Por Carlos Sena. (*)
Em todo carnaval, no Recife, não
me canso de registrar a enorme quantidade de homens que se vestem de mulher.
Nada contra e nem poderia. Mas, sempre há um mais! Retruco: por que não se vê
uma só mulher vestida de homem? É aí que a porca psicanalítica torce o rabo. O
rabo da complexa auto-afirmação machista; o rabo complexa imaginação de ser
"mulher" no carnaval quando a mulher, para a grande maioria dos
homens continua sendo por eles vitimadas. Ora pelo pelo próprio machismo, ora pela falta de companheirismo,
ou simplesmente, pela equivocada e ultrapassada concepção de mulher como sendo
do sexo frágil. Em sendo frágil, podem bater nelas, agredir, matar, etc. Ou
não? Outro rabo? Talvez seja o rabo que fica de fora quando o armário fecha.
Ora, em estando armário fechado durante um ano inteiro talvez não custe nada
para muitos homens que se vestem de mulher no carnaval, estarem ali com as
"frangas soltas". As virgens do Bairro Novo, segundo corre a boa
miúda, ficaram "rachadas" ao ponto de, atualmente existiram duas
VIRGENS. Uma delas é a de Verdade! Tudo isso, certamente, porque havia um
patrulhamento no sentido de que viado, frango, bicha, homossexual e
assemelhados, não ousasse se "infiltrar por lá. Se verdade ou mentira não
sabemos, mas há certa lógica nisso. Porque se há uma Virgem de verdade é porque
a outra é de mentira, ou não? Como se vê até dentro das agremiações existe
preconceito. Preconceito esquisito, considerando que no carnaval, até as
frangas podem ser soltas abertamente e conviver com todos os galos e frangos e
galinhas...
Mas. Retomando o "mas",
o que me encafifa é o fato de não se ver em nosso carnaval mulheres vestidas de
homem. Será que elas são mais assumidas como mulheres do que os homens? Ou será
que nossos homens, assoberbados de machismo, não estão apenas deixando passar
suas inseguranças afetivas por debaixo das indumentárias femininas? Cada um que
pode tirar suas conclusões, mas que há muita Fanta se passando por Coca-Cola no
carnaval, isso há. Quem quiser pode fazer a seguinte prova: quando, no
carnaval, for passando um homem vestido de mulher, dê uma deidade no seu fiofó.
Ele não vai reagir sem violência como talvez algumas mulheres reagissem. O pau
canta. Ele recupera o machismo e perde o sentimento lúdico do carnaval. Ou não?
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 23/02/2014
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