Por Carlos Sena. (*)
Ousar, o que seria isso quando se
escreve par bulir (bulicuntu)? Pois é isso que imagino seja o ofício de mexer
com as letras e lhes dar vida - literalmente corpo e alma. Por isso fiquei
feliz quando muitos diletos amigos e meus assíduos leitores me disseram, dentre
outras coisas que sou buliçoso no que escrevo. A minha felicidade em saber
disso se consolida no fato de que, no meu entender, não se pode escrever sem
ser provocativo, mesmo quando focamos temas leves, crônicas suaves. Certamente
que há quem não goste dos meus palavrões. Mas eu gosto, até porque tenho a certeza
de que ele, o palavrão, depende mais de cada um, pelo princípio da relatividade
cultural. Porque, a rigor, diante de uma topada, nunca vi ninguém dizer
"aí meu Deus", mas um PUTA QUE PARIU, certamente.
O compromisso com o bem escrever,
acredito, não dispensa um bom domínio da língua. Como não dispensa o autor de
ter uma capacidade para elaborar sempre um "elemento surpresa" para
ajudar o leitor a se interessar mais ainda pelo que esteja lendo.
Romper paradigmas, buscar ângulos
de visão pouco óbvios da realidade concreta, são outros importantes elementos
de um texto escrito, principalmente na modalidade "crônica"ou prosa
de modo geral. Há quem me ache irreverente, debochado, bocudo, meio pornô. E
isso pra mim é bom, porque eu processo as palavras a tiracolo da moral e da
falsa-moral. Porque na vida, "todo mundo quer ir para o céu, mas ninguém
quer morrer" e nós sabemos, rigorosamente que "não se faz omelete sem
quebrar os ovos, nem tampouco entender que o último pingo não seja o da cueca"...
Os ditos populares não são por acaso que se consolidaram. Eles são uma
excelente fonte de sabedoria que, bem utilizados, render reflexão. Para
encerrar essas elucubrações, convido-os a refletir sobre os pavões. Todos os
acham lindos, pois seus esplendor de cores e penas belas, não nos leva a ver os
seus pés. Os pés dos pavões, são terríveis de feio, mas poucos o vêem, porque a
gente sempre se liga mais no que nos rende glamour. Pois é. Há pessoas-pavão. A
gente só vê os seus "horrorosos" pés com a convivência. Por isso
adoro essa capacidade de ser buliçoso com o que escrevo.
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(*) Publicado no Recanto de
Letras em 18/02/2014
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