nada entrou,
pelo fiofó tudo saiu. O quê eu não sei...
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 29/01/2014
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